Por: Geraldo Maia do Nascimento
Um dos objetivos da pesquisa histórica é comunicar uma compreensão dos acontecimentos passados, com base em documentos e relatos. Nas últimas semanas temos refletido sobre a saga do povo de Mossoró na defesa da cidade contra o bando de cangaceiros chefiados por
Lampião, que tentou invadir a cidade em 13 de junho de 1927. E essas reflexões são baseadas na leitura de vários livros e dezenas de artigos sobre o assunto.
Nas semanas anteriores falamos da participação, no evento, do Cel. Gurgel, do motorista Gatinho e do gerente do Banco do Brasil Jaime Guedes, todos consagrados e homenageados como Heróis da Resistência. Com base no livro “A Marcha de Lampião – Assalto a Mossoró” do Dr. Raul Fernandes, que era filho do prefeito Rodolfo Fernandes, livro essa já na sua sétima edição, percebemos que os “atos heróicos” praticados por esses personagens são, digamos assim, não justificáveis, até porque alguns não se encontravam nem na cidade no momento da invasão.
Hoje voltamos nossa atenção para a participação de duas mulheres que, embora não constem em nenhum livro como “Heroínas”, de repente passaram a fazer parte da galeria existente no Memorial da Resistência, apesar do protesto de vários estudiosos do assunto. São elas: “Maria do Carmo Galvão (Carminda) e Sinhá Rosa, ambas domésticas da casa do prefeito Rodolfo Fernandes. Vejamos o que diz Raul Fernandes sobre essas senhoras:”12 de junho fora dia afanoso para o Prefeito, já com várias semanas de ingentes sacrifícios. Seu casarão transformara-se numa praça d’armas. O desassossego entrava pela noite. Pequena patrulha de civis e mensageiros faziam refeições na sua residência, em horas incertas. As domésticas Carminda e a preta Sinhá Rosa trabalhavam sem descanso, há muitos dias. Tresnoitavam”. ( A Marcha de Lampião, Raul Fernandes, 2ª edição, pág. 118). O autor, em nota, faz a seguinte observação: “Maria do Carmo Galvão, conhecida por Carminda, empregada de confiança da casa de meus pais. Mulher valente, que manejava bem o rifle.”
Essa nota do autor, com certeza, foi a responsável pela inclusão dessas duas senhoras na Galeria dos Heróis da Resistência. Uma simples menção que uma dela “manejava bem o rifle” foi suficiente para que as duas domésticas fossem elevadas à condição de heroínas. Volto a perguntar: se essas senhoras, pelo fato de terem “tresnoitado” na casa do prefeito preparando comida, na condição de domésticas, para as diversas patrulhas de civis e mensageiros que ali passaram a fazer refeições foram consideradas heroínas da resistência, como devemos classificar aquelas pessoas que arriscaram suas vidas nas trincheiras e platibandas das casa, expostos a “chuva de bala” que caia para todo lado? Super Heróis, talvez.
Quero deixar bem claro que não é minha intenção manchar a honra desse ou daquele que tem sido homenageado como “Heróis da Resistência”. Pretendo sim, como estudioso do assunto, separar o joio do trigo, o fato da lenda, com intuito único de valorizar os verdadeiros “HERÓIS”. Como diriam os intelectuais, “Fictio fingit vera esse quae vera non sunt” (A ficção finge serem verdadeiras as coisas que não o são).
Geraldo Maia do Nascimento
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