Por: Rubens Antonio
"No ano de 1929, morava na fazenda Cajazeiras, no Município de Itiúba... Lampião passou perto de onde eu morava, na fazenda Campinhos, região de Quicé. Lá, entrou em diversas casas. Em uma delas foi na de Joaquim. Nesta casa, ele agrediu o velho Joaquim. Nesse tempo não existia guarda–roupa e Lampião foi até o baú e começou a jogar os panos no chão. Quando Joaquim viu disse:
– O capitão! Não jogue os panos no chão não!
Lampião pegou o fuzil e deu uma pancada na cabeça de Antônio Joaquim. Nesta mesma casa tinha uma moça com o cabelo comprido. E Lampião virou-se para ela e disse:
– Porque não corta o cabelo para ficar bonita?
– Meu pai não gosta que eu corte o cabelo.
Então ele disse:
– Você faz muito bem em não cortar o cabelo. É muito bonito.
A moça estava com umas argolas bonitas e ele quis tirar as argolas das orelhas da moça. E o irmão da moça, por nome João, disse:
– Ô capitão dê licença. Eu tiro as argolas dela e lhe entrego.
Os cangaceiros vasculharam tudo atrás de dinheiro. Acharam o dinheiro escondido dentro de umas cabaças velhas escondidas debaixo de um painel de farinha, pois, naquele tempo não existia banco. Tinha um filho de seu Joaquim casado de novo. A casa dele ficava no terreiro do pai. Uma casa muito bonita, decente e bem construída. Os cangaceiros agarra-no e pediram dinheiro. Ele respondeu que não tinha. Passaram uma corda no pescoço dele para amarrar no cabo do cavalo e arrastar o rapaz. A esposa ficou gritando para soltarem-no que ia buscar o dinheiro. Foi até a casa e pegou quinze contos de réis e deu a Lampião que soltou o rapaz resmungando:
– Não tem dinheiro o quê?! Seu cabra descarado!
Depois desse acontecido, Lampião pediu para colocar um banco no terreiro, perto do cavalo, para ajudá-lo a subir na montaria, pois estava carregado com cartucheiras de bala, fuzil nas costas e aqueles cantis de alumínio, para carregar água. Quando ele saiu da casa de seu Joaquim, a casa ficou cheirando tão mal que tiveram que lavar a casa com água e creolina, pois os homens não tomavam banho, não mudavam de roupa cheia de poeira, sangue de gente e perfume. Lembro-me de tudo. E, na época, eu tinha mais ou menos oito anos.
Me escondi muito em uma roça, atrás da casa. Um dia, de madrugada, chegou alguém chamando:
- Seu João! Seu João!
Meu pai responde:
- Quem é que fala?
O rapaz respondeu:
- É João Basílio! Venho lhe avisar que Lampião vem aí!
O rapaz morava na fazenda Boa Vista. Dentro de casa, todo mundo ficou alvoroçado. Minha avó era uma mulher de uns oitenta anos e meu pai disse:
- Levanta que é pra gente correr.
– Eu não vou não. O que é que o Lampião quer comigo?
– Não, senhora! Levante e vamos embora!
Só se via gente pegar coberta. Esteira de baixo do braço. Os cachorros, amarramos a boca para não latir. Para encurtar a história, ficamos uns três dias no mato. Soubemos que ele estava em Queimadas. Voltamos para casa. O povo contava que Lampião andava com uma agenda com o nome dos fazendeiros. Quando ele passou por lá, nessa época, andava com um guia. E ele perguntava para o rapaz:
- Onde é a fazenda do Zuza da Cajazeira?
Esse Zuza era meu tio e o rapaz que andava guiando-os respondeu:
- Ah, Capitão. Já ficou muito para trás.
– E onde fica a fazenda de João Rafael?
– Ah, Capitão. Também ficou muito para trás.
– E a fazenda de Antônio Rafael?
– Ah, Capitão... Ficou muito para trás.
– Não tem nada não. Na volta, a gente passa lá...
Esses três eram irmãos.
Por causa dessa conversa que meu tio soube, largou a casa muito boa e passou seis meses no mato, num rancho de palha com medo.
De vez em quando, mandava um menino ir olhar lá na fazenda, se não tinha rastro de cavalo.
Depois que Lampião desceu da fazenda Campinhos, passou perto de Cajazeiras, da Fazenda Barras, no sopé da Serra do Souza. Ele foi para a Varzinha.
Disseram que mandou um dos bandidos pesquisar Itiúba, mas, naquela época, estava cheio de homens. Onde tem o posto do Jackson era um grande pé de juazeiro cheio de dormentes, aqueles troncos usados na linha férrea.
Ali, tinha mais de um homem armado esperando Lampião.
Dizem que o bandido retornou e disse para Lampião que a cidade estava cercada e não dava para entrar, pois, se entrassem, morriam.
Além dos soldados que aqui existiam, vinham pessoas de outros lugares, que o Coronel Aristides Simões mandava buscar, para reforçar a cidade...
Essas pessoas eram chamadas de “contratados”.
Eu sei que vieram algumas pessoas de Formosa, perto do Chorroxó, como Simplício e Berto.
Capitão Aristides apoiou-os, pois viu que eram homens dispostos... Aqui ficaram e constituíram família."
– O capitão! Não jogue os panos no chão não!
Lampião pegou o fuzil e deu uma pancada na cabeça de Antônio Joaquim. Nesta mesma casa tinha uma moça com o cabelo comprido. E Lampião virou-se para ela e disse:
– Porque não corta o cabelo para ficar bonita?
– Meu pai não gosta que eu corte o cabelo.
Então ele disse:
– Você faz muito bem em não cortar o cabelo. É muito bonito.
A moça estava com umas argolas bonitas e ele quis tirar as argolas das orelhas da moça. E o irmão da moça, por nome João, disse:
– Ô capitão dê licença. Eu tiro as argolas dela e lhe entrego.
Os cangaceiros vasculharam tudo atrás de dinheiro. Acharam o dinheiro escondido dentro de umas cabaças velhas escondidas debaixo de um painel de farinha, pois, naquele tempo não existia banco. Tinha um filho de seu Joaquim casado de novo. A casa dele ficava no terreiro do pai. Uma casa muito bonita, decente e bem construída. Os cangaceiros agarra-no e pediram dinheiro. Ele respondeu que não tinha. Passaram uma corda no pescoço dele para amarrar no cabo do cavalo e arrastar o rapaz. A esposa ficou gritando para soltarem-no que ia buscar o dinheiro. Foi até a casa e pegou quinze contos de réis e deu a Lampião que soltou o rapaz resmungando:
– Não tem dinheiro o quê?! Seu cabra descarado!
Depois desse acontecido, Lampião pediu para colocar um banco no terreiro, perto do cavalo, para ajudá-lo a subir na montaria, pois estava carregado com cartucheiras de bala, fuzil nas costas e aqueles cantis de alumínio, para carregar água. Quando ele saiu da casa de seu Joaquim, a casa ficou cheirando tão mal que tiveram que lavar a casa com água e creolina, pois os homens não tomavam banho, não mudavam de roupa cheia de poeira, sangue de gente e perfume. Lembro-me de tudo. E, na época, eu tinha mais ou menos oito anos.
Me escondi muito em uma roça, atrás da casa. Um dia, de madrugada, chegou alguém chamando:
- Seu João! Seu João!
Meu pai responde:
- Quem é que fala?
O rapaz respondeu:
- É João Basílio! Venho lhe avisar que Lampião vem aí!
O rapaz morava na fazenda Boa Vista. Dentro de casa, todo mundo ficou alvoroçado. Minha avó era uma mulher de uns oitenta anos e meu pai disse:
- Levanta que é pra gente correr.
– Eu não vou não. O que é que o Lampião quer comigo?
– Não, senhora! Levante e vamos embora!
Só se via gente pegar coberta. Esteira de baixo do braço. Os cachorros, amarramos a boca para não latir. Para encurtar a história, ficamos uns três dias no mato. Soubemos que ele estava em Queimadas. Voltamos para casa. O povo contava que Lampião andava com uma agenda com o nome dos fazendeiros. Quando ele passou por lá, nessa época, andava com um guia. E ele perguntava para o rapaz:
- Onde é a fazenda do Zuza da Cajazeira?
Esse Zuza era meu tio e o rapaz que andava guiando-os respondeu:
- Ah, Capitão. Já ficou muito para trás.
– E onde fica a fazenda de João Rafael?
– Ah, Capitão. Também ficou muito para trás.
– E a fazenda de Antônio Rafael?
– Ah, Capitão... Ficou muito para trás.
– Não tem nada não. Na volta, a gente passa lá...
Esses três eram irmãos.
Por causa dessa conversa que meu tio soube, largou a casa muito boa e passou seis meses no mato, num rancho de palha com medo.
De vez em quando, mandava um menino ir olhar lá na fazenda, se não tinha rastro de cavalo.
Depois que Lampião desceu da fazenda Campinhos, passou perto de Cajazeiras, da Fazenda Barras, no sopé da Serra do Souza. Ele foi para a Varzinha.
Disseram que mandou um dos bandidos pesquisar Itiúba, mas, naquela época, estava cheio de homens. Onde tem o posto do Jackson era um grande pé de juazeiro cheio de dormentes, aqueles troncos usados na linha férrea.
Ali, tinha mais de um homem armado esperando Lampião.
Dizem que o bandido retornou e disse para Lampião que a cidade estava cercada e não dava para entrar, pois, se entrassem, morriam.
Além dos soldados que aqui existiam, vinham pessoas de outros lugares, que o Coronel Aristides Simões mandava buscar, para reforçar a cidade...
Essas pessoas eram chamadas de “contratados”.
Eu sei que vieram algumas pessoas de Formosa, perto do Chorroxó, como Simplício e Berto.
Capitão Aristides apoiou-os, pois viu que eram homens dispostos... Aqui ficaram e constituíram família."
Enviado pelo professor e pesquisador do cangaço:
Rubens Antonio
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