Por: Clerisvaldo B. Chagas = Crônica Nº 821
Tem início hoje o novenário em homenagem a Senhora Santana, padroeira de Santana do Ipanema, estado de Alagoas. Há décadas, a festa da avó do Cristo continua arrebanhando multidões, notadamente na procissão de encerramento.
Entretanto, queremos destacar, não a festa, tão decantada por nós, mas as formações rochosas do sertão denominadas lajeiros. Querem trocar os nomes de lajeiro por lajedo, de imbu por umbu, mas continuamos a valorização do que é nosso, encaixando sempre nesses trabalhos as belas expressões nativas. Belas expressões, belíssimos lajeiros que afloram em toda a região do semiárido nordestino. Pequenos, médios, grandes, enormes, os lajeiros vão fazendo pausas na vegetação contínua, como brincos de prata nas orelhas da caatinga. Muitos são côncavos, afunilados, alongados, esculpidos, chamados, pias, pilões, pedra d’água... Suas rachaduras horizontais ou panelões verticais ajudam bastante o abastecimento d’água em tempos de estiagem. Bebem os humanos, os bichos e, ainda colaboram na lavagem de roupa em fazendas e povoados.
Existe o lajeiro completamente limpo, sem vegetais e nem esconderijos. Encontramos, porém, inúmeros deles semeados de urtigas, xiquexiques, macambiras, coroas-de-frade e mesmo alastrados, facheiros mandacarus ou altíssimas craibeiras que se formam em pequenos espaços de areias e fendas. Diz à música que “é no pé do lajeiro onde a onça mora”, mas também a cobra, o preá, o mocó, a raposa e outros bichos, pequenos e minúsculos. Alguns deles são altos, oferecem panoramas belíssimos e que são até explorados pelo Turismo. Pontos de encontros amorosos, os lajeiros nordestinos serviram de acampamento para as longas caminhadas de ciganos, cangaceiros, almocreves, beatos e romeiros que percorriam os sertões a pé ou a cavalo. Muitas vezes no sertão verde da caatinga, o viajante se depara bruscamente com a formação granítica como ilha branca no meio do “verdume”. Os mandacarus erguem os braços e o Sol da tardezinha mergulha nas montanhas por trás dos seus braços esguios. Só saudade pura e uma vontade da gota serena de fazer amor.
Em recente pesquisa para o nosso pequeno grande livro “Negros em Santana”, com os coautores Marcello Fausto e Pedro Pacífico V. Neto conseguimos capturar belas imagens de lajeiros. Pelo menos uma está servindo de papel de parede no computador e age como remédio relaxante. É a ilustração acima, do sítio Laje dos Frades, bem perto do povoado Pedra d’Água dos Alexandres de onde Moreno entrou no Cangaço; de onde surgiu a cangaceira Maria de Pancada e de onde o cangaceiro Cruzeiro foi levar a cangaceira Aristéia para se entregar em Santana do Ipanema. Um exemplo, apenas de LAJEIROS DO SERTÃO.
Extraído do blog do Romancista Clerisvaldo B. Chagas.
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com.br/2012/07/lajeiros-do-sertao.html
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