Por: Geraldo Maia do Nascimento
Na
próxima terça-feira, 25 de setembro, se vivo fosse, o professor Jerônimo
Vingt-un Rosado Maia completaria 92 anos de idade de uma vida dedicada à
cultura da região denominada por ele mesmo como \"O País de
Mossoró\". Seus feitos sempre são lembrados como editor da maior coleção
de livros do país (Coleção Mossoroense), como fundador e incentivador de
diversas bibliotecas e museus e fundador da Escola Superior de Agricultura de
Mossoró - Esam. Nada se fala, no entanto, da sua luta em prol do petróleo
mossoroense. E foi uma luta árdua, para um jovem de pouco mais de vinte e cinco
anos de idade, que usando as armas que sempre lhe foram peculiar, enfrentou
mais uma batalha em prol de Mossoró.
O
envolvimento de Vingt-un Rosado com o petróleo mossoroense começou em 1945,
quando o então soldado padioleiro 494 da Companhia Escola de Engenharia sediada
na cidade mineira de Ouro Fino tomou conhecimento de um artigo elaborado em
1922 pelo norte-americano John Casper Branner e outro redigido pelo geólogo
brasileiro Luciano Jacques de Morais em 1929 em que se falava da possibilidade
de existência de petróleo no Rio Grande do Norte, mais precisamente na cidade
de Mossoró.
Conhecedor
que era de outras manifestações espontâneas de petróleo na região, como a que
foi relatada em 1853 pelo padre Florêncio Gomes de Oliveira, em que afirmava
que em Apodi \"em um dos recantos da lagoa desta vila que está mais em
contato com as substâncias minerais da serra, tem-se coalhado, em alguns anos,
uma substância betuminosa inflamável, e de boa luz semelhante à cera, em
quantidade tal que se pode carregar carros delas\", e pelas observações
feitas pelo farmacêutico
Jerônimo Rosado, seu pai, que identificou elaterite na
região de Caraúbas, resolveu abraçar a luta pela descoberta do \"ouro
negro\" na sua Mossoró. Foi assim que usando as páginas do jornal \"O
Mossoroense\" em 6 e 13 de abril de 1947, publicou um trabalho sobre a
Wildcat Mossoroense, que é a zona onde se supõe existir petróleo, por dados
vagos ou informações superficiais, sem comprovação.
A
partir de 1949 foram realizados diversos estudos geológicos no litoral do Rio
Grande do Norte, mas os resultados não foram satisfatórios. Mesmo assim os
estudos prosseguiram. E o incansável Vingt-un, convencido da existência de
petróleo na região, lia na
Rádio Tapuyo, em 11 de maio de 1955, um trabalho no
qual já defendia a construção de uma refinaria para Mossoró. Um sonhador Talvez.
Mas alguém que soube, através de sua luta, tornar o sonho realidade.
Em
25 de fevereiro de 1956, Vingt-un profere uma aula sobre a Geologia da Região
de Mossoró e suas consequências naturais para o curso de Antropologia Cultural,
em que fala também do petróleo mossoroense. Em 31 de maio de 1956, escreve para
a Rádio Tapuyo um pequeno trabalho sobre o mesmo tema. Em 1957, em tese
apresentada à Faculdade de Ciências Econômicas de Mossoró, registra:
\"Petróleo: Fracassado o Poço Pioneiro de Gangorrinha, G-1-RN\".
Parecia o fim do sonho do petróleo mossoroense, mas não para Vingt-un, que
visionava: \"Um dia as torres voltarão ao sagrado chão de Mossoró e dirão
bem alto que Jonh Gasper Branner, o sábio de Stanford, e Luciano Jacques de
Morais, o grande geólogo patrício, estavam certos, ...\" .
Em
1967, Vingt-un publicou um livro na Coleção Mossoroense sob o título:
\"Alguns Apontamentos sobre o Petróleo Mossoroense\". A esperança não
havia morrido para aquele homem de fé. E o seu sonho se torna realidade em
1979, quando finalmente é descoberto a primeira acumulação economicamente
viável num poço perfurado para captação de água que deveria atender ao Hotel
Thermas.
Ao lado desse poço, foi perfurado pela Petrobras um poço gêmeo que até
hoje é produtor. E com a descoberta de outros campos, como o de Canto do Amaro,
o Rio Grande do Norte assume a posição de maior produtor terrestre do Brasil.
Em
1982, Vingt-un reedita: \"Alguns Apontamentos sobre o Petróleo
Mossoroense\", com um novo título \"Um dia, as torres voltarão ao
sagrado chão de Mossoró\". Essa luta de Vingt-un foi reconhecida pela
Petrobras em 2003, por ocasião das festividades dos 50 anos da Petrobras.
Vingt-un
Rosado faleceu em 21 de dezembro de 2005, deixando um imenso vazio na cultura
de Mossoró. Hoje é só lembranças. Sete anos se passaram, e a terra cumpriu sua
missão. A matéria, como na sentença bíblica, voltou ao pó. Hoje, Vingt-un é
Mossoró.
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Autor:
Jornalista
Geraldo Maia do Nascimento
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