Por João de Sousa Lima
O segredo do
cangaço que ficou por tanto tempo escondido debaixo do cobertor da prudência e
do medo, era um assunto temeroso, difícil de esquecer e quase impossível de se
relatar. Por longos sessenta e seis anos o assunto foi costurado no livro do
esquecimento.
Durvalina e Moreno
Durvalina era Jovina e Moreno era Pernambuco. Documentos assim, o
tempo foi passando e só por salvos momentos em que algumas fotos que andaram
nos bornais dos cangaceiros e foram guardados como tesouro, eram revirados
pelos filhos, era que vinham as perguntas: Quem são? Nós temos parentes? Onde
eles vivem? O silêncio, as desculpas e as rápidas desconversadas eram sempre as
respostas. Por trás das tais fotografias tinha uma longa e incrível fábula. Por
trás dos papéis amarelados pelo tempo, escondia-se um magnífico capítulo da
nossa recente história brasileira.
Inacinho filho de Moreno e Durvalinha e R o historiógrafo Rostand Medeiros
Lembro quando lancei meu livro Lampião em Paulo e um dia recebi um recado de Inacinho que havia lido o livro e quer me conhecer. Aproveitando que ele estava na festa de Tacaratu, pra lá me dirigi e conversamos durante algumas horas, inclusive indo visitar a casa do padre Frederico Araújo, onde ele havia morado. Na hora de vir embora, Inacinho me alertou: Se algum dia encontrar meus pais, por favor, me avise !
- Aviso sim! Respondi-lhe.
Confesso que retornei triste, dividindo com Inacinho, a dor sentida por ele, pela ausência de notícias dos pais e pelo acalento desejo de reencontrá-los.
O tempo na sua sabedoria se encarregou de retratar os fatos. Moreno sentiu o peso da idade. Havia um segredo que não poderia levar com ele para o túmulo. Os cinco filhos precisavam saber que em algum lugar distante, eles tinham um irmão. Irmão legítimo, de pai e mãe, consanguíneo. Moreno falou com Durvinha:
-
Olha, vamos falar pros filhos, nós pode morrer!
Durvalina relutou no princípio, depois acabou concordando. Moreno, aos poucos,
foi soltando alguma coisa para o filho mais velho, o Murilo. Em 2006, Moreno
adoeceu e temendo morrer convocou os filhos e contou-lhes o segredo do irmão
desaparecido.
Neli filha de Moreno e Durvalina e o cineasta Aderbal Nogueira
A filha Nely não se conteve e travou uma alucinada busca, uma
verdadeira caça, na procura do irmão. Várias horas foram gastas na tentativa de
encontrar um telefone de Tacaratu. Com muito custo ela conseguiu o número da
Casa de Cultura e em conversa com a senhora Joana, ficou sabendo que Inacinho
morava no Rio de Janeiro e só aparecia em Tacaratu na época da festa da
Padroeira Nossa Senhora da Saúde. Como último recurso Nely pediu pra Joana
conseguir o telefone de Inacinho. Número esse só conseguido cinco dias depois.
Nely finalmente falou com o irmão. Ele não acreditando, pensando em se tratar
de trote, por ter já sofrido alguns, durante sua busca pelos pais, pediu pra
fazer algumas perguntas a mãe. Na primeira pergunta ele pensou em desistir:
- Como é seu nome?
- Jovina!
Não podia ser, pois sua mãe chamava-se Durvalina. Inacinho fez mais três perguntas e das respostas veio a confirmação:
- É ela sim!
Inacinho chorou!
- Mãe, aqui é seu filho!
Nely tomou o telefone das mãos de Durvinha:
- Alô
- Eu sou Inacinho, eu sou seu irmão !
Os dois choraram...
Fonte principal: Moreno & Durvinha, de João De Sousa Lima !
Fonte que eu adqui este artigo: facebook
Página: Corisco Dadá
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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