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quarta-feira, 1 de outubro de 2014

MORENO E DURVINHA – TENTE NÃO CHORAR !

Por João de Sousa Lima

O segredo do cangaço que ficou por tanto tempo escondido debaixo do cobertor da prudência e do medo, era um assunto temeroso, difícil de esquecer e quase impossível de se relatar. Por longos sessenta e seis anos o assunto foi costurado no livro do esquecimento. 

Durvalina e Moreno

Durvalina era Jovina e Moreno era Pernambuco. Documentos assim, o tempo foi passando e só por salvos momentos em que algumas fotos que andaram nos bornais dos cangaceiros e foram guardados como tesouro, eram revirados pelos filhos, era que vinham as perguntas: Quem são? Nós temos parentes? Onde eles vivem? O silêncio, as desculpas e as rápidas desconversadas eram sempre as respostas. Por trás das tais fotografias tinha uma longa e incrível fábula. Por trás dos papéis amarelados pelo tempo, escondia-se um magnífico capítulo da nossa recente história brasileira.

Inacinho filho de Moreno e Durvalinha e R o historiógrafo Rostand Medeiros

Lembro quando lancei meu livro Lampião em Paulo e um dia recebi um recado de Inacinho que havia lido o livro e quer me conhecer. Aproveitando que ele estava na festa de Tacaratu, pra lá me dirigi e conversamos durante algumas horas, inclusive indo visitar a casa do padre Frederico Araújo, onde ele havia morado. Na hora de vir embora, Inacinho me alertou: Se algum dia encontrar meus pais, por favor, me avise !

- Aviso sim! Respondi-lhe.

Confesso que retornei triste, dividindo com Inacinho, a dor sentida por ele, pela ausência de notícias dos pais e pelo acalento desejo de reencontrá-los.

O tempo na sua sabedoria se encarregou de retratar os fatos. Moreno sentiu o peso da idade. Havia um segredo que não poderia levar com ele para o túmulo. Os cinco filhos precisavam saber que em algum lugar distante, eles tinham um irmão. Irmão legítimo, de pai e mãe, consanguíneo. Moreno falou com Durvinha: 

- Olha, vamos falar pros filhos, nós pode morrer!

Durvalina relutou no princípio, depois acabou concordando. Moreno, aos poucos, foi soltando alguma coisa para o filho mais velho, o Murilo. Em 2006, Moreno adoeceu e temendo morrer convocou os filhos e contou-lhes o segredo do irmão desaparecido. 

Neli filha de Moreno e Durvalina e o cineasta Aderbal Nogueira

A filha Nely não se conteve e travou uma alucinada busca, uma verdadeira caça, na procura do irmão. Várias horas foram gastas na tentativa de encontrar um telefone de Tacaratu. Com muito custo ela conseguiu o número da Casa de Cultura e em conversa com a senhora Joana, ficou sabendo que Inacinho morava no Rio de Janeiro e só aparecia em Tacaratu na época da festa da Padroeira Nossa Senhora da Saúde. Como último recurso Nely pediu pra Joana conseguir o telefone de Inacinho. Número esse só conseguido cinco dias depois. Nely finalmente falou com o irmão. Ele não acreditando, pensando em se tratar de trote, por ter já sofrido alguns, durante sua busca pelos pais, pediu pra fazer algumas perguntas a mãe. Na primeira pergunta ele pensou em desistir:

- Como é seu nome?
- Jovina!

Não podia ser, pois sua mãe chamava-se Durvalina. Inacinho fez mais três perguntas e das respostas veio a confirmação:

- É ela sim!

Inacinho chorou!

- Mãe, aqui é seu filho!

Nely tomou o telefone das mãos de Durvinha:

- Alô

- Eu sou Inacinho, eu sou seu irmão !

Os dois choraram...

Fonte principal: Moreno & Durvinha, de João De Sousa Lima !

Fonte que eu adqui este artigo: facebook
Página: Corisco Dadá

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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