Depoimento de José Bezerra Lima Irmão autor de Lampião - a Raposa das Caatingas
– Carta aberta para Vera Ferreira –
Vera,
O meu nome é
José Bezerra.
Faz 9 anos que
estou escrevendo um livro sobre o cangaço. Nele, pretendo narrar os fatos,
citando as fontes, fixando a figura de Lampião emoldurada no espaço
geográfico em que viveu e no seu contexto histórico. Lampião não foi nem
herói, nem bandido – foi simplesmente um cangaceiro, um sertanejo de fibra que
não dobrou a espinha diante daqueles que se julgavam donos dos sertões
nordestinos.
Virgulino
Ferreira foi um sertanejo à moda do seu tempo, um tempo brabo em que o sujeito
para ser respeitado tinha que mostrar que era cabra macho, e para isso era
preciso honrar cada letra do que dizia, fosse para o bem, fosse para o mal.
Lampião ousou
desafiar o Poder – e esse foi seu maior erro, ou seu maior mérito, a depender
do critério pelo qual seja julgado.
A figura
de Lampião deve ser tratada com respeito. Não foi nem vilão nem herói.
Foi simplesmente um jovem, filho de uma família
honrada, que teve uma infância absolutamente normal,
e que, por uma série de fatores, terminou se lançando
numa empreitada temerária da qual não tinha como sair vivo.
A História do Nordeste, tirando a Invasão Holandesa, resume-se a três
personagens: Lampião, Padre Cícero e Antônio Conselheiro. Não necessariamente
nessa ordem, mas sempre centrada nessas três figuras ímpares. Sem elas, a História
do Nordeste seria insossa, como uma comida preparada sem sal e sem tempero.
Agora, surge
um paspalhão com uma história inusitada, sem fundamento nos fatos, fruto de
elucubrações de um tipo de “pesquisador” que não pesquisa nada, e, sem sair de
casa, refestelado numa poltrona, com base em leituras a voo de pássaro, sem
entrevistar ninguém, passa a regurgitar asneiras.
Quero
manifestar minha solidariedade a você, Vera, e a dona Expedita, em face das
tolas invencionices desse senhor que, para angariar credibilidade, faz questão
de alardear a sua condição de “juiz aposentado” (aposentado
compulsoriamente...).
Associo-me às
palavras de Alcino Alves Costa – este, sim, um pesquisador de verdade, legítimo
Vaqueiro da História –, em artigo divulgado pelo portal da Associação dos
Magistrados de Sergipe (AMASE): “Dizer-se que Lampião era homossexual e
Maria Bonita uma adúltera, e os dois, Lampião e Maria Bonita, coabitavam
com Luís Pedro, vivendo assim, em plena caatinga, um triângulo amoroso, é algo que
em sã consciência ninguém tem o direito de acreditar”.
Quanto a Maria
Bonita, trata-se de uma mulher digna, decidida, dotada de senso de liderança,
que não se prevalecia do fato de ser a mulher do chefe para impor respeito.
Àquele tempo, ser cangaceiro era moda, no sertão, e muitas moças sonhavam
juntar-se a um cangaceiro, pela vida de aventura, valentia e glamour que
levavam nas caatingas.
Nas zonas
rurais, as filhas dos fazendeiros eram preparadas para serem esposas prendadas:
aprendiam a cozinhar, costurar, bordar, fazer rendas. As filhas dos moradores
trabalhavam nas roças desde meninas, ajudando os pais, e quando casavam
continuavam a mesma lida com os maridos e os filhos. Ao contrário dos homens,
que entravam para o bando porque queriam ser cangaceiros, as mulheres
tornavam-se cangaceiras por força das circunstâncias, para estarem com seus
maridos ou namorados. Para elas, portanto, o cangaço não era uma “profissão”,
mas uma contingência da vida. As garotas das roças e das pequenas povoações
sertanejas, ao mesmo tempo em que tremiam de medo dos cangaceiros,
paradoxalmente viam os cangaceiros como heróis românticos, príncipes encantados
de um reino onde havia perigo e morte, mas que, por pior que fosse, não podia
ser pior do que a triste vida em que viviam. No íntimo, sentiam-se fascinadas
por aqueles homens valentes de que tanto se falava, como se fossem induzidas
pelo instinto natural de fêmeas a querer parir um filho daqueles cabras machos
como o diabo!
Maria Bonita,
como o companheiro, tinha carisma. Sabia ser austera e indulgente, inflexível e
compreensiva, implacável e doce. Ela representa a mulher nordestina típica da
zona sertaneja. As asnices imaginadas por esse “escritor” de bobagens
constituem uma ofensa à mulher sertaneja!
Ela descende
da família Gomes de Oliveira, uma das famílias tradicionais de Santa Brígida,
ombreada com as famílias Barbosa, Marques e Miguel.
Maria Bonita
estava separada do marido quando se juntou a Lampião, o que é absolutamente
legal e legítimo.
Não se tem
notícia de um crime sequer que tivesse cometido. Apenas acompanhava as andanças
daquele que o seu coração elegeu como o seu amor.
Quanto a Luiz
Pedro, em todas as entrevistas de ex-cangaceiros e ex-cangaceiras, nunca foi
sequer insinuada a mais mínima possibilidade de relacionamento espúrio, tal
como suscita esse “escritor” de lorotas.
João de Sousa
Lima, outro pesquisador sério, tal como Alcino Costa, afirma num artigo postado
no Orkut: “Para os homens e mulheres que estudam o cangaço com seriedade e
imparcialidade, salientando que não se trata aqui de homofobia ou qualquer
outro tipo de preconceito, no cangaço não existiu casos de homossexualismo,
nenhum estudo em todos os aspectos do fenômeno apontou essa prática.”
Sobre essa questão, Frederico Pernambucano de Mello, um dos principais pesquisadores do cangaço, assim se manifestou: “A tese é delirante. Os registros da época não autorizam essa conclusão”.
De um modo geral,
as pessoas que escrevem sobre Lampião quase sempre são traídas por suas idiossincrasias.
Algumas
pessoas, por terem certos “pendores”, têm uma preocupação, que é até
compreensível, de mostrar que figuras importantes também eram dotadas dos
mesmos pendores. Um pederasta maluco chegou a levantar a tese de que Jesus
Cristo era boiola!...
Mas, em última
instância, tais pessoas não se apercebem de que constitui recurso vão pretender
demonstrar que figuras históricas teriam as mesmas tendências ou propensões que
elas, afortunada ou desafortunadamente, possuem.
O pior é que
as pessoas que não conhecem a história do cangaço, ao ler invencionices desse
tipo, podem acreditar que os “fatos” são verdadeiros. Já houve uma “revelação”
de que Lampião foi jogador de futebol, sendo um zagueiro imbatível!
Um desequilibrado escreveu que Lampião e Maria Bonita teriam sido... colegas de escola!
Antonio Amaury
Corrêa de Araújo – outro pesquisador respeitável, do quilate de João Souza e
Alcino Costa –, em seu recém-lançado Maria Bonita, adverte que não se
estranhe quando surgirem histórias de Lampião na Lua ou no fundo do mar, ou
quando escritores afirmarem que Lampião foi visto escalando o Everest,
atravessando o deserto do Saara ou lutando contra esquimós no Pólo Norte...
As bobagens
inventadas por esse moço, relativamente a Lampião e Maria Bonita, materializam
os presságios de Amaury.
Voltando ao
caso do livro desse senhor que, por força de uma Liminar concedida em ação
judicial impetrada pela família Ferreira, teve suspensa a venda de sua “obra”,
isso está cheirando a golpe de marketing, para que, em virtude da celeuma
produzida, uma vez cassada a Liminar, o livro se torne campeão de vendas,
ludibriando curiosos tolos.
Senhor “juiz
aposentado”: Cangaceiro também tem honra!
Erros
grosseiros d’O Mata Sete
(amostragem)
Do “livro” de
Pedro de Morais não se aproveita nada, tantos são os erros, que pululam a cada
linha.
Por exemplo –
estou dando apenas exemplos:
a) Esse
moço, sem citar um autor sequer, sem verificar os relatos da época,
diz que Lampião teria perdido a bolsa escrotal ao “tentar assaltar” a fazenda
Tabuleiro, em 1922 (p. 83-84).
Ele diz essa
asneira por desconhecer que Lampião àquele tempo acompanhava o famoso Sinhô
Pereira, pertencente a uma família tradicional do Pajeú, formada de grandes
latifundiários. Sinhô Pereira estava indo com seu grupo para a fazenda
Tabuleiro, na ponta da Serra dos Paus Brancos, ao sul do município de Conceição
do Piancó, Paraíba, divisa com Pernambuco. A fazenda pertencia a Manoel
Alves, conhecido como Neco Alves, casado com uma sobrinha de Sinhô Pereira.
O autor distorce os fatos, ao dizer que Lampião “tentava assaltar” aquela
fazenda.Só um louco poderia supor que Sinhô Pereira, o braço armado da
família Pereira contra os Carvalho e os Barbosa Nogueira, iria “assaltar” a
fazenda de um membro de sua própria família!
b) Esse
moço também distorce os fatos ao falar dos ferimentos recebidos por Lampião na
citada fazenda Tabuleiro, dizendo que teriam sido mutilados os escrotos (p.
83-84).
Como esse moço
desconhece os detalhes, vou rememorá-los para ele ficar sabendo.
Naquela
ocasião Lampião foi atingido por três tiros: um acima da virilha, outro no
espaço entre o peito direito e o braço, e outro na cabeça, de raspão. Lampião
foi levado para a fazenda Nova, entre Jatiúca e Vila Bela, e depois para um
barraco de palha nos matos da fazenda de Cosme da Tabua. Sinhô Pereira mandou o
vaqueiro Mané de Caçula ir buscar o Dr. Mota, médico amigo de sua família, para
cuidar dos ferimentos. O ferimento mais grave era aquele acima da virilha.
Ao examiná-lo, o médico disse:
– A bala
entrou e saiu, porque foi bala de fuzil. Nunca vi tanta sorte, rapaz. Por um
triz a bala não pegou na bexiga e na espinha. A bala de fuzil é fina. Se fosse
de rifle papo-amarelo, calibre 44, você agora era defunto...
Essa é a
história contada por todos os que escreveram sobre o fato. É também a versão
contada por Sinhô Pereira em suas entrevistas à imprensa. O tiro foi acima
da virilha, por pouco não afetando a bexiga e a espinha.
Esse moço, ao cometer o
seu livro de anedotas, deveria saber que os testículos de um homem não
ficam na bexiga. E tampouco na espinha. Considerando-se o que foi afirmado
pelo médico, Dr. Mota, de que a bala passou raspando a bexiga e a espinha, para
que se desse crédito à hipótese absurda suscitada no livro desse moço, de que a
bala teria mutilado os testículos, seria preciso que o tiro tivesse sido
disparado de baixo para cima, ou seja, o atirador teria de estar debaixo do
chão!
c) Também
sem citar um autor sequer que lhe socorra nesse sentido, ele diz que por
ocasião da morte de José Ferreira seus filhos estavam presentes e tirotearam
com a polícia (p. 68-69).
Doutor, tenha
paciência: como é que se faz História sem ler, sem pesquisar, simplesmente
inventando os fatos?
d) Esse
moço descreve Maria Bonita – que ele chama de “D. Deia” e de “Sinhá Maria” –
como se fosse uma mulher vulgar (p. 185/195).
Seguramente,
esse moço nunca leu nada sobre a Mulher do Capitão. Maria Bonita jamais foi
chamada de “Sinhá Maria”, Doutor. E embora o livro se refira a ela várias vezes
como “D. Deia”, dona Déia não era Maria Bonita – dona Déia era a mãe de Maria
Bonita!
Ele diz que o
nome de Maria Bonita seria “Maria Adelaide” (p. 186). A afirmação é destrambelhada. Adelaide
é outra pessoa: trata-se da primeira mulher do cangaceiro Criança, que era
filha de Lé Soares, irmã de Rosinha, companheira de Mariano, e prima
de Áurea, mulher de Mané Moreno.
Antes de mudar
de assunto, convém lembrar a esse moço que Santa Brígida não fica “nos
entremeios” de Serra Negra e Poço Redondo, conforme diz, em flagrante equívoco
(p. 185).
E que ele
fique sabendo também que o local onde Maria Bonita nasceu, a Malhada da
Caiçara, fica no município de Paulo Afonso.
e) Esse
moço se refere ao famoso Cassimiro Honório, do Juá, como Cassimiro “Tenório”!
(p. 64).
Um equívoco
dessa ordem só ocorre em quem nada leu sobre a história do cangaço.
f) Ao
falar sobre o combate da Serra Grande, ele diz que essa serra ficaria “entre
Triunfo e Vila Bela”, atual Serra Talhada (p. 116).
O autor
deveria saber que a Serra Grande ficava no município de Flores e
atualmente fica no município de Calumbi!... Se ele se comportasse como um
pesquisador de verdade, saberia que a Serra Grande se situa noutra direção, na
estrada que vai de Serra Talhada para Custódia. Não tem nada a ver com
Triunfo...
g) Na
descrição do combate de Serra Grande, o autor diz que Lampião sequestrou dois
representantes comerciais “no pé da serra” (fl. 116).
Na verdade, a
prisão dos citados representantes não foi feita no pé da serra, e sim a
mais de cinco léguas de distância, exatamente no local conhecido como Pedra do
Sino, entre Serra Talhada e Jatiúca.
h) Esse
moço diz que um dos reféns, o representante da Standard Oil Company, se chamava
Adolfo Meira (fl. 117).
Se ele tivesse
lido direito os relatos desse fato, saberia que o nome do inspetor da Standard
Oil Company of Brazil (hoje, Esso) era Pedro Paulo Magalhães Dias (vulgo
Mineiro), e não Adolfo Meira.
O personagem
por ele citado, Adolfo Meira (Adolfo Meira de Vasconcelos), diz respeito a outro
episódio, ocorrido em Olho d’Água das Flores, que à época era um povoado do
município de Santana do Ipanema. Há erro, portanto,não só quanto aos fatos, mas
também quanto ao tempo e quanto à geografia.
i) Por
não sair de casa, escrevendo as coisas com base no que lhe vem à cabeça,
esse moço, ao descrever a morte de Antônio Ferreira, confunde a fazenda Poço do
Ferro com Poço do Negro, e diz que “Poço do Negro” ficava na localidade Pipoca
(p. 118).
Poço do Negro,
Doutor, fica ao sul de Nazaré do Pico, na divisa de Serra Talhada com Floresta.
Por sua vez,
Poço do Ferro, onde morreu Antônio Ferreira, duas léguas ao poente de Ibimirim,
não fica em Pipoca – a fazenda Pipoca fica a 56 quilômetros do Poço do Ferro,
no município de Betânia!
j) Também
pelo fato de não sair de casa, pretendendo fazer História em função do que
pensa, sem pesquisar nada, sem ler nada, esse moço confunde o povoado Patos,
à época município de Princesa Isabel, com a cidade de Patos, na
Paraíba (p. 95).
O minúsculo
povoado de Patos de Princesa (hoje, Patos de Irerê, município de São José de
Princesa), também conhecido como Patos da Baixa Verde, situado no sopé da Serra
do Pau Ferrado, nada tem a ver com a grande cidade de Patos, que fica longe,
muiiiiito longe!!!...
Desconhecedor
de tudo, ele se refere a Princesa como se fosse um “povoado” (p. 153). Cita a cidade de
Missão Velha, no Ceará, como “fazenda Missão Velha” (p. 155). E, pior,
considera que o sertão do Médio São Francisco, puxando para as Lavras
Diamantinas, ficaria na “zona canavieira” (!), onde Lampião teria facilidade de
se esconder “entre os talhões de canas-de-açúcar” (p. 157).
Meu Deus!...
k) Esse moço
cita o episódio do cangaceiro Penedinho, que matou “um companheiro” (na
verdade, Penedinho matou Canário), situando o fato em 1932 (p. 219).
Está errado,
Doutor, pois esse fato ocorreu foi por ocasião das “entregas”, ou seja, depois
da morte de Lampião, quando os cangaceiros decidiram entregar-se às
autoridades. Penedinho (Teodomiro dos Santos – Teodomiro de Calu, apelido de
família), filho de Mané Pequeno e Calu, primo de Adília,
mulher de Canário, matou seu companheiro foi em fins de 1938.
l) Ele
confunde Santo da Mandaçaia (assassinado por Corisco) com Zé Vaqueiro (da
fazenda Pau Preto), e confunde Novo Tempo, irmão de Sila, com o cangaceiro
Criança (p. 216).
m) Erra
feio ao dizer que o cangaceiro Criança morreu no tiroteio do Cangaleixo, tendo
ficado ferida gravemente a cangaceira Adelaide (p. 283).
Tudo o que
esse moço diz está errado. Criança morreu de velho, em São Paulo. E Adelaide já
havia morrido quando se deu o combate do Cangaleixo – quem estava no Cangaleixo
não foi Adelaide, e sim sua irmã Rosinha, e esta não saiu “ferida gravemente”,
estava apenas grávida... Gravidez não é “ferimento”, Doutor!
n) Por
não sair de casa e por não ler nada e nem pesquisar coisa alguma, esse moço
supõe que a Serra Negra (atual Pedro Alexandre) ficaria “na beira” do rio Vaza
Barris, nas terras do “coronel João Sá (p. 170).
O rio
Vaza-Barris passa longe da Serra Negra, Doutor... Muito longe!
o) Também
pelo mesmo motivo ele confunde o coronal João Sá (de Jeremoabo) com o coronel
João Maria, este, sim, o mandachuva da Serra Negra (p. 170). Idêntico erro se
repete mais adiante, confundindo João Sá com João Maria (p. 174).
p) Embora
esse moço seja sergipano, parece não gostar de sua Terra, pois não conhece
Sergipe. Ele acha que saindo de Pinhão, “nos rumos do norte”, vai sair em
Alagoas (p. 175) – na verdade, por ali se entra é na Bahia!
q) Por ignorar
os fatos e a geografia de sua Terra, ele considera que as mortes de Bom de
Vera e Cruzeiro teriam sido “nos arredores de Pinhão” (p. 231).
Ora, todo
mundo sabe que esse fato foi na Várzea do Juá, a meia légua de Carira!
Note-se que
nessa passagem ele se esqueceu de mencionar o cangaceiro Amoroso, e errou feio
ao dizer que o grupo era chefiado por Demudado. Se o autor lesse um pouco sobre
o cangaço ficaria sabendo que o chefe do grupo era Balão, e que Demudado
já havia morrido, dois anos antes, junto com Zé Baiano, na Lagoa Nova, perto de
Alagadiço.
r) Ele
“informa” que a fazenda Queimada do Luiz, onde Corisco foi ferido nos braços,
ficaria no município de Frei Paulo (fl. 294).
Está errado,
Doutor – aquela fazenda fica no município de Pinhão, e à época do fato era
município de Campo do Brito!
s) Esse
moço confunde a vila de Cumbe, na Bahia (atual Euclides da Cunha), com outro
Cumbe, este em Sergipe, vizinho a Nossa Senhora das Dores (p. 228).
t) Ele
se equivoca também ao dizer que o combate de Maranduba teria sido em “fevereiro
de 1932” (p. 225).
O fato,
Doutor, ocorreu na tarde do dia 9 de janeiro de 1932...
u) Sem
ligar para os fatos e lugares relacionados à Terra Sergipana, ele afirma que,
“nas proximidades de Capela”, os cangaceiros mataram “o dono da fazenda
Candeal, o Senhor José Elpídio dos Santos” (p. 232).
Se esse moço
tivesse um pouco de apego aos fatos, saberia que a fazenda Candial não fica
“nas proximidades de Capela”, e sim na estrada carroçável que vai de Dores para
o Aleixo, em sentido oposto a Capela...
Além disso,
convém frisar que José Elpídio não era o “dono” da fazenda Candial. José
Elpídio morava no Acenso, antes do Candial. O dono da fazenda Candial era o
velho Totonho de Donana (Tota).
v) Ele
considera que a passagem de Lampião por Saco do Ribeiro (p. 176) teria sido depois
de ele ter estado em Pinhão (p. 175).
Foi não,
Doutor. Deu-se o contrário. Lampião passou por Poço Redondo, Monte Alegre,
Boca da Mata, Saco do Ribeiro, Batequerê, Alagadiço, Lagoa Comprida, Pinhão, e
meteu-se na Bahia, a caminho da longínqua Curaçá.
w) Ele
“informa” que a fazenda Jaramataia, onde Lampião conheceu “Eronildes” de
Carvalho, ficaria “à margem direita do São Francisco, situada no município de
Canhoba (p. 182).
Está errado,
Doutor. A fazenda Borda da Mata, também pertencente ao pai de Eronides (e não
“Eronildes”), é que ficava à margem direita do São Francisco, situada no
município de Canhoba. A fazenda Jaramataia fica longe do São Francisco, no município
de Gararu, nos limites com Itabi. A separação dos municípios é feita pelo rio
Gararu, que vem das Três Barras, município de Gracho Cardoso.
x) Esse
moço diz que Corisco foi enterrado em Jeremoabo (p. 295).
Mais um erro,
Doutor. Corisco foi enterrado em Djalma Dutra, atual Miguel Calmon. Seus restos
mortais foram depois levados para Salvador, e encontram-se inumados no
Cemitério Quinta dos Lázaros.
y) Ele
reporta-se erroneamente à morte de Herculano Borges, por Corisco, como tendo
sido em setembro de 1932 (p. 217).
Também está
errado... Herculano morreu ao amanhecerdo dia 23 de setembro de
1931, na fazenda Bom Despacho, perto do povoado Santa Rosa de Lima,município de
Jaguarari, na Bahia.
z) Esse
moço confessa sua idolatria pelo golpe de 1964 – no que tem todo o direito,
pois é questão de ideologia (p. 245/249).
O que não se
admite são os seus juízos de valor sobre o Padre Cícero e sobre Antônio
Conselheiro, juízos que merecem todo o repúdio por quem quer que tenha um mínimo de Consciência Cívica e de Amor à Verdade e à História!
Esgotei nessa
especificação de erros todas as letras, de “a” a “z”, inclusive empregando
as letras “k”, “w” e “y”, além de incluir num mesmo tópico mais de um equívoco
do livro desse moço. Mas vale a pena citar ainda alguns disparates:
– ele
afirma, erroneamente, que Benjamin Abrahão foi morto em Vila Bela – atual Serra
Talhada (p. 273). Todo mundo sabe que Benjamin Abrahão foi assassinado na
vila de Pau Ferro, atual Itaíba;
– ele se
refere ao 28º Batalhão de Caçadores (28º BC), de Aracaju, como 23º...
(p. 159);
– em seus desvarios,
o autor “informa” que Maria Bonita foi ferida na vila de Serrinha “em abril de
1936” (p. 194-195).Foi não, Doutor. O fato, ocorrido em Serrinha do
Catimbau (atual Paranatama, PE), se deu na madrugada do dia 20 de julho de
1935...
– na sua versão
destrambelhada, esse moço diz que a cangaceira Cristina teria sido “acusada de
ter traído seu amante Gitirana, num encontro amoroso com outro cangaceiro
alcunhado Português” (p. 160-161). Mas é o contrário, Doutor: Cristina era
a mulher de Português, e a traição dela foi com Jetirana (que o autor grafou
“Gitirana”);
– o autor
diz que em virtude desse fato, graças à intervenção de Corisco, “nada
fizeram com a traidora” (p. 161). Está errado, Doutor. O bando
deslocou-se para a fazenda Emendada, no município de Pão de Açúcar. No dia
21 de julho de 1938, Corisco mandou um cabra levar Cristina à beira do São
Francisco, dizendo que Messias de Caduda estava esperando para levá-la a
Propriá. Logo mais se ouviram gritos e tiros. Cristina foi morta por ordem
de Corisco...
– afirma
também que “No Carro Quebrado, na Bahia”, Lampião matou 9 trabalhadores “nos
serviços da estrada de ferro” (p. 254). Estrada de ferro, Doutor?! Carro
Quebrado é uma fazenda perdida nas caatingas de Curaçá, na Bahia. Nem estrada
tem. Somente veredas, trilhas abertas pelos bodes. Nunca houve e certamente
nunca haverá “estrada de ferro” por ali...
Vou parar por
aqui a fim de poupar o autor de mais vexames.
JOSÉ BEZERRA
http://lampiao-cangaco.blogspot.com.br/2011/12/lampiao-cabra-macho-cabra-da-peste.html
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Parabéns José Bezerra, João de Sousa e Mendes por opinião tão correta sobre o assunto.
ResponderExcluirAntonio Oliveira - Serrinha