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quinta-feira, 12 de março de 2015

Luiz Gonzaga e a vida do viajante


O repórter viajou a convite da empresa Guanabara

Localizada no sertão de Pernambuco, distante 630 km da capital Recife, a cidade de Exu ficaria esquecida no nordeste brasileiro não fosse por um fato marcante. Cortada pelo rio Brígida, foi lá que, em 13 de dezembro de 1912, nasceu Luiz Gonzaga do Nascimento, artista popular que com sua sanfona deu voz à vida agreste que ele conheceu tão bem. Terra também de Bárbara de Alencar, ícone da Revolução Pernambucana de 1817 e da Confederação do Equador, Exu ainda muitas guarda lembranças do ídolo que revolucionou a música brasileira.

É lá na pequena Exu que está localizado o Parque Aza (assim com “z” mesmo) Branca, espaço criado nos anos 1970 pelo próprio Luiz Gonzaga para manter viva sua memória e a de sua família. Mantido por um grupo de voluntários da ONG Parque Aza Branca, é naquele imenso terreno que Luiz montou, em 1974, sua casa. O que antes não passava de um ponto de apoio entre tantos compromissos de trabalho, passou a ser sua morada oficial de 1982 até o ano da sua morte, 1989. Ainda hoje, os visitantes podem conhecer os móveis originais, o quarto, as fotos, os instrumentos e detalhes curiosos, como relíquias de Lampião, ídolo do mestre Lua que inspirou sua famosa vestimenta de couro.


O Parque Aza Branca também abriga o museu de Luiz Gonzaga, onde estão guardadas lembranças que reconstroem a vida do artista que cantou como poucos a vida do sertão. Desde seus tempos como militar – quando atendia como soldado 728 ou “Bico de Aço”, apelido dado por ser o corneteiro do 23º Batalhão de Caçadores – até as muitas homenagens e discos de ouro que recebeu durante a carreira. Passeando pelo parque, também é possível visitar a casa de Januário José dos Santos, sanfoneiro respeitado que deu ao filho Luiz as primeiras noções sobre o fole, duas pousadas construídas para receber amigos e artistas que vinham se apresentar em Exu e o Mausoléu do Rei do Baião. O grande monumento em mármore, que abriga os restos mortais do Rei do Baião e de sua esposa Helena, foi construído pelo filho Gonzaguinha.

Dia de festa

E, como não poderia deixar de ser, a casa do Rei do Baião também tem muito espaço pra festa. Foi lá que no último sábado (4), dia que marca os 23 anos do enterro do Seu Luiz, a Orquestra Filarmônica Estrelas da Serra montou uma apresentação especial dentro do projeto Caminhos Musicais Guanabara, idealizado pela Expresso Guanabara. Formada por estudantes entre 9 e 21 anos da rede municipal de ensino de Croatá (CE), a Orquestra transportou o som da sanfona, zabumba e triângulo para as flautas, clarinetes, trompetes e outros instrumentos. Aos 14 anos, o flautista Danilo Ferreira conta que, antes, pouco entendia sobre a importância de Luiz Gonzaga. “Hoje eu me considero um fã dele. Acho importante homenageá-lo por que ele merece. É pra ele fazer 200 anos e ainda ser homenageado”.


Numa noite que ainda ia contar com um time de sanfoneiros da região, o público pode ouvir novas versões de canções imortais como Boiadeiro, Assum preto e A vida do viajante. Quem conheceu o Mestre Lua de perto sabe que era com muita música, de frente pra Casa de Reboco e pros dois pés de juazeiro, que ele mais gostava de ser homenageado. “Ele era uma pessoa extremamente simples, que andava a pé, ia na feira e conversava com as pessoas na rua”, lembra o zootecnista Orlando Moreira, 53, conterrâneo do músico. “Ele era um político sem mandato. Foi ele quem trouxe asfalto, telefone e o Banco do Brasil aqui pra Exu”, completa. A professora Carlina Maísa, 46, além de ter conhecido o velho Januário e Dona Helena, teve ainda a honra de ver Luiz dar ao seu pai uma sanfona nova. “Ele tinha uma preocupação social muito grande, além de ser muito aberto e brincalhão. Era só saber chegar e falar com ele”, comenta.

Segundo Hélinton “Beba” Júnior, presidente da ONG Parque Aza Branca, são muitos os planos para o ano do centenário de Luiz Gonzaga. “O governo de Pernambuco ta centralizando as homenagens em Recife, mas, quando o Luiz queria homenagem, era aqui pra Exu que ele vinha”, diz. E é por isso que ele pretende erguer uma estátua de três metros, em bronze, em homenagem ao sanfoneiro. Sem recursos próprios, sua ideia é lançar uma campanha na internet para os fãs contribuírem voluntariamente com R$15 para a construção da estátua que vai custar R$80 mil. Em troca, cada contribuinte receberia um certificado. “Hoje, os dois artistas que mais contribuem para a obra do Luiz Gonzaga são o Dominguinhos e o Waldonys. É quem vem pra cá, pagando ou não”, lamenta. Ainda assim, basta caminhar pelas ruas de Exu para saber que a obra do Mestre Lua vai além da música e continua viva.

Serviço:
Parque Aza Branca e Museu Luiz Gonzaga
Onde: Rodovia Aza Branca, BR 122, Km 38 – Exu (PE)
Visitações: diariamente das 8h às 12h e de 13h às 17h
Ingresso: R$ 4
Telefone: (87) 38791124
E-mail: info@parqueazabranca.com.br
Site: www.parqueazabranca.com.br

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