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quinta-feira, 12 de março de 2015

O MECENAS DO PAÍS DO MOSSORÓ

Por Lucivânio Jatobá

Há uma palavra que sintetiza com muita propriedade um homem que conheci através da apresentação de um grande amigo potiguar, o prof. José Lacerda Alves Felipe: Mecenas. E´ a respeito desse Homem que redigi alguns parágrafos agora.

José Lacerda Alves Felipe

Estava eu começando a minha carreira universitária, no final da década de 1970, quando Lacerda levou-me a Mossoró, para proferir uma palestra naquele lindo município sertanejo potiguar.

Sentado na plateia estava um senhor forte, com certo ar sertanejo, aparentemente imponente, esperando que eu começasse a minha exposição. O olhar dele inquietou-me. Lacerda puxou pela mão e levou-me para conhecer aquele homem simples, mas reverenciado por todos.

Dr. Vingt-un Rosado

- Lucivânio, este é o dr. Vingt-Un Rosado, da Escola de Agricultura de Mossoró.

Fiquei encantado logo nos primeiros minutos da conversa apressada com aquele homem culto. Senti algo gostosamente esquisito nas palavras de Vingt-Un. Pacientemente, o velho senhor do “País do Mossoró,” profundo conhecedor da Geologia e da Geografia nordestinas, ouviu a palestra do jovem professor da UFPE, inexperiente,que mal fizera 25 anos de idade. Ao término da minha palestra, em que abordei coisas da Geomorfologia e da Climatologia do semiárido, o velho senhor abordou-me e disse com tanta humildade:

- Prof. Lucivânio, o senhor se incomoda de me dar seu endereço residencial, por favor?

Nascia ali uma amizade impressionante. Trocamos várias correspondências por anos.

Dr. Vingt-Un dirigia, bom uma impressionante periodicidade, uma das mais importantes coleções científicas deste país, a Coleção Mossoroense, que atingiu a cifra de mais de 6000 publicações (números). Esquadrinhou quase todos os assuntos relacionados à Geologia, à Climatologia, à Botânica etc dos Sertões nordestinos. Trouxe à baila artigos raríssimos do início do Século XX, como os de Luciano Jacques de Moraes, verdadeiras relíquias... E fazia questão de doar essas preciosidades! Nada lucrava, do ponto de vista financeiro, com sua ânsia incontrolável de divulgar as ciências; ao contrário, retirava de seu bolso certas quantias de dinheiro para viabilizar publicações,

Poucas semanas depois do nosso primeiro contato, dr. Vingt-Un escreveu-me gentilmente me pedindo um trabalho para a Coleção Mossoroense. Foi o meu primeiro artigo científico publicado, numa época sem Currículo Lattes, em que se escrevia não para dar peso no currículo, ou para satisfazer o burocratismo Capeseano, mas pelo prazer de redigir para pessoas e divulgar ou popularizar Ciências. Dr. Vint-Un publicou vários textos meus que guardo com excessivo carinho.

Dr. Vingt-Un era um patrocinador de Letras, de Ciências e de escritores; um estudioso da Geografia Física , um conhecedor dos mistérios da superfície e da sub-superfície do País do Mossoró. Foi quem primeiro levantou a hipótese da existência de Petróleo na Bacia Sedimentar do Apodi.

O mecenas a quem presto esta singela homenagem nasceu em 25 de setembro de 1920. Nos deixou exatamente no sai do solstício de verão de 2005, época em que o Sol aparentemente tangencia o Trópico de Capricórnio e joga mais luz no Hemisfério Sul. Um homem culto eternizou-se entre estrelas de primeira grandeza no éter, e passou a iluminar as noites claras do País do Mossoró. Promoveu a cultura com seus próprios recursos. Revelou pessoas. Difundiu saberes... Ajudou-me a dar os meus primeiros passos na produção acadêmica. Foi leal até a morte. Fez grandes amigos. Deixou um vazio incomensurável no mundo acadêmico.

Quando surgirá outro Homem com tal nobreza de caráter?

(Essa crônica é dedicada a José Romero de Araujo e José Lacerda Alves Felipe).

Lucivânio Jatobá. É Geógrafo. Professor da Universidade Federal de Pernambuco.

Enviado pelo professor, escritor e pesquisador do cangaço José Romero Araújo Cardoso.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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