Por Antônio Corrêa Sobrinho
A palavra
CANGACEIRO, que logo nos remete ao banditismo que imperou nos sertões do
nordeste brasileiro, no primeiro terço do século passado, capitaneado, um após
outro, por Antônio Silvino e Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, fenômeno
de violência este, em meados de 1940, com a morte do cangaceiro Cristino Gomes,
Corisco, pela polícia baiana, dado por definitivamente acabado, pois bem,
CANGACEIRO, foi também utilizado para designar os jagunços, os bandidos, os
bandoleiros, os fanáticos, os rebeldes, ou seja, todos os que sublevaram,
lutaram e morreram contra forças militares, na chamada GUERRA DO CONTESTADO, na
região sul do Brasil, uma das sangrentas sublevações patrocinada pelo no geral
pobre e hipossuficiente e injustiçado povo brasileiro.
Demonstrarei o
acima afirmado. Mas, antes, para melhor nos situarmos, trouxe uma breve sinopse
do que foi a Guerra do Contestado, texto da Wikipédia, para, aí sim, na última
parte, gozarmos com o depoimento, dado ao jornal “O Estado de São Paulo”, de
31/07/1915, pelo general Fernando Setembrino de Carvalho, um dos que comandaram
as operações desta guerra, isto em 1914, com ordens de sufocar a rebelião e
pacificar a região a qualquer custo.
“A Guerra do
Contestado foi um conflito armado entre a população cabocla e os representantes
do poder estadual e federal brasileiro travado entre outubro de 1912 a agosto
de 1916, numa região rica em erva-mate e madeira, disputada pelos estados
brasileiros do Paraná e de Santa Catarina.1
Originada nos problemas sociais, decorrentes principalmente da falta de regularização da posse de terras e da insatisfação da população hipossuficiente, numa região em que a presença do poder público era pífia, o embate foi agravado ainda pelo fanatismo religioso, expresso pelo messianismo e pela crença, por parte dos caboclos revoltados, de que se tratava de uma “guerra santa”.
A região fronteiriça entre os estados do Paraná e Santa Catarina recebeu o nome de Contestado devido ao fato de que os agricultores contestaram a doação que o governo brasileiro fez aos madeireiros e à Southern Brazil Lumber & Colonization Company. Como foi uma região de muitos conflitos, ficou conhecida como Contestado, por ser uma região de disputas de limites entre os dois estados brasileiros.”
O QUE É O
CANGACEIRO
O cangaceiro
fanático, observou o nosso ilustre interlocutor, nada tem de característico: é
o matuto crendeiro e trivial de todos os sertões, com o distintivo único de uma
fita branca no chapéu. O seu cangaço consta, em regra, de uma Winchester,
revólver Smith Wesson 38, facão de mato afiadíssimo e um bocó de balas. Nenhuma
instrução sistemática, nenhuma arregimentação inteligente a não ser a “forma”,
espécie de revista matutina por meio da qual o comandante inspeciona os
combatentes, fiscalizando as descrições. A disciplina é ferocíssima, variando a
pena, com a gravidade das faltas cometidas, desde as surras aviltantes até aos
bárbaros fuzilamentos.
São maus atiradores; são bons esgrimistas de facão; são exímios no aproveitarem, como defesa, os acidentes do solo.
Conhecedores minuciosos do terreno, sua tática resume-se, entretanto, a muito pouco: surpreender, emboscados, a testa ou o flanco da força, sustentando prolongadamente o tiroteio, que interrompem se a tropa, que raro perseguem, retira ou então só os desaloja, mercê de uma arrancada subitânea, a baioneta. Nesse caso são fragilíssimos. Fogem desabridamente pelo mato, com espantosa agilidade, para se emboscarem, de novo, adiante. E só caem prisioneiros, ao passo que dissimulam jeitosamente a verdade, manifestam a mais repulsiva humildade. Outras vezes atacam, sobretudo quando a tropa se mostra inativa, combatendo por detrás das trincheiras. Chegam, à noite, aproximando-se cautelosamente da linha exterior dos destacamentos, estendendo-se em linha de atiradores e rompem o fogo, que não raro dura até ao amanhecer, e para simularem maior número de guerrilheiros levam consigo os adolescentes que dispõem ao modo de uma reserva, cujo destino consiste em gritarem desesperadamente vivas a Sebastião, a S. João Maria e morras aos “peludos”! Se reconhecem, porém, sua esmagadora superioridade, como aconteceu no encontro com o capitão Matos Costa, investem com firmeza, conduzidos por buzinas de caça e bandeirolas brancas, em cujo centro se desenha uma cruz de pano azul, e dando vivas alarmantes e morras ameaçadoras vão –se abeirando dos soldados que ferem desapiedamente a facão.
Com relação aos redutos, disse-nos ainda o senhor general o seguinte: numa região privilegiada, onde as condições excepcionais de vida atraem irresistivelmente o homem, é que os fanáticos armaram seus redutos, construindo-os de preferencia nos vales profundos das serras, dominando-os, no critério da escolha, as dificuldades dos caminhos para o exterior. Explica-se: não sendo o reduto um campo entrincheirado, senão vastos aldeamentos de casas de madeira, sua principal defesa consistia na ocupação das entradas, por onde se distribuíam as avançadas dos inimigos. Eram as “guardas”. O efetivo destas variava com a importância do reduto ou a dificuldade da posição. Guardando o caminho de Iracema, por exemplo, Antônio Tavares nunca empregou mais de oito homens; no limite oposto Aleixo Gonçalves jamais baixou de 150 o número de bandoleiros que ocupavam a ponta do Firmino.
Fonte: facebook
Página: Antônio Corrêa Sobrinho
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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