Em um momento
pouco produtivo no cenário de lançamentos de obras sobre o Cangaço, eis que
surge um trabalho diferenciado e que merece esta chancela.
Texto inicial
de Rostand Medeiros
Recentemente
eu tive a oportunidade de retornar aos sertões de Pernambuco e Alagoas, onde
segui os antigos rastros dos cangaceiros nos municípios de São José de
Belmonte, Serra Talhada, Floresta (PE) e Piranhas (AL). Nesta jornada eu tive a
grata companhia do artista plástico Sérgio Azol, potiguar radicado em São
Paulo, que realiza um interessante e diferenciado trabalho artístico utilizando
o Cangaço como tema.
Na bela cidade
de Floresta fomos recebidos pelos escritores e pesquisadores Marcos Antonio de
Sá, conhecido como “Marcos De Carmelita”, e Cristiano Luiz Feitosa Ferraz,
ambos autores do livro “As cruzes do Cangaço – Os fatos e personagens de
Floresta – PE”, recentemente lançado.
Os autores
Cristiano Luiz Feitosa Ferraz (E) e Marcos Antonio de Sá (D), conhecido como
“Marcos De Carmelita”.
Em um clima de
extrema fidalguia, cordialidade e parceria, estes dois pesquisadores procuraram
mostrar vários aspectos da bela cidade de Floresta e dos fatos relativos ao
Cangaço na região. Além deste maravilhoso exemplo de cordialidade sertaneja,
através do contato com Marcos e Cristiano eu pude adquirir o resultado de um
interessante e valoroso trabalho de pesquisa sobre o Cangaço.
O livro eu recomendo
sem nenhuma ressalva aos amigos e amigas que gostam deste tema, pois antes de
tudo é resultado de muita pesquisa de campo e de muitas horas de diálogos com
os guardiões da memória na região. Tudo conduzido de maneira séria e objetiva.
Em minha opinião
as páginas de “As cruzes do Cangaço” possuem várias virtudes. Mas a que mais me
chamou atenção foi a deste livro não se perder em uma abrangência geográfica e
histórica desnecessária, de focar a história do Cangaço em uma área específica
– Floresta. Os autores competentemente dissecaram interessantes pormenores ali
ocorridos, que por sua vez se ligam a inúmeros outros episódios da história do
Cangaço em outras partes do Nordeste.
Marcos Antonio
de Sá comentando aspectos de sua obra.
A obra é tão
dinâmica e envolvente que me fez refletir que talvez tivéssemos conhecido a
história do Cangaço de uma forma muito diferente se existissem mais
pesquisadores como Marcos e Cristiano. Fiquei imaginando o que ganharíamos em
termos de conhecimentos se, em um passado nem tão distante assim, quando
inúmeras testemunhas daqueles dias difíceis ainda estavam neste plano,
existissem mais pessoas focadas e dispostas a correr atrás da história como
estes dois florestanos.
Não é a toa
que “As cruzes do Cangaço – Os fatos e personagens de Floresta – PE” recebeu
uma deferência rara nos dias atuais – O prefácio de Frederico Pernambucano de
Mello.
Acredito que o
respeito por quem palmilha o solo duro e poeirento do sertão atrás da história,
além do resultado de uma pesquisa séria e objetiva, foram alguns dos fatores
que fizeram um intelectual do porte de Frederico Pernambucano de Mello realizar
o prefácio deste livro.
A meu ver
Frederico é um homem muito consciente da sua história acadêmica, da sua obra e
do peso do seu nome. Ele não chancela qualquer trabalho sobre este tema, usa de
muitos critérios e neste aspecto ele está certo.
Os autores
entregando um exemplar do seu trabalho aos descendentes da família Gilo, na
fazenda Tapera dos Gilo, local do maior massacre da história do cangaço, fato
extensamente narrado no livro.
Até mesmo
porque atualmente sobram muitas obras sobre o Cangaço são realizadas sem
nenhuma pesquisa ao sertão. Muitos destes trabalhos são produzidos no conforto
de cadeiras reclináveis, em ambientes extremamente assépticos, refrigerados por
potentes aparelhos de ar condicionado e com objetivos muitas vezes distintos do
resultado de uma pesquisa histórica e focados em alvos bem escusos.
Mesmo assim,
não posso negar que algumas destas obras me despertam certo interesse. Mas eu
conto nos dedos os exemplos positivos!
Afora isso
ainda temos pessoas que são ligados a este tema e que parecem possuir sérios
problemas de diversos matizes e que só criam problemas para os que querem
produzir de verdade. E estes não são poucos!
Existem os que
nos seus devaneios interiores se acham “Mestres da História do Cangaço” e se
sentem sumamente injuriados por uma pequena crítica, principalmente no âmbito
da internet. Ou aqueles que por conta de uma vírgula mal colocada, ou de
uma referência na imprensa realizada de forma incorreta por um jornalista
medíocre, criam ódio mortal a um pobre interlocutor. Tem os que se sentem
“donos” da história do Cangaço em suas cidades, que criam toda ordem de
obstáculos para os pesquisadores vindos de fora, mas também não produzem nada
de interessante sobre os acontecimentos ligados ao tema em seus
rincões. Temos as interessantes figuras advindas das Academias, que por
serem laureados por obras acadêmicas, muitas delas medíocres e criadas apenas
para “engordar” os inócuos currículos inseridos na plataforma de Currículos
Lattes, colocam-se na posição de verdadeiramente exigir o resultado do trabalho
daqueles que apaixonadamente rodam muito pelo sertão para conseguir uma pequena
informação. Ou ainda aqueles que se acham “pesquisadores” apenas por se fazerem
presentes aos muitos encontros de admiradores do tema, ou por baterem fotos de
um túmulo de alguém ligado ao Cangaço. Os exemplos negativos destas
figuras são bem amplos para este espaço.
Antigo quartel
da Força Pública em Floresta. Atualmente em ruínas, mas merecendo uma
recuperação pela sua importância histórica.
Talvez eu não
seja a pessoa mais correta para comentar sobre estes “doutos” autores que
realizam o que denomino “Livros de Cangaço de Gabinete”. Mesmo sendo autor de
quatro livros, nenhum deles foi sobre o tema. Mas eu não vou me escusar de
comentar, pois já produzi e democraticamente já divulguei muita coisa sobre o
Cangaço aqui no TOK DE HISTÓRIA.
Seria
interessante que estes autores de gabinete copiassem o belo exemplo de Marcos
Antonio de Sá e Cristiano Luiz Feitosa Ferraz em relação à obra “As cruzes do
Cangaço – Os fatos e personagens de Floresta – PE” – Deveriam tentar realizar
mais seus trabalhos sentindo o que é realmente o sertão!
Talvez isso
não ocorra atualmente com tanta frequência porque, mesmo com todas as
facilidades logísticas, aparentemente são poucos os que desejam realizar seus
trabalhos escritos após encararem as estradas pedregosas do sertão, a poeira,
os quase sempre normais 40 graus positivos na canícula e outras situações
desconfortáveis.
Mas ao passar
por estes possíveis desconfortos, estes autores teriam então a oportunidade de
conhecer em profundidade uma região ímpar no território brasileiro. Uma área
cheia de contrastes interessantes, comida saborosa, natureza diferenciada e,
principalmente, pessoas incríveis e maravilhosas.
Além disso,
poderiam receber algo muito interessante e diferenciado dos que realmente
gostam e estudam este tema da história nordestina – Respeito.
Ao centro
vemos Frederico Pernambucano de Mello, tendo a sua direita Cristiano Luiz
Feitosa Ferraz e a sua esquerda Marcos Antonio de Sá, conhecido como “Marcos De
Carmelita”. Marcos e Cristiano são os autores do livro “As cruzes do Cangaço –
Os fatos e personagens de Floresta – PE”, cujo prefácio é de autoria de
Frederico.
PREFÁCIO DE
FREDERICO PERNAMBUCANO DE MELLO
AS CRUZES DO
CANGAÇO – Os fatos e personagens de Floresta-PE, por Frederico Pernambucano de
Mello. Uma verdadeira aula de História, por quem entende de História e
sociologia:
Floresta:
bravura e talento
Floresta,
velho município pernambucano de território outrora imenso, encravado no vale
do Pajeú, a 433 km do Recife, tem o privilégio de aliar dois primores bem acima
da média: o das armas e o da pena. Seus homens de guerra, de um lado e do outro
da lei, notabilizaram-se pela valentia desde o período colonial, cultivada ao
longo de toda a madrugada de sangue da conquista da terra ao tapuia guerreiro,
no afã de assentar os currais de gado civilizadores, vindo a dar vida a uma
crônica de passagens épicas não raro inacreditáveis, não contassem os fatos por
si com o abono de documentação copiosa.
É nesse ponto
que se encarta o segundo dos primores a que aludimos, que tem por fonte a
produção intelectual dos filhos da terra, entregues ao empenho de colocar a
pena a serviço da perpetuação dos acontecimentos mais quentes da ribeira do
riacho do Navio. E nos dando, do mesmo modo, as ocorrências amenas daquele
cotidiano que sedimenta a história, a partir dos assentos sociais, econômicos,
políticos, religiosos ou apenas ligados à natureza do lugar, de chãs imensas,
ipueiras generosas e serras férteis.
Cemitério onde
vários membros da família Gilo foram enterrados após serem massacrados pelo
bando de Lampião.
Sem se deter
por aí, a pena florestana vai além das coisas passadas no universo da caatinga,
ofertando estudos de interesse nacional relevante. Quantas vezes não ouvimos de
Gilberto Freyre, nosso mestre por quinze anos, elogios ao trabalho de
investigação antropológica conduzido por Álvaro Ferraz, médico da então Brigada
Militar de Pernambuco, e por seu assistente, Andrade Lima Júnior, intitulado A
Morfologia do Homem do Nordeste. Estudo que Gilberto tratou de editar em livro
de 1939, convertendo-o em marco da disputada Coleção Documentos Brasileiros, da
Livraria José Olympio, de que era diretor com carta branca. Vitória florestana
por excelência. Como vitória igualmente notável nos vem da contribuição do
militar e professor Carlos Antônio de Souza Ferraz, com o seu Floresta do
Navio: Capítulo da História Sertaneja, de 1992, timbrando na mesma tecla a que
já se dedicara, em outro livro, o admirável Doutor Álvaro.
Como esquecer
nesse arrolamento o estudo de história política denominado Liberais &
liberais, da professora Maria do Socorro Ferraz Barbosa, da Universidade
Federal de Pernambuco, vindo à luz em 1996, ponto alto de bibliografia
concebida, toda ela, com rigor digno de nota. Ou a contribuição de Leonardo
Ferraz Gominho, com o seu Floresta: uma Terra, um Povo, também de 1996. Ou
ainda os estudos da professora Bartira Barbosa acerca do rio São Francisco,
desde quando possuía apenas o nome indígena de Opara.
Marcos mostra
uma antigas estaca de uma das casas atacadas e destruídas pelos cangaceiros no
ataque a Tapera dos Gilo.
No plano do
memorialismo, oriundo de vivência direta ou de recolha da história oral que se
refugia em nichos de família, seria imperdoável deixar de mencionar os livros
de Marilourdes Ferraz, O Canto do Acauã, de 1978, com várias reedições, hino de
amor de uma filha ao pai guerreiro, que foi o coronel Manuel de Souza Ferraz, o
Manuel Flor, da nossa Polícia Militar, a se bater contra o chamado banditismo
rural por muitos anos, em todo o Nordeste. Mesmo tema no qual despontou, já com
os primeiros cabelos brancos a circundar a calva, o tenente João Gomes de Lira,
filho do lendário Antônio Gomes Jurubeba, um dos braços fortes da resistência
heroica de Nazaré – vilazinha perdida em meio ao oceano de caatingas que se
estendia até o beiço do rio São Francisco – contra o império de terror
implantado pelo maior de todos os cangaceiros, o lendário Capitão Lampião. E
ele próprio, o então juveníssimo soldado Joãozinho, a passar a cartucheira na
cintura, cingir o punhal, embarbelar o chapelão e acompanhar a força volante do
parente Manuel de Souza Neto pelos carrascais de Pernambuco e da Bahia.
Foi por lá, às
voltas com águas de presença incerta nos anos de seca, que todos esses
memorialistas se fizeram testemunhas dos fatos do lugar, tomando contato com a
crônica dos homens de sangue no olho que se entregavam à “vida da espingarda”,
sem deixar de ter as vistas abertas para a ação duramente civilizadora dos
coronéis chefes políticos sertanejos, comandantes de terras e de homens por
todo o Brasil Colônia. Com trânsito pelo Império, chegando à República e
ultrapassando até mesmo o regime temperado ao calor das brasas da Revolução de
1930. Coronéis que lançavam luz, a seu modo, sobre o universo rural brasileiro,
para o que não se eximiam do emprego do baraço e do cutelo, assim lhes ditasse
a circunstância. Protagonistas no processo social desdobrado em nossa terra, em
qualquer caso. Afinal, Gilberto Freyre já proclamou que o Brasil não foi
colonizado pela Coroa ou pelo Altar, mas pela família patriarcal.
Marcos explica
com o se deu o ataque da Tapera dos Gilo.
A base humana
do coronel foi essencialmente o patriarca, às voltas com a agricultura e a
pecuária em suas terras sem-fim, raramente se abrindo o espaço social para a
figura da matriarca, a exemplo de Fideralina Augusto Lima, das Lavras da
Manga-beira, Ceará; ou para um religioso, caso do Padre Cícero, do Juazeiro, no
mesmo estado; ou para um autocrata modernizador, como se viu com o industrial
Delmiro Gouveia, na Vila da Pedra, Alagoas, ou com Veremundo Soares, em
Salgueiro, Pernambuco.
Já tivemos
ocasião de dizer que a civilização dos campos do Nordeste recaiu sobre os
chamados homens bons da linguagem de época, os principais da terra, capitães e
sargentos-mores de Ordenanças, corporação de origem portuguesa datada de 1569 e
introduzida no Brasil em 1575, que se converterá em Guarda Nacional a partir de
1831. A existência legal da nova corporação se estendendo até 1918, quando vem
a ser extinta por decreto presidencial.
Os integrantes
das corporações de Ordenanças ou da Guar-da Nacional, metidos nas fardas
vistosas que saíam do guarda-roupa nas eleições e nas solenidades, nada mais
eram que os indivíduos mais bem sucedidos no empreendimento colonial por sua
face privada, cedo cooptados em instâncias de poder público local – a um tempo,
militar e político – pela habilidade de uma Coroa que se reconhecia pobre de
capitais e de agentes, mas certamente não de astúcia. Não daquele pragmatismo
eficiente que tantos proclamam ter permeado os dois primeiros séculos da
colonização.
Os autores
junto com um dos guardiões da memória do Cangaço em Floresta e na companhia de
Sérgio Azol e Rostand Medeiros.
Vitoriosamente
hábil, essa Coroa com os pés no chão, sobretudo no modo de desbravar um
território gigantesco como o nosso e de se fazer presente em todos os rincões
que o integram. Eis aí conquistas difíceis de explicar pelo intérprete da
história ainda hoje.
O passar dos
anos, aprimorando a administração pública, vai permitir ao estado ir mostrando
o rosto nos mais diferentes lugares, da pancada do mar ao grotão mais arredado.
A morte do coronel da Guarda Nacional estaria fadada a ocorrer, pela perda
natural da utilidade, ainda no final do Império. Morte por inanição. Lenta.
Inexorável.
Não foi que aconteceu. A partir de 1898, o que se vê é o presidente da República, à época Campos Sales, delegar poder político quase absoluto aos governantes estaduais, estes, aos chefetes municipais, quase todos graduados da Guarda Nacional, nas patentes de alferes a coronel. Compromisso sagrado, dessa que ficou conhecida como Política dos Governadores: votar com o presidente. Sem perguntas. E a República Velha vira pasto dos chefes políticos militarizados pela Guarda Nacional, a se espalharem, livres de canga e corda, até 1930, quando sentem o primeiro golpe com o movimento revolucionário que toma conta do país naquele ano. Aguentam. Adaptam-se. Fingem-se de mortos, em alguns casos. Trocam o couro, imitando as cobras. E lá estão de volta com a Constituição de 1934, que põe fim ao Governo Provisório de Getúlio Vargas com uma das mãos, e o devolve ao poder, com a outra, ungindo-o presidente constitucional por mais quatro anos.
Mandato que o
gaúcho de São Borja findaria por espichar em quinze anos de reinado absoluto,
graças às mil astúcias de que era capaz, conhecedor profundo da alma humana
como sempre se mostrou ser, especialmente das fraquezas que a sombreiam.
Aspecto de
Floresta.
O paraíso do
coronel do interior era aquele Brasil anterior a 1930: um país de 35 milhões de
habitantes, 70% morando no campo, 60% de analfabetos, em que o presidente da
República era eleito por menos de 3% dos eleitores. Em que o voto não era
secreto nem feminino. E as eleições, uma farsa.
Eis aí o caldo
de cultura que permitiu a disseminação do fenômeno do cangaço por todos os
rincões do Nordeste rural, bafejado pela indevassabilidade da fronteira entre
os estados e pela inviolabilidade da fazenda-feudo do coronel que estivesse de
cima na política.
Fenômeno que
não se detinha diante da fronteira estadual, reprimido ironicamente por
polícias que não possuíam ação regional. É claro que, com o tempo, foram
surgindo encontros entre governadores ou seus chefes de polícia, no intuito de
subtrair o trunfo aos bandidos. Mas o prejuízo já estava feito. O cangaço se
espalhava por todas as ribeiras da região, subindo de endêmico a epidêmico nos
períodos de seca. Na de 1879, porventura a maior de que se tem notícia, um dos
mais antigos cantadores-repentistas do Nordeste, Joaquim Jaqueira, talento que
alguns dão como cearense, outros, como alagoano, nobilitado, em qualquer caso, por
cantar na Pitombeira, para o barão do Pajeú, traçava o quadro da geografia do
punhal em início de expansão:
Aí foi que os
cangaceiros
Caíram no gado sem dó:
Calango, no Cariri,
Sereno, no Piancó,
Barbosa, lá no Navio,
Antõi Grande, em Moxotó.
Caíram no gado sem dó:
Calango, no Cariri,
Sereno, no Piancó,
Barbosa, lá no Navio,
Antõi Grande, em Moxotó.
Rostand
Medeiros no antigo Quartel.
Nos sertões do
Nordeste, palco do livro que se vai ler, intitulado As Cruzes do Cangaço,
escrito, em coautoria harmoniosa, por Marcos Antonio de Sá e por Cristiano Luiz
Feitosa Ferraz, jovens florestanos que não mediram esforços no afã de levantar
e detalhar ao máximo os acontecimentos verificados no território atual da
província de berço, o poder do cangaço atingiu níveis alarmantes,
desapropriando, de facto, áreas inteiras do município de Floresta. Tempo de
inversão de papéis, em que o soldado se escondia do cangaceiro, como disse o
sargento volante Optato Gueiros, em rasgo de sinceridade acerca do ano de 1919.
A partir dos
Anos 1910, foi comum que bons jornais recifenses, como o Jornal Pequeno e o
Jornal do Recife, para não falar de A Província, de O Pernambuco e do Diário de
Pernambuco, trouxessem seções fixas sob as manchetes “Questão da Vila Bela” e
“Questão de Floresta”, tratando dos lances qua-se diários da disputa sangrenta
entre as famílias Pereira e Carvalho, e do ajuste de contas entre os
cangaceiros Cassimiro Honório e Zé de Souza, respectivamente. Toda uma geração
abriu os olhos nas ribeiras do Pajeú e do Navio vendo a terra de seus pais
pegar fogo, em meio às correrias do cangaço. E precisou adestrar-se no uso das
armas brancas e de fogo, como requisito de sobrevivência.
Marcos e Cristiano não inauguram a crônica da guerra social florestana, é certo, que já dispunham das contribuições re-levantes de Marilourdes e de João Gomes, entre outros, mas vão além no detalhamento, por vezes correção, de episódios emblemáticos ocorridos em seu chão de berço, a exemplo da formação do povoado de Nazaré, das primeiras lutas do futuro Lampião e de sua família, da tragédia incrível da fazenda Tapera, da questão entre Horácio Novaes e Tibúrcio Gomes, do fogo do Tigre, do grande combate da Favela, do choque de parentes no riacho do Mundé, da Revolução de 1930 na cidade, do desforço cruel da fazenda Gravatá, do ataque à fazenda Barra da Forquilha pelo bando de Moreno, em meio à crônica de sangue da passagem desse carrasco de Lampião pelo município, todo o sumário servido com o molho dos diálogos refertos de regionalismos, das pabulagens, dos chamados ditos de mofa, dos pregões de valentia.
A Igreja de
Nossa Senhora do Rosário, no município de Floresta, estado de Pernambuco,
surgiu a partir de um antigo oratório da Fazenda Grande, dedicado ao Senhor Bom
Jesus dos Aflitos.
Como resultado
do esforço que sabemos ter sido grande, os jovens autores nos permitem saborear
o êthos e o páthos de uma ribeira pernambucana de imensa riqueza cultural,
dando-nos, do mesmo passo, a satisfação de uma leitura aliciante, com o risco
do leitor somente se deter para as refeições, como foi o caso deste
prefaciador.
A Marcos
Antonio de Sá e a Cristiano Luiz Feitosa Ferraz, sem esquecer o revisor
Leonardo Gominho e o consultor em genealogia Nivaldo Carvalho, os cumprimentos
de quem, padrinho da obra, já se investe do privilégio de cobrar novos estudos
à dupla de primos, ampliados a fim de abranger todas as ocorrências da Grande
Floresta de outrora.
Frederico
Pernambucano de Mello
Historiador da Academia Pernambucana de Letras
Historiador da Academia Pernambucana de Letras
SERVIÇO –
Valor do livro – R$ 50,00, mais o valor da postagem.
Contato para
adquirir o livro – CRISTIANO FERRAZ – 87 – 99918 1728
Extraído do blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros
https://tokdehistoria.com.br/2016/06/15/14741/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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