Por Sálvio Siqueira
José Osório Farias, o tenente Zé Rufino
O rastejador,
homem que rasteja os rastros deixados pelos animais que eram suas caças nas
terras desérticas e áridas do sertão nordestino, foi, em determinado momento,
‘inserido’ para fazer parte das volantes perseguidoras de cangaceiros nas matas
da caatinga.
Quando temos
uma primeira visão do rastejador, não damos o valor que merece na grande luta
das Forças Públicas contra a guerra de movimentos implantada pelos cangaceiros.
Os perseguidos, com astúcia, sabedoria e desenvolvimento, ao mudarem de lugar, procuravam ‘mexer’ o menos possível no natural existente. Procuravam não quebrar galhos de plantas nas trilhas que seguiam, não deixarem um pedaço de pano, de papel, ponta de cigarro de palha, não virarem as pedras onde pisavam, etc.. Além de sempre caminharem em fila indiana, e o último homem ter por obrigação apagar possíveis marcas deixadas pelos que passavam primeiro.
Foto da volante do tenente Zé Rufino colorizada digitalmente pelo professor Rubens Antonio
O rastejador,
acostumado a perseguir uma caça, por exemplo, um veado catingueiro, uma onça ou
outro animal na mata, tem um domínio que as outras pessoas não. Ele, ver no
solo coisas, marcas, que lhes contam se o animal foi para a direita ou esquerda
de onde se encontra, ou mesmo se seguiu para o Norte ou para o Sul. E foram
essas qualidades natas, naturais, que os grandes comandantes das volantes, na
época do cangaço, usaram para perseguirem os grupos de cangaceiros através do
Rastejador.
Com essa nova
ajuda, esse importantíssimo trabalho, mostrando caminhos antes não notados, os
soldados começam a apertar o cerco aos grupos dos fora-da-lei, cada vez mais e
com maior frequência.
Lampião, então
ver, em seu sangrento caminho, surgir um problema sério que poderia acabar com
todos os seus planos, o Rastejador. A partir daí, tem ele como um dos seus
piores inimigos. Todas as vezes que conseguiu capturar algum, sempre ceifou sua
vida com grande requinte de crueldade, para desencorajar os outros que faziam
parte das outras volantes.
Volante do tenente João Bezerra
com as cabeças de três cangaceiros
Naquele tempo, os homens eram resistente feito aço, pois a própria vida os
fazia, forjava, dessa forma. Quando um ‘jurava’ outro, o outro, para ver-se
livre do juramento, ou saia do lugar e ia armar sua tenda em outra localidade,
ou resolvia o caso com o mesmo.
O pernambucano
José Osório Farias, conhecido nas hastes cangaceiras como Zé Rufino, fora um
dos comandantes de volantes que mais perseguiu cangaceiros. Tendo em seu
Curriculum ser o maior dos matadores de cangaceiros. Ele entrou para Força
Pública do Estado da Bahia em 2 de janeiro de 1934. De imediato passou a fazer
parte da FONE - Forças em Operações no Nordeste – justamente para dar combate
aos grupos de cangaceiros.
Zé Rufino era
compadre e amigo de um rastejador chamado Cornélio. Cornélio era natural do
Juá, município de Paulo Afonso, BA, morando, na ocasião, em Serra Negra, no
Estado baiano, e teve como professor de rastejar, o afamado rastejador
Gervásio, que prestava seus serviços na volante do comandante pernambucano José
Osório. Zé Rufino, sabedor dos serviços de Cornélio, o convida para trabalhar
na volante comandada pelo tenente João Bezerra, que também era pernambucano,
mas, prestava seus serviços para a Força Pública alagoana, fixado na cidade de
Piranhas, AL.
Cornélio era
um bom rastejador, prestando sempre sérios serviços. Teve grande participação
quando da batalha entre a coluna do tenente Bezerra e um grupo de cangaceiros,
onde foram abatidos os cangaceiros Serra Branca, sua companheira Eleonora e
Ameaça, no riacho dos Patos, no município de Iapi, nas Alagoas.
Cabeças
dos cangaceiros "Serra Branca", sua companheira "Eleonora"
e "Ameaça"
O rastejador,
compadre do tenente Zé Rufino, tinha um grande defeito que era o de beber além
da conta, e abrir ‘imbuança’, brigar, discutir, com muitas pessoas. Como nunca
falta gente fuxiqueira, alguns vão e comunicam ao seu comandante, que de
imediato o expulsa da polícia. O rastejador, revoltado, continua na bebedeira e
deixa escapar que só iria embora da cidade, Piranhas, quando desse cabo do
tenente. Um amigo dele, Zé Gomes, chama-o a parte e diz que ele acabe com
aquela conversa e que vá embora para sua cidade. Zé Gomes conhecia o pessoal e
sabia que diriam, também, essa ameaça ao tenente João Bezerra.
“(...) Zé
Gomes era um dos poucos amigos de Cornélio, e depois que ouviu o desabafo do
companheiro, sabia que o tenente seria sabedor da jura que ele havia feito. Zé
Gomes desconfiado de que algo de mal pudesse acontecer, aconselhou o amigo
Cornélio para que o mesmo voltasse o mais rápido possível para Serra Negra
(...).” (“LAMPIÃO EM PAULO AFONSO – LIMA, João De Sousa. 2ª
edição. Paulo Afonso, BA. 2013).
Ao saber das
ameaças que fizera o rastejador, o tenente Bezerra chama dois de seus soldados,
Zé Baixinho e Marreca, comunica-lhes o fato e determina que eles deem um jeito
na ‘situação’.
“(...) Cometeu aí seu maior erro, pois desconhecia uma das maiores pragas que persegue o homem desde a sua criação: A traição. O tenente João Bezerra já havia arquitetado, junto com os soldados Zé Baixinho e Marreca a sua cruel estratégia (...)”. (Ob. Ct.)
O tempo passa
e Cornélio continua na cidade de Piranhas. Chegam às festividades juninas e, na
noite de São João, Zé Baixinho e Marreca, chamam o rastejador para entornarem
‘umas lapadas’, doses, de aguardente. Ora, era o mesmo que oferecer banana a
macaco. Cornélio topa na hora e começam a beber. Lá para as tantas, Cornélio já
embriagado, caminha com seus dois ‘amigos’ na direção do rio. Chegando próxima
à margem do “Velho Chico”, Marreca se atrasa um pouco, saca de uma arma e
executa, com um tiro na nuca, o rastejador Cornélio, deixando seu corpo ali,
sem vida.
O tenente Zé
Rufino ao saber que seu compadre fora expulso da Força Pública, parte de
Canindé do São Francisco, SE, com a intenção de leva-lo para casa e, ao chegar
ao momento de fazer a travessia nas águas do rio, recebe a notícia do
assassinato de Cornélio por um canoeiro.
“(...) Zé
Rufino sabendo da expulsão do amigo veio de Canindé para busca-lo e quando
chegou próximo a margem do rio para atravessá-lo, o conhecido canoeiro Pedro
Bengo deu-lhe a notícia da morte de Cornélio. Zé Rufino parecia não acreditar e
assim que chegou em Piranhas Zé Gomes contou que os autores do crime tinham
sido Zé Baixinho e Marreca (...).” (Ob. Ct.).
O tenente Zé
Rufino, após ouvir o relato de Zé Gomes, segue direto para casa do tenente João
Bezerra. Lá chegando, acompanhado de Zé Gomes, para conversar com o tenente
João Bezerra, notam que o soldado Marreca estava presente. Zé Gomes apontando
para Marreca, o acusa de ser um dos assassinos do rastejador Cornélio. Zé
Rufino diz saber de tudo e de que não havia necessidade de terem matado seu
compadre. João Bezerra diz a Zé Rufino que nada tem a ver com a morte do
Rastejador... Nas margens do rio São Francisco.
Fonte “LAMPIÃO
EM PAULO AFONSO – LIMA, João De Sousa. 2ª
edição. Paulo Afonso, BA. 2013
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