Do acervo do pesquisador José João Souza
O cangaceiro
Zabelê morava na fazenda Xique Xique, no município de Vila Bela, atual Serra
Talhada, seu nome verdadeiro era Isaias Vieira dos Santos.
No dia 12 de novembro de 1925, Isaias Vieira saiu de sua casa para levar a comida dos cangaceiro que estavam arranchados no curral da fazenda.
A conversa ia e vinha alheia a tudo, sem a mínima chance de alguém importuná-la, era um coito seguro.
O coiteiro Isaias Vieira há muito tempo vinha prestando serviços aos cangaceiros: trazendo comida, informações e servia de ponto de apoio entre Lampião e os fornecedores de armas.
Ultimamente Lampião alertava o amigo:
"- Isaias, a macacada tá cabreira que você é de minha confiança, é melhor se juntar à gente em definitivo e viver morando debaixo do céu aberto, na vida da espingarda!
A resposta:
"- num é certo, Lampião. Ajudar ao amigo eu posso e não conheço nada pra mim fazer ter medo, quanto mais de macaco. Mas tenho minha família pra dar conta."
Isaias Viera estava com 29 anos, era casado com Maria Benedita de Lima e tinha os seguintes filhos: Manoel Vieira (Neco Véio), Cecília Vieira, Jovina Vitorino de Lima, Benedita Vieira dos Santos e Joaquim Vieira.
Os quinze homens que formavam o bando naqueles dias estavam gozando de um certo sossego.
Sorrateiramente a volante de Nazaré cercou a casa do protetor dominou a todos e entraram em interrogatório com seus familiares.
As perguntas eram feitas em tom de voz normal e as respostas eram quase aos gritos, para chamar a atenção dos cangaceiros que estavam no curral com o parente deles.
Desconfiaram do artifício e quando deram fé, olharam para os lados e lá iam os cabras em disparada.
A volante, comandada por Euclides Flor, Manoel Flor e Davi Jurubeba, abriu fogo, travando forte tiroteio.
A estas alturas Isaias havia recebido uma arma e reforçava a defesa.
Bateram em retirada por um buraco na cerca.
Resultou em dois cangaceiros sem vida e um ferido, o Cancão. Da volante morreu Idelfonso de Sousa Ferraz.
A partir desse dia, Isaias Vieira, que não queria ser cangaceiro, mas, como diz o ditado, " quem mexe com fogo acaba se queimando", não teve outra alternativa, entrou na peleja, pôs as cartucheiras cruzadas no tórax, quebrou o chapéu na testa e passou a se chamar Zabelê.
No período de pouco mais de um ano que ficou no cangaço circulava pelos sub grupo de Jararaca, Sabino e Antônio Ferreira, participando de grandes combates e momentos importante ao lado de Lampião.
Somente para citar algumas dessas passagens: participou da batalha da Serra Grande, foi ao Juazeiro com o bando para Lampião receber a patente de Capitão e presenciou o tiroteio da Tapera dos Gilo próximo à Floresta. Participou na linha de frente de diversas refregas contra os Nazarenos e dezenas de outros confrontos em Pernambuco, Paraíba, Ceará e Alagoas.
Certo dia, no primeiro trimestre de 1927, aconselhado pelos parentes e amigos, Zabelê e o amigo de cangaço, João Gavião, chegaram tranquilamente em Vila Bela e vão procurar as autoridades, e mediante o argumento de que seria soltos em seguida, pelo fato de terem se entregado de livre e espontânea vontade, aceitaram serem presos.
Que nada.
João Gavião foi acobertado por alguns membros da família, ganhando logo a liberdade. Zabelê foi julgado e pegou noventa anos de prisão. Encaminharam-no para a Casa de Detenção no Recife.
Quinze anos depois, em 1942, já findo o cangaço, Agamenon Magalhães, filho de Vila Bela, era o governador do Estado de Pernambuco, e foi participar de uma solenidade de inauguração de uma usina de beneficiar algodão na fazenda Saco, vizinho da fazenda Xique Xique, no município de Vila Bela, quando um certo roceiro com cara de doido, aproximou-se da comitiva governamental, gritando:
"Agamenon, solte meu pai! Agamenon, solte meu pai!"
Os presentes afastaram o importuno, que continuava esturrando em apelos.
O Chefe do Executivo perguntou a um dos convidados que estava ao seu lado:
" - Quem é esse? Quem é o pai dele?"
Informaram tratar-se de um débil mental, que atendia pelo apelido de Neco Véio, filho do ex-cangaceiro Zabalê, que cumpria pena na Casa de Detenção, na capital.
Se a gritaria do rapaz surtiu efeito, não se sabe, mas, duas semanas depois, o ex-cangaceiro estava em Vila Bela saboreando sua liberdade, isto é um fato.
Zabelê nasceu no dia 20 de outubro de 1896 e faleceu no dia 10 de fevereiro de 1978, em Serra Talhada PE.
Do livro:
Lampião, nem herói nem bandido, a história
De: Anildomá Willans de Souza
De: Anildomá Willans de Souza
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