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sexta-feira, 21 de abril de 2017

QUEM PODE OCUPAR O LUGAR DE FALA NA HISTORIOGRAFIA DO CANGAÇO?

Por Geziel Moura

A biografia de Virgolino Ferreira da Silva é encharcada de incertezas, tais como: Origem da alcunha Lampião? Possuía mesmo colher que detectava veneno? Ele combateu a coluna Prestes? Antônio Ferreira, seu irmão, morreu na Serra Grande ou na Fazenda Poço do Ferro, do coronel Ângelo da Gia? Morreu envenenado ou baleado no dia 28 de julho de 1938, essas são algumas dúvidas que dividem leitores e escritores do cangaço.


Neste momento, queria me deter um pouco mais, em outra incerteza: A causa da lesão no olho direito de Lampião, confesso, que pensava que tal incerteza, era comungada pelos leitores que tiveram acesso, às várias versões, disponíveis na literatura do cangaço, até defrontar-me com o entendimento de "pesquisador facebokiano" que aponta a origem da cegueira de Lampião, ao tiro disparado pelo nazareno David Jurubeba, em certo Quipá, cujos espinhos atingiram seu olho direito, e o lesionou. Temos, portanto, a causa e o sujeito da lesão de Virgolino, o oráculo está formado, a incerteza não existe mais, aos olhos do "pesquisador facebokiano", a verdade verdadeira foi erigida impoluta.

Segundo os pesquisadores Antônio Amaury e Carlos Elydio, na obra "Lampião, bandido ou herói" comentam que durante o fogo da "Baixa do Tenório" o tiro de David Jurubeba, atingiu o Quipá, e os espinhos deste, chegaram no olho direito, entretanto, continuam os autores, lampião era possuidor de "Glaucoma" desde criança. Provavelmente há lapso no uso do termo médico sugerido, pelos autores, em Glaucoma, ao invés de Leucoma.


Para o Dr. José Lages Filho, do serviço médico legal do Estado de Alagoas, que assinou o laudo cadavérico da cabeça de Lampião, manifestou-se da seguinte forma: "O olho direito apresenta um leucoma, tingindo toda a córnea". O entendimento que a lesão ocular de Lampião, poderia ter origem na infância, encontra eco na obra "Lampião: A medicina e o cangaço" de Leandro Cardoso e Antônio Amaury, em que revela, depoimento de D. Mocinha, irmã de Virgolino, que este, antes de se tornar cangaceiro, já possuía problemas com a vista direita.

Diante do exposto, é razoável pensar que a cegueira de Lampião tenha se agravado, com o "suposto" espinho de Quipá, porém este pensamento não é determinante, por escassez de elementos que denunciem o acontecimento, outrossim, este não é o cerne da questão que levanto, o que precisa ficar como reflexão, é que certas "verdades" anunciadas sobre a história, não passam de conjecturas ingênuas, que não se sustentam ao olhar crítico e lógico da coerência dos fatos, portanto, se não podemos estabelecer a verossimilidade, de tais fatos, que eles fiquem no campo da suspeição, como é o caso da cegueira de Lampião.

Finalmente, não basta "Nossa própria experiência de caso" como determinismo, pois corremos o risco, de produzir falácias, em nome da história.

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