Por Adilson Simas
O nosso blog não tem certeza que esta foto é do cangaceiro Lucas da Feira
O jornalista e
historiador Helder Alencar brindou os leitores de sua coluna ‘Pois é’,
publicada em dezembro de 1976, no jornal Feira Hoje, com o tema “A prisão de
Lucas”. Vale a pena recordar:
- Alguma coisa
estava por acontecer naquele janeiro de 1848. O movimento era um pouco maior no
pacato e sem vida Arraial de Santana da Feira. Há dias que as conversas das
portas das casas comerciais deixaram de reportar-se à vida alheia (coisa tão
comum até hoje), para referir-se integralmente ao escravo Lucas, assunto que,
aliás, desde que por aqui passaram a ser contadas as estórias do bravo negro.
A época era de
trevas. A escravidão imperava. As leis beneficiárias dos escravos ainda viviam
em sonho na mente clarividente de alguns abnegados. Os negros eram vítimas, então,
da vingança e do ódio.
Filhos de
escravos, escravo seria, também, Lucas, quando veio ao mundo no Saco do Limão,
nascido de Inácio e Maria. Seus pais, escravos do Padre Franco, dele seria
Lucas escravo até o dia em que resolveu se libertar. Sair pelo mundo. Lutando
por uma raça. Ajudando seus irmãos de raça. Protegendo os pobres. Amparando os
miseráveis.
A caçada era
intensa naqueles dias de janeiro. Policiais e figuras outras da cidade, guiados
por Cazumbá, companheiro e compadre, mais tarde seu traidor, buscavam Lucas nas
matas de Santana da Feira.
Atiravam por
todos os lados e em todas as direções. Lucas resistia bravamente escondido no
fundo da fazenda Tapera, junto ao Poço da Gurunga. Enfrentava centenas. Era a
luta de um contra todos.
Uma bala quebra
seu braço, minando-lhe as forças. Lucas, porém, prossegue na sua fuga
desesperada. Embrenha-se nas matas. Corre, luta, resiste. Tenta sobreviver. É a
luta solitária. Traído pelo melhor amigo.
Roubara, é bem
verdade. Roubara muito. Mas nunca para si. Famílias inteiras, pobres e
desemparadas, foram sustentadas por ele. Facínora para uns, herói para outros,
Lucas vivia seus derradeiros momentos.
A prisão
estava eminente. Lucas já não tinha forças. Sangrava. Estava ferido. Braço
quebrado. Escoriações generalizadas.
A noite
chegava. Os policiais, comandados por Cazumbá e Benedito (outro amigo de Lucas)
prosseguiam a busca. Continuou madrugada a dentro, até as primeiras horas da
manhã de 25 de janeiro. Lucas é finalmente preso e conduzido ao centro da
cidade.
Bailes foram
organizados. Os sinos das igrejas repicaram festivamente. Fogos de artifícios
cruzavam os céus. Passeatas saíram às ruas. Eram os escravocratas comemorando a
prisão de um grande negro.
Do outro lado,
entretanto, lágrimas eram derramadas. Choravam copiosamente os que tinham sido
protegidos por Lucas. E quanta gente ele protegeu.
Cazumbá que
com um tiro quebrou-lhe um braço, alcançara o perdão e ainda recebeu dinheiro e
presentes. Lucas seguia para a prisão, depois de ouvido e submetido a exames
médicos. O laudo, pouco revelado, mostraria todos os ferimentos, todos os
tiros, todas as escoriações de que fora vítima Lucas.
Um ano e meio
depois, com o braço amputado, é julgado e condenado a forca.
25 de setembro
de 1849; o patíbulo armado no fim da hoje avenida Senhor dos Passos, espera
Lucas. Ele vai cumprir a última etapa de sua vida, vida em defesa dos negros e
dos escravos, dos desprotegidos e dos desamparados. Fala ao povo. Pede perdão.
Mas diz também que roubou para ajudar os pobres.
Enforcava-se
Lucas. Uma nuvem de gafanhotos caia sobre a Feira de Santana, sobre esta Feira
de tantas coisas. (Adilson Simas).
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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