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segunda-feira, 24 de julho de 2017

UM VALENTÃO DAS RUAS DE POMBAL/ DÉCADA DE 1960. DÃO DOS PASSARINHOS OU DÃO ALEIJADO.

 Por Jerdivan Nóbrega Araujo

Eu conheci Dão nas ruas de Pombal, conduzido por um jumento, sempre com uma ou mais gaiolas nas mãos. Outras vezes o encontrava solitário no Riacho do Bode, caminho da Camboa, “atocalhando” alçapões para prender passarinhos, ou colhendo macambira para fazer gaiolas.

Quem o via vendendo pássaros para sobreviver, mal sabia que tempos passados aquele senhor, quando jovem implantou, o terror na zona rural de Pombal. Era um sujeito que metia medo em quem o encontrava no meio da caatinga.

Na sua biografia consta a primeira grande fuga do presídio do Roger, onde esteve preso e ganhou as suas muitas tatuagens. Dão fugou se arrastando por um estreito esgoto, saindo as margens do rio Sanhauá, e de lá ganhado a liberdade o que foi notícia em jornais da Paraíba.

Dão dos Passarinhos ou Dão Aleijado

Depois da fuga Dão retornou aos arredores de Pombal, passando a ser procurado pela polícia paraibana, sem muito êxito, já que era um conhecedor de toda aquela região. Prender Dão passou a ser um desafio para o policiamento da Paraíba. A missão de agarra-lo "vivo ou morto" ficou por conta do policial Chico de Ernesto (sim aquele da famosa “razão de Chico de Ernesto” e também pai de Negro Caru).

E Chico de Ernesto conseguiu a proeza de colocar Dão de volta a cadeia. Essa façanha passou a fazer parte das conversas de Chico, que nunca se cansou de contá-la nas esquinas e bares da cidade. Transcrevo em seguida, na narração de Ignácio Tavares, como Chico de Ernesto relatava a perseguição a Dão:


“...topei a parada, preparei-me e saí a procura do homem que se dizia destemido e valentão. Não foi difícil encontrá-lo, uma vez que eu conhecia muito bem os lugares que costumeiramente, o dito cujo costumava frequentar. Atravessei o rio e tomei a direção do Sítio Xique-Xique. Ao longe avistei o homem a caminhar justo em minha direção. Ao perceber que já estava bem próximo dei-lhe voz de prisão. Incontinente puxou uma peixeira de doze polegadas e continuou a caminhar em minha direção. Então falei: hei seu moço, pare aí onde você está, nenhum passo à frente, viu? Nada do homem me atender. Continuou a caminhar como se nada tivesse ouvido. Dei alguns passos para trás, manejei o fuzil e falei: você está preso em nome da lei! E nada, parecia que o homem estava mouco ou mordido de cachorro da moléstia. Então mirei o fuzil em sua direção e apertei o dedo. O caboclo deu um grito de desespero que até parecia um boi mugindo.Foi sangue para todo lado. Pensei: matei o homem! Que nada, quando me aproximei vi que o tiro havia atingido a perna direita, mas, mesmo assim o sujeito corria o risco de morte. De repente apareceu um homem numa carroça puxada a burro, colocamos o preso em cima e mandei que o carroceiro levasse para o hospital Sinhá Carneiro”.

Foi esse tiro certeiro que acabou com a carreira de crime de Dão, que cumpriu a sua pena, foi solto, e passou a circular pelas ruas da cidade montado em um jumento, negociando passarinhos.

Nos dias de hoje Dão mora na rua dos Pereiros, com 87 anos de idade. Com simpatia gosta de contar as suas aventuras, mas, diz que muitas das histórias que lhes são atribuídas “é mais invenção do povo”, no entanto não conta uma versão diferente, limitando-se a um riso.

Já Chico de Ernesto entrou para história de Pombal como o Soldado de Polícia que deu cabo a carreira de crimes de Dão.

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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