Por Jerdivan Nóbrega Araujo
Eu conheci Dão
nas ruas de Pombal, conduzido por um jumento, sempre com uma ou mais gaiolas
nas mãos. Outras vezes o encontrava solitário no Riacho do Bode, caminho da
Camboa, “atocalhando” alçapões para prender passarinhos, ou colhendo macambira
para fazer gaiolas.
Quem o via
vendendo pássaros para sobreviver, mal sabia que tempos passados aquele senhor,
quando jovem implantou, o terror na zona rural de Pombal. Era um sujeito que
metia medo em quem o encontrava no meio da caatinga.
Na sua
biografia consta a primeira grande fuga do presídio do Roger, onde esteve preso
e ganhou as suas muitas tatuagens. Dão fugou se arrastando por um estreito
esgoto, saindo as margens do rio Sanhauá, e de lá ganhado a liberdade o que foi
notícia em jornais da Paraíba.
Dão dos Passarinhos ou Dão Aleijado
Depois da fuga
Dão retornou aos arredores de Pombal, passando a ser procurado pela polícia
paraibana, sem muito êxito, já que era um conhecedor de toda aquela região.
Prender Dão passou a ser um desafio para o policiamento da Paraíba. A missão de
agarra-lo "vivo ou morto" ficou por conta do policial Chico de
Ernesto (sim aquele da famosa “razão de Chico de Ernesto” e também pai de Negro
Caru).
E Chico de
Ernesto conseguiu a proeza de colocar Dão de volta a cadeia. Essa façanha
passou a fazer parte das conversas de Chico, que nunca se cansou de contá-la
nas esquinas e bares da cidade. Transcrevo em seguida, na narração de Ignácio
Tavares, como Chico de Ernesto relatava a perseguição a Dão:
“...topei a
parada, preparei-me e saí a procura do homem que se dizia destemido e valentão.
Não foi difícil encontrá-lo, uma vez que eu conhecia muito bem os lugares que
costumeiramente, o dito cujo costumava frequentar. Atravessei o rio e tomei a
direção do Sítio Xique-Xique. Ao longe avistei o homem a caminhar justo em
minha direção. Ao perceber que já estava bem próximo dei-lhe voz de prisão.
Incontinente puxou uma peixeira de doze polegadas e continuou a caminhar em
minha direção. Então falei: hei seu moço, pare aí onde você está, nenhum passo
à frente, viu? Nada do homem me atender. Continuou a caminhar como se nada
tivesse ouvido. Dei alguns passos para trás, manejei o fuzil e falei: você está
preso em nome da lei! E nada, parecia que o homem estava mouco ou mordido de
cachorro da moléstia. Então mirei o fuzil em sua direção e apertei o dedo. O
caboclo deu um grito de desespero que até parecia um boi mugindo.Foi sangue
para todo lado. Pensei: matei o homem! Que nada, quando me aproximei vi que o
tiro havia atingido a perna direita, mas, mesmo assim o sujeito corria o risco
de morte. De repente apareceu um homem numa carroça puxada a burro, colocamos o
preso em cima e mandei que o carroceiro levasse para o hospital Sinhá Carneiro”.
Foi esse tiro
certeiro que acabou com a carreira de crime de Dão, que cumpriu a sua pena, foi
solto, e passou a circular pelas ruas da cidade montado em um jumento,
negociando passarinhos.
Nos dias de
hoje Dão mora na rua dos Pereiros, com 87 anos de idade. Com simpatia gosta de
contar as suas aventuras, mas, diz que muitas das histórias que lhes são atribuídas
“é mais invenção do povo”, no entanto não conta uma versão diferente,
limitando-se a um riso.
Já Chico de
Ernesto entrou para história de Pombal como o Soldado de Polícia que deu cabo a
carreira de crimes de Dão.
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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