Por Antônio Corrêa Sobrinho
APRESENTAÇÃO
Jornais e
revistas brasileiros, a respeito do CANGAÇO, o banditismo que imperou nos
sertões nordestino, do final do século 19 até meados do século 20, capitaneado,
nas décadas de 1920 e 1930, pelo mais célebre de todos os cangaceiros que já
existiram, o pernambucano do vale do Pajeú, Virgulino Ferreira da Silva, o
LAMPIÃO, e, lustrado romanticamente, digamos assim, pela cangaceira baiana,
MARIA BONITA, companheira deste famanaz bandoleiro – trouxeram, em profusão, ao
público leitor, não raro em grandes e sensacionais reportagens, notícias,
informes e relatos das ocorrências relacionadas à este período de sofrimento e
dor porque passaram as populações sertanejas.
Jornais e
revistas que, concomitantemente, também divulgaram vasta literatura sobre este
fenômeno social, mais das vezes pela pena de grandes escritores, na forma de
crônicas, poesias, opiniões, crítica literária, entrevistas, etc.
Cangaço, onde
história, literatura e outras expressões, andam juntas, de mãos dadas,
simbioticamente ajustadas, formando um todo, de saberes, ideias, percepções, de
interpretações, conceitos; cangaço que foi, de um certo ponto de vista, o
último dos grandes “gritos” que se ouviu no Sertão.
Resolvi, neste
2019, transcurso de 100 anos que Lampião iniciou a sua ilíada de fugas,
correrias, lutas e práticas criminosas, pelas terras áridas do Nordeste,
resgatar, para os dias atuais, das páginas da nossa imprensa, alguns artigos,
não meramente noticiosos, mas aqueles que trazem no âmago certa literatura,
alguns dos quais de cunho eminentemente literário, versando justamente sobre
cangaço, Lampião e Maria Bonita.
E sobre
literatura, permitam-me esta divagação: Que as notícias dos fatos e
acontecimentos produzidos por este banditismo, permaneçam nas páginas da
imprensa, eis que não há nenhum prejuízo para elas, uma vez que foram e
continuam sendo reproduzidas nas inúmeras obras a respeito deste fascinante
tema.
Porém, quanto
aos artigos literários, não posso concordar que fiquem sepultos, inertes, como
a décadas estão, jazendo num esquecimento que dá pena; muitos dos quais,
relíquias, ricos de substância e beleza, verdadeiros quadros produzidos com
pinceis de sabedoria, de eloquência, e cores nascidas das palavras, quando
harmônica e esteticamente arrumadas. Literatura. São construções quase que
existências vivas, ávidas por interlocução, empatia, desejosas por motivar,
ensinar - ainda que escritas ligeiramente, em artigos curtos, para leitura
rápida, como as produzidas principalmente nos jornais. Não, deixarmos tais
esquecidas como estão, desprestigia e desrespeita seus autores e priva as
gerações futuras de valiosos conteúdos, elementos essenciais, constitutivos do
conhecimento sobre o cangaço.
Uma outra
coisa: A respeito destes textos, que ora apresento, esclareço que, no que diz respeito
à fidelidade factual, a verdade dos fatos, eles não devem ser vistos de forma
absoluta como algo essencialmente histórico, pois isto é próprio da história,
enquanto narrativa das ocorrências passadas, a “ciência humana que estuda o
desenvolvimento do homem no tempo”, muito embora a literatura seja uma
transmissora de conhecimento, de informação, e instrumento, mesmo, no processo
de edificação e de formatação da própria história.
Não confundir,
portanto, literatura e história.
Literatura é a
grande reveladora de sentimentos e de emoções. É estilo, estética, ritmo,
beleza textual, manuseio escorreito e fogoso da língua. Literatura, de fato,
mais do que a história e qualquer outra ciência, é quem verdadeiramente nos
conduz ao interior de nós mesmos, às complexas e profundas dimensões da nossa
mente, da nossa alma; é ela que nos faz perguntar, responder, duvidar; nos faz
assistir mais de perto ao outro; enxergar o outro em nós, como se diante do
espelho.
Sobre a
literatura, esta magistral ferramenta da expressão humana, diz o escritor e
jornalista José Castelo: “Vivemos imersos em um grande mar que chamamos de
realidade, mas que a literatura desmascara isso – que não passa de ilusão. A
realidade é apenas um pacto que fazemos entre nós para suportar o real. A
realidade é norma, é contrato, é repetição, ela é o conhecido e o previsível. O
real, ao contrário, é instabilidade, surpresa, desassossego. O real é o
estranho. A literatura tem o poder de interrogar, interferir e desestabilizar a
existência. É nas frestas do real, como uma erva daninha, que a literatura
nasce. A literatura não é um divertimentoo; tampouco é um saber especializado.
Ela é um instrumento, precário e sutil, de interrogar a vida. Desloca nossas
certezas, transformando-as em incertezas. Em vez de nos oferecer respostas, nos
faz novas perguntas – desagradáveis e perturbadoras.”
Que os textos
enfeixados neste e-book, compilação que fiz com gosto, elaborada com a
pretensão única de trazer ao público dos nossos dias, um conjunto de expressões,
pareceres e sentimentos, leve-nos pela empatia para mais perto de Maria Bonita
e de Virgulino Lampião; faça-nos entender e compreender o cangaço, os seus
símbolos, as suas representações, os seus significados – pelo olhar de grandes
literatos, extraordinários pensadores, escritores de escol, romancistas
consagrados, grandes cronistas, escritores que, em relação a esses seus
trabalhos, foram lidos apenas por alguns leitores, quando da edição dos diários
e periódicos; para, depois, serem degustados apenas por um ou outro
frequentador de acervos.
Pelo olhar de
um Rubem Braga, de um Graciliano Ramos, Coelho Neto, José Ferreira Lima, José
Lins do Rego, Alceu Amoroso Lima, Austregésilo de Athayde, Tristão de Athayde,
Aurélio Buarque de Holanda, José Ferreira Lima, Rachel de Queiroz, Antônio
Callado, Roberto Lyra, João do Norte (Gustavo Barroso), Manuel Bastos Tigre,
Cypriano Lage Hermeto Lima, Mucio Leão, Luís Luna, Affonso Romano de Sant’Anna
Costa Rego, Rangel Alves da Costa, Alberto Frederico Lins, Archimedes Marques,
Leonardo Motta, Joel Silveira, Prado Ribeiro, João Ribeiro, Zozimo Lima,
Humberto de Campos, Medeiros e Albuquerque, Robério dos Santos, Freire Ribeiro,
Nelson Maia Machado, Afonso Arinos, João Ribeiro, e tantos outros, em
pseudônimos, anônimos.
São mais de
trezentas composições, 551 páginas, extraídas dos mais importantes jornais e
revistas do país, todas por mim digitalizadas, com tão somente a necessária
atualização ortográfica, distribuídas em ordem cronológica de publicação, desde
1925, conforme Sumário a seguir, com seus respectivos títulos, nomes dos
autores, dos jornais e revistas, e datas em que vieram à luz.
Encerro,
informando que a parte maior do material desta coleção colhi na hemeroteca
digital da Biblioteca Nacional, e o restante, nos acervos virtuais dos jornais
Folha de S. Paulo, O Globo e o Estado de S. Paulo, além dos jornais sergipanos
disponibilizados no site da Universidade Federal de Sergipe (UFS).
Um obrigado
especial ao meu filho Thiago Correa, pelo tanto que me ajudou nesta construção.
Antônio Corrêa
Sobrinho
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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