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terça-feira, 18 de junho de 2024

MANIFESTAÇÕES SOCIOCULTURAIS INSPIRADAS NO CANGAÇO POTIGUAR

Por Dr. Epitácio de Andrade Filho

O cangaço é uma forma de banditismo social, um fenômeno ocorrido no Nordeste brasileiro no final do século XIX e XX, que teve sua gênese em questões sociais e também fundiárias, caracterizando-se por atitudes e acontecimentos violentos de grupos ou mesmo de indivíduos isolados.

Originalmente publicado na Inglaterra em 1969, com tradução no Brasil em 1973, “Bandidos”, do historiador britânico Eric Hobsbawn, delimitou um novo campo de estudo na história: o banditismo social.

Essa forma de protesto anterior à tomada de consciência dos métodos de propaganda e agitação política se estabeleceu em diversas partes do mundo.

Reportando-se aos cangaceiros brasileiros, Hobsbawn afirmou que seus feitos espetaculares deram origem a mitos e lendas. Nesse sentido, cita Lampião que chegou a ser mundialmente conhecido graças às canções, histórias e filmes que inspirou.

Sócio fundador da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC), o professor Severino Vicente justifica a publicação de seu livro “Folclore e Cultura Popular nas Práticas Pedagógicas”, ocorrida em 2010, como forma de atualizar os conhecimentos dessas áreas frente ao mundo globalizado e assim, salvaguardar nosso pertencimento neste importante campo de reconhecimento sociocultural. No capítulo “Cultura, Espetáculo e Mídia”, o folclorista define espetáculo como “tudo que chama a atenção, atrai, prende o olhar, impressiona vivamente, ostentoso, muita vida, um show. São coisas dos tempos modernos”. O escritor faz referência ao evento “Mossoró Cidade Junina” (Onde está inserido o espetáculo “Chuva de Bala”, que encena no palco real dos acontecimentos a resistência dos mossoroenses ao bando de Lampião em 1927) para exemplificar o novo momento das festas populares.

Após esta breve introdução sobre a interface cangaço/cultura, passar-se-á às epopeias dos chefes de bando cangaceiro no Rio Grande do Norte que inspiraram manifestações socioculturais.

Em solos potiguares, pelo menos 4 grandes líderes cangaceiros protagonizaram façanhas, sagas, marchas e tragédias.

Jesuíno Brilhante, que ficou conhecido através da obra de seus biógrafos como “Robin Hood do Sertão”. Segundo estes atuou na grande seca de 1877, “saqueando comboios de víveres para distribuí-los com retirantes flagelados”, sendo este um dos cenários do filme “Jesuíno Brilhante, o Cangaceiro”(1972), de William Cobbett, o primeiro longa-metragem rodado integralmente no Rio Grande do Norte. Sob influência do neorrealismo italiano, a obra foi produzida com poucos recursos e contou com ator-atriz âncora nos papéis principais, entre eles, Nery Vitor e Vanja Orico (Musa do ciclo do cangaço no cinema nacional) e atores amadores, recrutados nas locações, (no semiárido). A direção de fotografia ficou a cargo do cineasta Carlos Tourinho.

Numa iniciativa inovadora para diversificar os equipamentos de turismo histórico-cultural no município, foi construído o pórtico “Patu-Terra de Jesuíno Brilhante”.

A Morte de Jesuíno Brilhante, ocorrida no ano de 1879, em São José de Brejo do Cruz/PB foi tema de documentário, produzido em 2004 e editado em 2005.

O “Auto de Jesuíno “Brilhante” foi um espetáculo teatral apresentado em algumas edições da Feira da Cultura de Patu, na primeira década do século XXI. A propósito da Feira da Cultura, afirma-se que sua idealização e realização das 6 primeiras edições ocorreram no período de 1983 a 1988, durante a gestão do prefeito Epitácio de Andrade.

A atuação no cangaço de Chico Pereira deu inspiração ao padre Pereira Nóbrega para publicar em 1961 a célebre obra “Vingança Não”, prefaciada por Raquel de Queirós. Chico Pereira foi barbaramente assassinado em Currais Novos e no local da morte familiares ergueram um memorial alusivo a seu martírio.

A marcha de Lampião que culminou com a expulsão imposta pela resistência dos mossoroenses em 13 de junho de 1927 tem motivado a realização anual do espetáculo teatral “Chuva de Bala no País de Mossoró”. Sem dúvidas, a maior manifestação sociocultural inspirada pelo cangaço no Rio Grande do Norte.

Com menor notoriedade, porém não menos relevante historicamente, o enfrentamento ao bando do cangaceiro Antônio Silvino na invasão à zona rural de Ouro Branco (em 1901, pertencente a Caicó) ficou imortalizado na tela “Cangaço no Seridó” e no livro “O Fogo da Pedreira- Saga de Antônio Silvino em Caicó, lançado pelo escritor Orlando Rodrigues em 2001.

Livros, pinturas, filmes, monumentos, memoriais e espetáculos teatrais são manifestações socioculturais inspiradas no cangaço potiguar que têm fomentado o turismo e o desenvolvimento sustentável do Estado do Rio Grande do Norte.

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