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terça-feira, 19 de junho de 2012

O SEXO VERDE (Crônica)

Por: Rangel Alves da Costa(*)
Rangel Alves da Costa

O SEXO VERDE 

Após todos esses anos de lutas pelo inevitável reconhecimento da preservação ambiental e pela ascensão de novas políticas de desenvolvimento com sustentabilidade em diversos setores, nada mais sensato que se pense também num sexo ecologicamente equilibrado, ou um sexo verde, numa expressão que está na moda.

Verdade é que atualmente, principalmente em época de Rio+20, não se fala noutra coisa que não em economia verde, em comércio verde, em desenvolvimento verde, em progresso verde, em futuro verde, na natureza mais verde ainda, e no verde verde mesmo. Ora, é mais que oportuno que se definam logo as diretrizes do sexo verde.


Mas o que seria, então, o sexo verde? Sem nenhum espanto, diria que é um mecanismo de desenvolvimento sustentável qualquer, só que tendo por prioridade garantir o uso racional do sexo, enquanto verdadeira relação sexual, como forma de garantir seu deleite para as futuras gerações. E como causa urgente, sob pena de a degradação que se alastra não deixá-lo sem qualquer utilidade num futuro bem próximo.

Já há muito tempo que se tem um uso indiscriminado do sexo. A sua utilização sem o mínimo de cuidado, de equilíbrio no manuseio e de racionalidade, vem causando graves transtornos até mesmo para aqueles que o tem para uso ocasional, ou seja, dentro da normal conduta sexual. Desse descuido com a sexualidade lastrou-se a degradação e principalmente a sensível perda na qualidade do prazer que poderia ser obtido.

Nesta perspectiva de preservação e qualificação do que ainda resta no sexo é que urge a implementação de uma mentalidade sustentável na relação sexual. Não que se preserve para o próximo, para o que está ao lado, para o vizinho, mas para aquele que convive com e na relação sexual. Ademais, preservando a moral sexual e delimitando o seu uso, logicamente que no futuro ainda se possa tirar proveito desse elemento básico e prazeroso da vida.



Conceitos próprios da sexualidade humana seriam inevitavelmente afetados dentro dessa nova perspectiva. O sexo, ou relação sexual propriamente dita, não seria mais visto simplesmente como ato de atração para a obtenção do prazer erótico, através da estimulação das zonas erógenas e consequente obtenção do orgasmo. Do mesmo modo, este alcançaria outro sentido além de ápice prazeroso.

Na ótica da sustentabilidade, preservação e conservação, e principalmente na imposição de um uso racional e gradativo do sexo, este não seria apenas uma relação sexual afoita e descompromissada. Tenderia a ser mais um desfrutar corporal, um lapidar de joia rara, uma sensível relação de prazer que não se permite perder pelo descuido ou exagero. Algo como reconhecimento tão forte de sua importância que se amoldaria mais a um néctar de rara flor em frágil recipiente, exigindo máximo zelo no seu desfrutar. Nada como apenas usar, gozar e esquecer.

No sexo verde intensifica-se o respeito e a valorização, o ter e o preservar, o instinto verdadeiro e o prazer autêntico. Não há mais espaço pra o uso deliberado do corpo, para as taras e anomalias, para as obscenidades e as luxúrias, para a prostituição desenfreada e a mundanice. Tais situações fragilizam o sexo, a relação sexual e a sua importância na sublime atratividade humana.

O sexo verde volta-se para o amor, para o encantamento, para o prazer da visão, para o prazer do encontro, para o equilíbrio na posse, para o cuidadoso deleite. Os órgãos sexuais não podem ser vistos como instrumentos de uso indiscriminados. Não se utiliza da sexualidade e da potência que lhe é própria para sair por aí devastando, destruindo, poluindo o belo com imundícies.


Verde é o sexo que se prova, sente o delicioso sabor, e ainda assim tem o máximo cuidado com a gula exacerbada. É o sexo que depois de uma relação afetiva não estará devastado nem de utilidade duvidosa; depois da colheita não perderá nutrientes para próxima semeadura; depois de se entregar ao prazer se sentirá revigorado para um novo prazer.

Neste sentido, o sexo verde não é apenas uma nova maneira de se encarar a relação sexual, e sim a exigência íntima e compartilhada de um prazer sexual com qualidade.


(*)Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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