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segunda-feira, 18 de julho de 2016

DONA RITA ROSA DE JESUS, A LENDÁRIA PROPRIETÁRIA DA FAZENDA OITICICA

Dona Rita Rosa de Jesus

Dona Rita reuniu na sua fazenda Oiticica três cabras da sua inteira confiança: Antônio Ferreira da Silva (Antônio Bahia), Manoel Severino de Souza (Mané Fôiço) e o escravo João Pires Ribeiro (João do Cipó). Deu ordens para que armados de bacamartes e clavinotes seguissem rumo ao Termo de Triunfo, e no lugar São Domingos, assassinar a Antônio de Souza Pereira. O referido crime aconteceu às nove horas da noite em 12 de agosto de 1879. Reza a lenda que dona Rita despachara os seus cabras com a incumbência de lhe trazer a orelha do assassinado. Não era à toa que corria um boato em Belmonte que a dona da Oiticica rezava toda noite num rosário de orelhas de inimigos. Talvez viesse desse estranho rosário a capacidade que a velha possuía de atrair e manter o poder.

Numa época dominada pelo patriarcalismo, há que se ressaltar a figura de dona Rita Rosa de Jesus, nascida na Várzea da Fazenda Inveja no ano de 1826, filha do português José Pires Ribeiro e de dona Ana Maria Diniz (Ana Gomes da Várzea).

Casara-se aos 23 anos de idade com um parente Roque de Carvalho Brandão, filho de Cirilo Gomes de Sá e Ana Furtado Leite. A cerimônia aconteceu na fazenda Várzea no dia 05 de julho de 1849 e teve como testemunhas os Srs. Manoel de Carvalho Alves e Alexandre Gomes de Sá. Dessa união nasceram 7 filhos: José Pires Brandão, Ana Maria de Jesus, Maria de Barros Pires, Antônio Pires Brandão, Úrsula Camila da Soledade, João de Deus Pires Brandão e Roque Pires Brandão. No dia 28 de dezembro de 1868 seu esposo Roque de Carvalho Brandão, faleceu na fazenda Oiticica. 

Senhora de muitas terras e algumas casas na Vila de Belmonte, a sua residência de campo foi encravada na fazenda Oiticica, herança de seus pais, na qual além da casa-grande, foram construídos o engenho, a casa de farinha, a senzala e bolandeira de beneficiar algodão. Símbolos máximos da autonomia latifundiária, esses equipamentos sempre estiveram de pé, cobrindo de lendas não apenas a senzala, mas também o quarto do cuvico, localizado no coração da casa-grande e o sótão. Na sala do Coração de Jesus, diante do grande oratório, dona Rita costumava rezar diariamente em companhia da família e das escravas o seu rosário, o ofício, e recitar as suas ladainhas, sob a invocação dos santos dos quais era devota: Nossa Senhora da Conceição e São José. Era também proprietária de muitos escravos onde se destacou o negro Apolônio, que era o amansador de cavalos da fazenda. Apolônio conquistava a todos pela coragem e pelo largo sorriso que deixava à mostra os dentes de marfim. Só ele foi capaz de domar o fogoso Ventania, filho do alazão Soberbo, o marchador manga-larga mais exibido da Oiticica. Com a façanha, graças a um festival de chicotadas e esporadas na barriga do Ventania, Apolônio se transformou em herói da meninada da ribeira da Oiticica. Nos livros antigos da Paróquia da Penha encontra-se o registro do casamento de Apolônio: “Aos 15 de junho de 1874, na fazenda Oiticica desta freguesia da Serra Talhada inter servandis, na presença das testemunhas Francisco Pires de Carvalho e Jacinto Gomes dos Santos, receberam em matrimônio Apolônio Pires de Carvalho e Tereza, pretos, ele com 54 anos, natural de Fazenda Grande, morador na Vargem (Várzea) desta Freguesia, ela natural e moradora desta Freguesia, com 19 anos, escrava de D. Rita Rosa de Jesus, moradora na fazenda Oiticica. O vigário Padre Manoel Lopes Rodrigues de Barros.” Viúvo de Tereza, Apolônio viveu seus dias com a preta Manoela e se tornou o eterno “mensageiro” de Belmonte. Faleceu com mais de 100 anos de idade.

A dona da Oiticica é considerada uma das maiores simbologias do mandonismo, sua fama de mulher destemida e audaz correu mundos. No município de Belmonte, o imaginário popular e a tradição, se encarregaram de divulgar muitas histórias, em cujo epicentro está a figura da velha matriarca. Dona Rita impunha respeito, e também despertava medo e curiosidade das pessoas. Entre os negros da Oiticica, quatro deles, dos mais fortes, deviam estar sempre prontos para carregar a liteira da digna matrona nas suas idas à Belmonte geralmente nos dias de sábado para assistir missa na Capela de São José e para a feira . Corpulenta, medidas avantajadas, quadris largos, rosto cheio com sinais de barba, dona Rita era baixa, gorda e muito branca, sisuda, falava bastante alto, cheirava rapé e bebia zinebra. Dizia o que lhe viesse a cabeça, falava palavrões e arrochava os “seiscentos mili diabos”. Tempos depois começou a andar a cavalo, causando admiração naqueles que observavam admirados a vitalidade da velha cavaleira.

Sempre cercada de cabras para proteger a propriedade e garantir a família; a palavra da velha Rita era lei, como também diziam que era famosa em “rogar pragas”, não tinha uma que não pegasse. É tanto que, quando sua neta Donana fugiu aos 14 anos de idade com o primo Joaquim Leonel, a velha Rita se opôs ao casamento e rogou uma praga dizendo que “o destino da Oiticica seria se acabar igual a buraco de formigueiro”.

Vítima de apoplexia, cega, no dia 16 de setembro de 1908 termina a história de Dona Rita da Oiticica, mas não a do seu reinado. Antônio Pires Brandão substituiu a mãe, dando lugar a sua única filha Ana Pires Brandão (Donana), esposa do major Joaquim Pires de Alencar, no comando da secular fazenda Oiticica.

Como era tradição na época a matriarca Rita Rosa de Jesus foi enterrada na Matriz de São José do Belmonte.

(“HISTÓRIAS DA FREGUESIA DE BELMONTE” – autor: Valdir José Nogueira de Moura).

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