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segunda-feira, 18 de julho de 2016

OS CALOS DO CANGAÇO

Por Raul Meneleu Mascarenhas

O incômodo chamado calo, que a dermatologia, indica ser uma área dura de pele que se tornou grossa e rígida, inicia como resposta a repetidos contatos e pressões. Na botânica, o termo também é utilizado com uma condição de rigidez em superfícies de plantas ou folhas. No ser humano. já que o contato repetido é necessário para a existência do calo, o local mais comum para ocorrência são nas mãos e pés. Os calos geralmente não são nocivos, mas podem ser a fonte de outros problemas. como a infecção.

Alguns adágios conhecidos são:

"Quando o calo aperta, uns vão embora da festa, outros continuam a dançar descalços."

"Os Santos não têm calos. Se os tiver, deixam de sê-lo na primeira pisada."

"O calo só dói quando o sapato aperta."

Pois bem... voltando ao tema, na história do cangaço, também temos calos que machucam e têm que ser extirpados, pois podem ser realmente nocivos e fontes de infecção histórica. Para extirpa-los devemos usar um remédio chamado "Pesquisa".

Na Saga Cangaço, existem pessoas que querem tirar proveito dela, mas não exporem o que sabem, ou esconderem a verdade, fazendo de tudo, inclusive entrando com processos na Justiça Civil, no intuito de barrar o surgimento de verdades escondidas. Lógico que não conseguem fazer isso por conta dos pleitos terem sidos considerados Inconstitucionais. Por exemplo; o caso da tentativa de proibição do livro "Lampião - O mata sete",  obra lançada em 2011 que também fala do suposto adultério de Maria Bonita, embora o foco fosse a homossexualidade de Lampião.



Após anos impedida de ir à venda, teve a autorização para a comercialização. O Tribunal de Justiça de Sergipe entendeu que o cangaceiro é uma figura pública e que isso significa abrir mão de uma parcela de sua privacidade, além de citar o direito à liberdade de expressão do autor. A família de Lampião entrou com um processo porque se sentiu ofendida com a insinuação de que Lampião era homossexual e que Maria Bonita era adúltera.

Ora, não podemos tirar o direito da família em agir assim. Todo o direito teria e tem, de insurgir-se contra qualquer investida de denegrir-se as figuras de seus parentes. No entanto, não foi a família que deu uma contribuição maior para rebater essas "ofensas" do autor, onde em seu livro, aborda um tema que nenhum estudioso ou pesquisador do cangaço ouviu falar, mas foram, os pesquisadores e escritores independentes que o fizeram, onde em nossos grupos de discussão, fizemos artigos combatentes para desconstruir as afirmativas de tal livro.

Inclusive tivemos um dos maiores estudiosos do cangaço em Sergipe, o Dr. Archimedes Marques, Delegado da Polícia Civil de Sergipe, que lançou seu livro contestação "Lampião Contra o Mata Sete" contrapor-se ao livro do ex-Juiz Dr. 


Pedro de Moraes que em reportagem no G1-Globo disse que não esperava essa repercussão sobre seu livro. "O livro tem 300 páginas e foi escrito entre 1991 e 1997, período em que o juiz morava em Canindé do São Francisco. Segundo Pedro de Moraes, o objetivo foi desmistificar o Lampião herói, pois ele também seria um criminoso. “O Lampião herói foi criado pela esquerda intelectualizada após o Golpe Militar de 1964. Antes, ele era visto como um bandido e é sobre isso que meu livro trata. Não é uma biografia gay de Lampião, é uma biografia qualquer, além disso, eu nunca usei a expressão gay”, garante o autor."

ESSE FOI UM DOS CALOS DA SAGA CANGAÇO, mas existem outros. Entre eles OS FILHOS DE LAMPIÃO E MARIA BONITA.

Os pesquisadores e historiadores debruçam-se por diversos anos nesse "CALO" que a família mais próxima de Lampião e Maria Bonita insiste em não colaborar para que essa verdade não seja exposta, fazendo que se crie conjecturas sobre esse óbice.

Por que tentam esconder isso da história? Que valor moral ou até mesmo financeiro existe para se barrar todos os testemunhos de pessoas que viveram à época desses dois vultos históricos da saga nordestina?

Tomo emprestado de meu amigo João de Souza Lima, grande pesquisador e historiador da Saga Cangaço, seu artigo "Os Filhos do Rei do Cangaço" que faz parte de um de seus livros,  onde debulha tin-tin por tin-tin o grande achado seu, quando enveredou pelas caatingas do município de Paulo Afonso na Bahia, em busca da "verdade-calo":

João de Souza Lima entre os volantes Teófilo e Zé Alves

"Enigmático é o mundo do cangaço, ainda mais pela forma e o tempo de seus participantes resguardarem seus acontecimentos. Os últimos remanescentes, só agora, quando beirando os cem anos de idade, estão revelando seus segredos. Por longos anos, os fatos vivenciados foram trancados nos baús do esquecimento e lacrados com a chave da fidelidade da palavra empenhada. O tempo cuidou de reparar as falhas do passado e se fazer sentir a urgência de registrar seus marcantes episódios. Grande prejuízo para a história recente do nosso país, seria a perda dos relatos desses homens e dessas mulheres que viveram nas Caatingas, as conseqüências de uma luta ainda tão marcante para nosso povo do Sertão Nordestino. Misteriosa obediência ao segredo carrega o sertanejo, como se fosse parte inseparável o segredo e a honra. Alicerço-me no depoimento de Firmina Maria da Conceição, “Dona Cabocla”, cozinheira e lavadeira do bando de Lampião, que prestes a completar 102 anos de idade, no próximo mês de maio, lamentou ter me contado sua vivência com o Rei do Cangaço, se arrependendo de ter relatado sua relação dos préstimos de serviços ao cangaceiro, achando que mesmo hoje, o segredo deveria ter ficado guardado, só o confidenciando por insistência da filha Maria.

Por tamanha devoção e fidelidade cresceu minha admiração e respeito a essa mulher que é hoje parte da nossa história recente. É este um dos mais sinceros e puros exemplos de lealdade. Por ser Lampião a figura central do cangaço, sendo o maior expoente desse capítulo da história, o estudo referente ao tema tem recaído sua maior parte sob seus rastros. Diante do mínimo vestígio de fundamento, nós nos defrontamos com a questão inevitável de transmiti-lo. Os caminhos trilhados buscam os fatos inéditos, seguindo uma infindável legião de admiradores e estudiosos ávidos a alcançarem os novos achados. Em busca deles tenho me dedicado a longos dez anos de uma extensa pesquisa. Nessa caminhada na busca de informações sobre a história de Lampião, neste longo trajeto, um dos fatos mais marcantes foi a descoberta de um filho de Lampião e Maria Bonita. Das quatro gestações da cangaceira, sabíamos apenas sobre Expedita Ferreira da Silva, ainda viva e residindo em Aracaju. Quando comecei a escrever o livro: “A Trajetória Guerreira de Maria Bonita, A Rainha do Cangaço”, sempre que perguntava aos meus entrevistados detalhes sobre os gêmeos Arlindo e Ananias, irmãos de Maria Bonita, ou obtinha o silêncio por resposta ou escutava um curto e desafiador resmungar: “Ananias não é irmão de Maria Bonita não!”. Tive que me desdobrar para conseguir alguém que me explicasse mais abertamente essa afirmativa. Durante dias busquei os informes dos familiares e amigos que conviveram com Maria Bonita nos conturbados dias do cangaço. Um dos primos de Maria, um senhor chamado Manuel Maria dos Santos, apelidado por “Seu Nequinho”, um ex-barqueiro acostumado a atravessar, junto com o pai, os cangaceiros que cruzavam o milenar Rio São Francisco, foi o primeiro a confidenciar: “Ananias é filho de Lampião e Maria Bonita! Aqui todo mundo sempre soube desse segredo. Agora, na época de Lampião, quem era doido de andar com uma conversa dessa?!” Seu Nequinho ainda indicou mais algumas fontes que poderiam atestar o que ele estava dizendo e fui buscar a comprovação. Dentre as pessoas que fizeram seus relatos (e os tenho todos filmados para futuras comprovações) pode-se encontrar Servina Oliveira de Sá (prima de Maria Bonita), Eribaldo Ferreira Oliveira (sobrinho de Maria Bonita), os irmãos Osvaldo, Olindina e Maria Martins de Sá (primos de Maria Bonita), Firmino Martins de Sá (foi casado com a prima e melhor amiga de Maria Bonita: Maria Rodrigues de Sá). Estes são alguns dos que confirmaram a história que se segue: Dona Maria Joaquina Conceição Oliveira, “Dona Déa”, mãe da Rainha do Cangaço, estava grávida e por coincidência Maria Bonita havia engravidado quase que na mesma época. Por questão de aproximadamente dois dias, as duas mulheres viram nascer seus rebentos. Mãe e filha gerando vidas e fazendo crescer sua descendência. Pelas dificuldades impostas pela luta travada nas caatingas, onde cangaceiro vivia permanentemente em fuga, lutando contra as perseguições da polícia, filho era um entrave, levando perigo aos componentes do grupo e sofrendo as conseqüências da vida atribulada. Os filhos nascidos no cangaço, sempre iam cair nos braços de alguma autoridade política ou religiosa e às vezes enviados aos simples catingueiros, quando dotados da extrema confiança do cangaceiro. Duro castigo para as mães que tinham que ver seus filhos serem criados por outras pessoas. Maria Bonita dera à luz. Lampião arquitetou deixar o filho com a sogra, para que ela criasse as crianças como se fossem gêmeas e assim aconteceu. O filho de Dona Déa ganhou o nome de Arlindo Gomes de Oliveira e o filho de Lampião e Maria Bonita foi batizado como Ananias Gomes Oliveira. Ananias ainda está vivo, residindo em São Paulo. Arlindo faleceu recentemente. Era fácil observar as diferenças entre os irmãos: Arlindo era baixo e claro, Ananias é alto e moreno, ganhando por sua cor escura, o apelido de “Pretão”.



Dos depoimentos que se tem registro daquela época, o mais contundente é o deixado por José Mutti, major reformado do exército, que foi casado com Antonia Oliveira (irmã de Maria Bonita) e que escreveu o livro: Reminiscências de um ex-Comandante de Volante, que retrata com detalhes sobre a descoberta desse segredo, vejam a parte do capítulo que trata do mistério: “... ao chegar nos Picos do Tará, encontrei meus sogros arranchados numa frondosa quixabeira. Mandei construir dois quartos pra eles. encontrei duas crianças de dois anos cada. Tendo perguntado de quem eram filhos, dona Déa disse-me que eram mabaços (gêmeos) e eram seus filhos. As crianças eram completamente diferentes. O Arlindo sim, era parecido com a família, mas o Ananias era trigueiro (moreno escuro), não podia ser do mesmo casal José Filipe e Déa. Deu-me o estalo de ”Vieira”: será o Ananias, filho de Lampião e Maria? Comecei a perseguir a sogra: ‘Dona Déa, diga-me quem é o pai de Ananias, o Ananias não é filho da senhora e do José Filipe. Se a senhora disser de quem é filho o pretão (apelido do Ananias) eu guardo segredo até a morte’. Tanto persegui minha sogra para saber quem era o pai de Pretão, que um dia ela me disse “O Pretão é filho do homem” (a família de Maria Bonita tratava Lampião de “O HOMEM”), fiquei satisfeito e não falei mais no assunto”. Ai está desvendado mais um dos mistérios do cangaço e para registro histórico, vale salientar que Ananias concordou em fazer o exame de DNA, sendo coletado sangue de dona Mocinha (irmã de lampião), de Arlindo (o irmão que se diz gêmeo) e do irmão Ozéas Gomes. O desfecho está sendo aguardado porque vem sendo movido por meios judiciais uma vez que Expedita e Vera Ferreira (filha e neta de Lampião e Maria Bonita) se negaram a fazer os exames. Outro caso que foi bastante difundido foi o de João Peitudo - residente em Juazeiro do Norte (CE), onde veio a falecer - outro suposto filho dos Reis do Cangaço, mais um que tentou em vão se aproximar da família e não obteve resultados. Continuando no campo da pesquisa histórica, vasculhando as fontes que trazem alguma ligação com o cangaço, acabo de descobrir outro filho de Lampião, na cidade de Chorrochó, Bahia. Ele é da família dos famosos “Engrácias”, as primeiras pessoas que mantiveram contato com Lampião quando ele entrou no estado da Bahia, tendo vários membros dessa família seguido os cangaceiros. Alguns se tornaram famosos, como: Cirilo de Engrácia, Antônio de Engrácia, Zé Sereno, Zé Baiano, Arvoredo e Corisco. Da família dos “Engrácias” um dos grandes coiteiros de Lampião nessa região foi João Ramos de Souza, conhecido por todos como Joãozinho. Entre as filhas desse coiteiro Lampião se engraçou da jovem Helena e com ela teve um caso, poucos dias depois a menina-moça apareceu grávida e o Rei do Cangaço para resguardar a honra da jovem e não desmoralizar a família que tanto lhe dava guarida, tomou uma rápida e sábia decisão: pagou uma alta quantia a um rapaz, Simão Alves dos Santos, para que ele casasse com Helena e assumisse a paternidade do filho do cangaceiro. Simão topou o acordo e assim foi feito, nascendo a criança no dia 13 de agosto de 1930, sendo batizada com o nome de José Alves dos Santos. O parto foi realizado por dona Lídia, mãe do cangaceiro Zé Sereno. Durante muito tempo as conversas sobre esse caso foram mantidas em segredo, temendo a população que Lampião fosse sabedor que a conversa havia se espalhado. Quando Lampião morreu e o cangaço se extinguiu, as brincadeiras começaram a surgir e os amigos de José Alves sempre o perturbavam relacionando-o como filho de Lampião. Os comentários tornaram-se freqüentes e as pessoas de mais idade sempre tocavam no assunto. José Alves dos Santos ainda encontra-se vivo e residindo em Chorrochó, nas mesmas terras onde seus pais o criaram. Estive recentemente com ele quando realizei extensa entrevista e ele concordou em fazer um exame de DNA para realmente comprovar o que os fatos indicam. Os testes estão em andamento e só o tempo dirá se ele é realmente mais um filho gerado nas caatingas do Sertão Nordestino, mais um rebento descendente de Lampião, mais um fruto evidenciado de um farto capítulo da nossa história recente, a história do Cangaço, capítulo ainda tão latente, tão presente nos carrascais do Sertão."

Como vemos, todos querem contribuir para o esclarecimento da verdade, menos a família mais próxima de Lampião e Maria Bonita. Por que fazem isso? Que interesses estão envolvidos? Será que tem relação com o financeiro?

Esses dois temas, a homossexualidade de Lampião, plenamente rebatida por todos os pesquisadores, e os filhos dele espalhados por onde passou, podem ser considerados "calos do cangaço".

http://meneleu.blogspot.com.br/2016/07/os-calos-do-cangaco.html

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