(*) Rinaldo
Barros
A conversa de
hoje é uma reflexão em defesa da nossa jovem Democracia, duramente conquistada;
uma espécie de alerta sobre um fenômeno político ainda em gestação aqui no
patropi, mas com raízes já fincadas em alguns países da América Latina: o
surgimento de uma nova Autocracia. Vejamos.
Estamos
assistindo o alvorecer de uma nova era política em terras crioulas.
Com a
mundialização da economia, com a crise na União Europeia, com o enfraquecimento
do Mercosul, com novo governo federal à vista, necessariamente, teremos uma
nova realidade política em toda América Latina e Caribe, como de resto em todo
o planeta.
Todavia, o
impeachment presidencial é necessário, mas não é suficiente.
Nossos
governantes e parlamentares, assim como, todos os homens de boa vontade, estão
obrigados a repensar o nosso tempo. Como já tive oportunidade de lembrar aqui,
o sucesso de rótulos como "pós-moderno" e "pós-industrial"
evidenciam a incapacidade de os nossos dirigentes e intelectuais pensarem a
partir do nosso próprio tempo.
Temos tentado
pensar a partir do que já foi, e já não é mais.
Como se não
bastasse, é lamentável a palpável cooptação de muitos outrora importantes
movimentos sociais (como o sindical, o de mulheres e o de estudantes, por
exemplo). É igualmente preocupante a despolitização das novas gerações, às
voltas com um individualismo estéril, terreno fértil e perigoso para as
manipulações. E somente os dinossauros ainda não perceberam a força descomunal
da internet, revelando inusitadas formas de comunicação social.
Ninguém está
preparado ainda para lidar com essa novíssima realidade. Trata-se de uma série
de especificidades, eivada de ambiguidades, tecendo redes complexas e
fragmentadas de conceitos e paradigmas, as quais vão se redefinindo, por sua
vez, junto a cada movimento do real, a uma velocidade alucinante.
É uma espécie
de entrelaçamento de novas reflexões que envolvem a arte, a cultura, a
pedagogia, a tecnologia, a política, a economia, a produção de conhecimento, a
internet e, como não poderia deixar de ser, os pressupostos filosóficos. Há um
silêncio ensurdecedor da “intelligentsia” sobre o nosso tempo.
Acredito que o
próprio papel de intelectual está igualmente se redefinindo, da mesma forma que
cabe o questionamento dos conceitos do que antes se entendia como sendo
"esquerda" e "direita".
Não se trata,
é bom que fique claro, de afirmar o fim da história. Muito pelo contrário.
Trata-se, mais
do que nunca, de reencontrar um Novo Iluminismo, como continuidade do processo
histórico, das manifestações do novíssimo fazer humano.
Esta reflexão
tem a influência direta das minhas releituras, notadamente de um dos livros de
Cornelius Castoriadis, filósofo francês (Encruzilhada do Labirinto), a partir
do qual ousei intitular este texto.
O cenário
atual do patropi é composto por partidos fracos e sem novas lideranças,
Congresso desmoralizado, corrupção endêmica, sindicalistas que viraram
banqueiros, fundos de pensão (milionários) atraindo sócios privados
privilegiados. Ressalte-se que, no Brasil, os fundos de pensão não são apenas
acionistas - com a liberdade de vender e comprar em bolsas – mas são gestores
que controlam os conselhos de grandes empresas. Uma baita fonte de corrupção.
O fato é que -
devagarinho, o vírus da Autocracia minou o espírito da nossa Democracia
constitucional; a qual pressupõe regras, informação, participação,
transparência, representação, deliberação consciente e controle social. Nada
disso existe em nossa República Surrealista dos Trópicos (Mestre Walter, sua
bênção!)
Em verdade,
continuamos a ser uma República sem povo.
Trata-se de um
processo de desmoralização das instituições, combinada com o incessante culto à
personalidade, a um só tempo autoritário e popular. Uma espécie de
“fulanização” da política.
A meu ver, o
Brasil vivenciava com o PT (e ainda corre o risco) um processo de criação de um
novo e duradouro bloco de controle da máquina estatal, capaz de se manter por
algumas décadas. (Aliás, este sempre foi o projeto do PT: conquistar o poder e
governar para transformar, autocraticamente, o Brasil numa “potência”
bolivariana.
Por trás desse
“imbróglio” gigantesco, há toda uma camada de valores a ser estudada pelos
analistas sociais. Com um problema: seu estamento intelectual - e aí se incluem
os políticos - não pensa como a maioria do povo. Pior: nem sabe como essa
maioria pensa.
E não adianta
maldizer a realidade. Ela não deixará de ser real por isso. Estes são os fatos!
(*) Rinaldo
Barros é professor – rb@opiniaopolitica.com
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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