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sábado, 10 de setembro de 2016

LAMPIÃO E LAMPIÕES

Por Antonio Correa Sobrinho

O mais famoso dos bandidos brasileiros, e deste meu argumento excluo os praticantes, desde os tempos coloniais, do chamado “crimes de colarinho branco”, bem como desconsidero os que, no exercício de funções públicas, fardados ou não, ao longo de todos os tempos, cometeram incontáveis ilícitos, crimes, não raro, bárbaros e hediondos. Da mesma forma que deixo de levar em conta aqueles que, na governança dos povos, sem temores e sem medo de punição ou vingança, protegidos que estiveram pelas molduras do poder e pela fragilidade de suas vítimas, por interpostas pessoas agiram criminosamente, agiram absolutos sobre as coisas e sobre os direitos alheios, usurparam dos seus governados direitos, fizeram o mal contra o povo, contra os pobres e miseráveis; em nome da ordem, mataram, roubaram, dizimaram populações. 


Pois bem, o mais conhecido bandido brasileiro, penso não haver dúvida, VIRGULINO FERREIRA DA SILVA, vulgo LAMPIÃO, o “rei do cangaço”, o aterrorizante bandoleiro dos sertões nordestinos, nas quadras iniciais do século passado, abatido pela polícia alagoana, sob o comando do tenente João Bezerra, no crepúsculo da manhã do dia 28 de julho de 1938, na fazenda Angicos, no hoje município de Poço Redondo, Sergipe, personagem histórico dos mais impressionantes e fascinantes, cujo tratamento diferenciado dado a ele pelo destino, eu atribuo em boa parte, além do conjunto excepcional de sua obra de ilicitudes e de terror, ao fato de este homem, se não foi um herói, como assim não o vejo, embora o banditismo sistêmico, em qualquer organização social, diz de algo que está desequilibrado, descompensado, viveu heroicamente. Uma verdadeira saga foi o seu caminhar pela existência, porque não é fácil para qualquer ser humano, por quatro lustros vencer o desconforto, o medo, o perigo, a má alimentação, a sede, trilhar léguas e léguas de estradas, de caatingas, estar em mil lugares e praticar assaltos, saques, crimes outros, muitos deles vis, bárbaros, contra a vida, a família, a propriedade, num total desrespeito às leis, aos costumes, às convenções; e saber que estão em seu encalço forças militares e civis de sete estados nordestinos, muitas delas constituídas de perseguidores ferozes, algozes alimentados pelo ódio e pela vingança, ávidos para lhe capturarem. Contudo, a história conta que este bandoleiro, Virgulino Lampião, no seu trilhar aparentemente errante, mas apenas aparentemente, e mesmo vivendo a driblar a morte, que sempre esteve a lhe espreitar, pela mente e pelo espírito dos seus perseguidores, nunca deixou de ser o grande protagonista do banditismo sertanejo, em momento algum deixou este cangaceiro-mor de manifestar o seu inflado ego, de demonstrar a sua perspicaz inteligência, seu lado político e militar, seu pendor pelas artes; muito menos deixou de se relacionar amistosamente, de celebrar acordos, de contratar negócios, de manter laços com os simples e com os poderosos, e de curtir os prazeres da vida, promover festas, e amar. Lampião, que se fez lenda, mito, ainda hoje é sinônimo de ‘bandido perverso e sanguinário’, e foi alcunha de criminosos do passado, como um Zé Luiz, o “Lampião da Paraíba”; Agenor Gomes da Silva, apelidado de “Perigo”, o “Lampião dos Subúrbios” do Rio de Janeiro; Adão Rockemback, o “Lampião da Serra”, no sul do Brasil; Manoel Francisco de Lima Filho, o “Lampião de Angra dos Reis”; Mario Alonso, o “Lampião Mineiro”; Aníbal Vieira de Andrade, o “Lampião Paulista”; e “Lé”, Cipriano Moreira, o “Lampião do Sul”. São tantos Lampiões, mas só Virgulino Ferreira da Silva foi escolhido pelo destino para ser o Pelé dos bandidos brasileiros, ao lado do seu êmulo, mas menos conhecido, Antônio Silvino, meu xará.

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