Por Jerdivan
Nobrega de Araujo
A grande
pergunta: era como aquele Jacaré foi parar nas águas mansas do rio Piancó? O
primeiro avistamento foi feito por alguns moleques que saltavam dos galhos da
ingazeira. A notícia não foi levada muito a sério, e não chegou se quer a ser
assunto na Rua do Comércio, onde as fofocas se propagavam, e muitas vezes
viravam verdade nas versões de dona Maricô, Maria Deca e dona Zulima.
A semana
passou o assunto foi esquecido e a rotina do rio Piancó, com suas lavadeiras,
moleques brechando as meninas adolescentes desajeitadas e os vendedores de água
que enchiam as suas ancoretas para, enfim, sair pelas ruas de Pombal marcando o
caminho com a água que gotejava dos barris furados, até que chegassem as
residências dos seus fregueses sedentos de sede.
Passa o tempo,
passa tudo e o assunto já esquecido volta as manchetes da Rua do Comercio
quando uma lavadeira vê passar bem a sua frente o famigerado Jacaré, e aos
gritos corre para um lugar seguro. A gritaria chamou a atenção das demais
lavadeiras, que já arriscavam até o tamanho do bicho. Em algumas versões
chegava a “quatro metros do rabo a cabeça”.
Como desta
feita tínhamos testemunhas, não havia mais como negar: existe sim jacaré
vivendo nas águas do rio Piancó.
A partir
daquele dia os meleques, lavadeiras e aguadores começaram a se precaver,
tomando cuidado para não se depararem ou serem surpreendidos com o novo morador
do rio. As sombras e galhos das ingazeiras começaram a se esvaziar, já que os
pais não mais deixavam os filhos tibungarem nas águas, agora perigosas, do rio.
Desta forma, o
rio Piancó, antes tão prazeroso passou a ser um local perigoso. Os mais
incrédulos ainda duvidavam se de fato existia ali um jacaré, e se fosse verdade
como o bicho chegou às redondezas, já que não são nativos do nosso sertão.
Especulações sugiram: a história recorrente era que fora trazido por um
Caminhoneiro que transportava madeira do Pará, e por maldade o largou no rio.
A verdade era
que a cidade estava em pânico e havia de se fazer alguma coisa. Seu Meira,
famoso pescador se juntou com mão de onça e fizeram umas batidas nas margens do
rio, sem muito êxito já que o animal era fugaz, tornando-se invisível aos olhos
dos pescadores bêbados.
A sorte do
Jacaré mudou em certa manhã quando Biró de Onofre, Curinha e Tabajara, ao tempo
que degustavam uma garrafa de cachaça a beira do rio especulavam o que
aconteceria se ali nas sombras da ingazeira, de repente aparecer o famoso e
indesejável morador do rio Piancó. De repente, entre uma e outra garrafa de
cachaça não é que Curinha aponta para a água, e denuncia aos demais a presença
do jacaré “ouvindo a conversa”?
Sem titubear,
já que a cachaça não nos permite discernir entre o certo e o errado ou o perigo
e a segurança, Curinha pula sobre o Jacaré que lhes responde com uma chicoteada
de cauda no meio do peito quer o deixa zonzo. Vendo o amigo em perigo os dois
heróis pulam na água, e começa a peleja contra o jacaré, que segundo Tabajara
me falou, era novo, mas tinha muita força na cauda e se defendia heroicamente.
Por fim, o
jacaré foi vencido, capturado, morto e levado como um troféu a ser exibido
pelas ruas da cidade, com direito a foto dos três heróis com o animal nos
braços. Festejado o ato inédito e heroico, o jacaré foi divido em três partes
iguais entre Biró de Onofre, Tabajara e Curinha, para ser degustado com mais
cachaça. Tabajara me disse que nunca havia comido uma carne tão ruim.
Restava ainda
a explicação de onde viera aquele “dessorturdo” animal, que com certeza fizera
uma longa viagem antes de se transformar em tira-gosto nas cachaçadas dos três
amigos e seus convidados.
Em fim, depois
de tanta especulação, a cidade teve a resposta: O jacaré pertencia a Pedro
Celestino Dantas (Pedão do depósito Antártica). O animal era criado no sitio
“Ramadinha”, de onde fugiu caiu nas águas do rio e acabou virando tira-gosto.
Tem ainda a
versão de Pedão que dizia que o jacaré não fugiu coisa nenhuma: fora roubado
por cachaceiros, e conseguiu escapar para o rio.
Ao final é a
mesma coisa.
É a essa a
versão, ainda não definitiva, do CURINHA, TABAJARA BIRÓ DE ONOFRE E O JACARÉ DO
RIO PIANCÓ, com narração livre de quem viveu aquele momento.
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Jerdivan Nobrega de Araújo. Advogado. Escritor. Poeta. Funcionário da Empresa Brasileira de Correios e Tele´grafos em João Pessoa/PB. Pombalense radicado na capital paraibana. Membro efetivo do Grupo de Estudos Benigno Ignácio Cardoso D' Arão.
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Jerdivan Nobrega de Araújo. Advogado. Escritor. Poeta. Funcionário da Empresa Brasileira de Correios e Tele´grafos em João Pessoa/PB. Pombalense radicado na capital paraibana. Membro efetivo do Grupo de Estudos Benigno Ignácio Cardoso D' Arão.
Enviado
pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de
Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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