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domingo, 9 de outubro de 2016

“A TRISTE SINA DE LUÍS PEDRO DO RETIRO"


Querido amigo José Mendes Pereira, quando eu estava escrevendo o meu “Lampião – a Raposa das Caatingas”, estive no sítio Retiro, nos arredores de Triunfo, e vi o local onde nasceu o cangaceiro Luiz Pedro. No local mora hoje uma sobrinha dele, chamada Antônia Gomes de Siqueira (Antônia Pedro), que eu entrevistei no dia 10.1.2009. Vi os torrões da casa onde Luiz Pedro Nasceu. No ano anterior, eu já havia entrevistado, no dia 13.1.2008, outra sobrinha de Luiz Pedro, dona Isaura Rodrigues de Siqueira (Isaura Pedro), residente em Calumbi, antiga São Serafim. Dona Isaura me deu informações preciosíssimas, que reproduzi no capítulo 27 do referido“Lampião – a Raposa das Caatingas”. No final do livro, na página 719, consta a árvore genealógica de Luís Pedro.


A fim de contribuir com os amigos que prestigiam, como eu, o BLOG DO MENDES - http://blogdomendesemendes.blogspot.com, reproduzo a seguir o referido capítulo:

“A TRISTE SINA DE LUÍS PEDRO DO RETIRO


Em todos os setores da sociedade humana há pessoas boas e pessoas más. Assim também ocorria no mundo do cangaço. Ali havia de tudo, desde elementos que nasceram para o crime até homens de elevado quilate que as circunstâncias lançaram naquela via sem retorno.

O cangaceiro Luís Pedro foi um desses. É uma pena que um homem com suas qualidades virasse bandoleiro. Era filho de uma família de agricultores dos arredores de Triunfo, na divisa de Pernambuco com a Paraíba. Seus parentes, estabelecidos nos sítios Retiro, Junco, Canabrava e Almas, eram exemplo de gente trabalhadora e digna, gente que, quando empenhava sua palavra, podia vir a prejudicar-se ou até a perder a vida, mas cumpria o compromisso.

O garoto Luís Pedro criou-se num clima de culto à valentia. Em sua infância, não havia ainda Lampião. As estrelas do cangaço na zona do Pajeú eram os cabras de Cindário Carvalho e Sinhô Pereira. Como a maioria dos rapazes de sua época, Luís Pedro foi contagiado por aquele ambiente de aventura e macheza, materializado nas roupas vistosas e nos reluzentes apetrechos dos cangaceiros.

Em fins de 1923, um primo de Luís Pedro chamado Henrique foi assassinado na presença dos filhos. Luís Pedro não pensou duas vezes: passou fogo no assassino.

Era praticamente um menino, tinha apenas 14 anos. Com medo de ser preso, foi pedir proteção a Lampião, que naqueles dias vivia jogando baralho e dançando xaxado no sítio Almas. O dono do sítio, alferes João Timóteo de Lima, era casado com uma moça da família de Luís Pedro – família Rodrigues. Por isso, o novato já entrou no bando com privilégios e distinção. Jovem, inexperiente, abraçou de corpo e alma a vida cangaceira. Quando se arrependeu, já não havia como retroceder. Costumava lamentar:

– Eu sou cumo um urubu. Mĩa vida nun vale nem um palito de fósco riscado.

Várias vezes, a fim de matar a saudade, ele ia escondido até perto de sua casa, no Retiro, para ver a mãe, e ficava olhando-a de longe, enquanto ela cuidava dos afazeres domésticos ou ia lavar roupa no tanque, mas evitava que ela o visse, pois tinha vergonha de ser a ovelha negra da família. Achava que seria repreendido ou teria de ouvir conselhos que não podia seguir.

Luís Pedro foi o mais leal de todos os cabras de Lampião, ficando com ele durante 14 anos, até à morte em Angico.

Mesmo tendo passado 14 anos no cangaço, Luís Pedro distinguiu-se sempre como um homem equilibrado, de palavra, não se tendo conhecimento de perversidades ou baixezas de sua parte. Comunicativo, jovial, estava sempre bem-humorado. Era o conselheiro de Lampião, seu braço direito, uma das poucas pessoas a quem Lampião dava ouvidos e atendia. Houve inclusive ocasiões em que escorou o chefe na boca do mosquetão, fazendo-o acalmar os seus furores e mudar de ideia. Era corajoso como poucos. Lampião dizia:

– Cumpade Luís Pedo vale pur trinta boca de fogo.

Ficou conhecido como Luís Pedro do Retiro em alusão ao sítio onde nasceu, a meia légua de Triunfo.

Alguns autores se referem a ele como Luís Pedro Cordeiro. Porém ele não tinha “Cordeiro” no sobrenome. O equívoco decorre do fato de sua irmã Elvira Pedro ter casado com Joaquim Cordeiro, de São Serafim (atual Calumbi), gerando vasta prole com o sobrenome “Cordeiro de Siqueira”.

Ele também não tinha “Pedro” no sobrenome. Seu nome real era Luís Rodrigues de Siqueira. Seu pai, Pedro Alexandrino de Siqueira (Pedro Vermelho), ao ficar viúvo, casou com Rufina Maria da Conceição, uma moça da família Rodrigues, com quem teve 18 filhos (13 homens e 5 mulheres). Em virtude do nome do patriarca da família – Pedro Vermelho –, a filharada ficou conhecida como “os Pedro”: fulano Pedro, fulana Pedro... Luís Pedro era o caçula. 

Pedro Vermelho tinha uma engenhoca de rapadura no sítio Brejo, vizinho da fazenda Retiro, de Joaquim Marinheiro, pai do coronel Marçal das Abóboras – o Retiro e as Abóboras haviam pertencido a Braz Nunes de Magalhães, bisavô de Agamenon Magalhães, que viria a ser governador de Pernambuco.

A família Pedro foi duramente perseguida pela polícia, especialmente pela volante de Clementino Quelé, e durante muito tempo todos tiveram de abandonar o sítio, indo morar na Pedra (atual Delmiro Gouveia), em Alagoas. Um irmão de Luís Pedro, chamado José Rodrigues de Siqueira (José Pedro), levou consigo um garoto que criou como filho, chamado Eliseu Norberto. Eliseu viria a casar com Anália Ferreira, irmã de Lampião. Eliseu foi vendedor de redes. Tornou-se grande fazendeiro em Delmiro Gouveia. Há uma escola municipal em Delmiro Gouveia com o seu nome.”

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