Por José Romero
Araújo Cardoso
Francisco Pereira Dantas marcou de forma extraordinária presença no grande
movimento cangaceiro na turbulenta década de vinte do século passado,
tornando-se personagem de destaque em razão dos múltiplos fatores que o levaram
a ingressar na vida errante que acabou envolvendo importante clã sertanejo
nucleado na antiga vila de Nazaré (Hoje município de Nazarezinho, Estado da
Paraíba).
Vingança repreendida com veemência pelo genitor resultou em
série de fatores cujo ponto culminante foi o audacioso ataque bandoleiro à
cidade de Sousa (Estado da Paraíba) em 27 de julho de 1924, fato que lhe fez
aproximar-se de forma exponencial com o núcleo maior do banditismo rural
sertanejo.
Polêmica literária em torno de sua representação teve sua gênese quando
da publicação de Vingança, não – Depoimentos sobre Chico Pereira e cangaceiros
do Nordeste, livro que se tornou célebre em razão do pioneirismo na abordagem
acerca da figura mítica que se tornou o cultivado cangaceiro paraibano, sendo a
autoria do ex-sacerdote e filósofo Francisco Pereira Nóbrega, filho do famoso
quadrilheiro das caatingas sertanejas, avolumam-se as formas como vem sendo
apresentado o cangaceiro que se diferenciou radicalmente da maioria que fez do
cangaço sob domínio de Virgulino Ferreira da Silva movimento social
extraordinário que adquiriu proporção nitidamente protomafiosa devido à
montagem de esquemas e estratégias notáveis que se intercalaram sagazmente com
expoentes do mandonismo local ávidos em usufruir de vantagens que acordos
informais garantiam, alicerçados na luta incessante pela manutenção do status
quo e acumulo de riquezas, sinônimos de prestigio na atribulada conjuntura que
caracterizou momentos de intensa atuação dos bandoleiros das caatingas.
Gerações inteiras no sertão paraibano e em outros ermos perdidos foram
marcadas pelas histórias contadas nos alpendres, em botequins, nas rodas de
amigos, nas lembranças dos avós, etc., acerca das façanhas de Chico Pereira em
sua luta por justiça em um território no qual imperava a lei do mais
forte.
O cangaceiro Chico Pereira
Versões referentes a Chico Pereira como cangaceiro sedutor surgem mais tarde,
pois suspeitas de comportamento donjuanesco tendem a direcionar razão de sua
trágica morte com a sedução de parente próxima de importante político
norte-riograndense.
Buscando
referência no conceito de lugar social, formulado por Michel de Certeau,
Guerhansberger Tayllow Augusto Sarmento analisou em seu trabalho de conclusão
de curso de Licenciatura Plena em História, defendido no ano de 2016 no Centro
de Formação de Professores da Universidade Federal de Campina Grande, as
múltiplas faces apresentadas sobre o famoso bandido paraibano, problematizando,
dessa forma, as memórias construídas em torno do cangaceiro Chico Pereira e
contribuindo formidavelmente para a compreensão do personagem e de sua época.
José Romero
Araújo Cardoso. Geógrafo e Escritor. Professor-Adjunto IV do Departamento de
Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Sócio
da SBEC (Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço), do ICOP (Instituto
Cultural do Oeste Potiguar) e da ASCRIM (Associação de Escritores
Mossoroenses). E-mail: romero.cardoso@gmail.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário