A Coluna
Prestes em Piancó
Agora eu vou contar
Uma história
verdadeira
Que se deu em Piancó
Uma cidade altaneira
Do sertão da Paraíba
Coisa séria, não foi besteira.
Dia nove de fevereiro
Do ano de vinte e seis
Os fatos que lá se passaram
Ficaram na nossa história
Uma glória às avessas
Do povo ficou na memória.
Eram oito da manhã
Quando Coluna entrou
Pensando ser recebida
Com respeito e sem ardor
Mas determinado soldado
Na coluna atirou.
Os homens de Carlos prestes
Então malucos
ficaram
Disseram: vamos vingar
A traição da cidade
E do padre Aristides
Só vai ficar a saudade.
O padre era
líder político
Famoso na região
Tinha enfrentado os Leite
Com força e determinação
Prometera receber a coluna
Com respeito e consagração.
Mas acontece que o padre
Na verdade foi traído
Disseram que a coluna
Estava enfraquecida
Para agradar ao governo
O padre perdeu a vida.
A coluna avançou
Pela Nove de Fevereiro
Então chamada Rua Grande
Foi chumbo pra todo lado
“Nego” correu assombrado
Sem rumo e sem roteiro.
Havia – essa é a verdade –
Dois piquetes na cidade
Um era da polícia
Outro dos homens do padre
Tudo gente bem valente
De nome e honestidade.
Mente quem diz que o padre
Com cangaceiro se juntou
Para enfrentar a coluna
Com muita gente se armou;
O contingente do padre:
Quarenta amigos de valor.
Em dado momento alguém
Levantou uma bandeira
Era branca da cor da paz
Mas foi mesmo uma besteira;
O tiroteio
aumentou
Causando muita zoeira.
Existe muita versão
Acerca dessa bandeira
Umas com lógica, outras não;
Vamos dizer quais são
Para que o leitor conheça
A história verdadeira.
Uns dizem que foi um detento
Preso naquele dia
Mas o padre Otaviano
Despreza essa “aresia”
Diz que foi Manuel Cândido
Chefe da coletoria.
O padre fala a verdade
Porque com Manuel conversou;
Os homens o revistaram
Nenhuma arma encontraram
Segundo o pobre de Cristo
Tomado pelo terror.
Não houve
muitas bandeiras
Como enganado falou
Um certo Domingos Meireles
Que disse muitas asneiras
Sendo um homem de TV
Se mete a historiador.
Também a respeito mentiu
O livro de Anita Prestes
Que em nome do pai assumiu
uma bobagem falando
Como certo afirmando
Aquilo que o pai não viu.
Prestes naquele dia
Em Piancó não estava
Tinha ficado em Coremas,
De Piancó bem perto
A verdade é que ao certo
Ele de nada sabia.
O fogo maior se deu
Perto da praça principal
Bem ao lado da cadeia
Foi uma batalha campal
Agora eram só os do padre
Combatendo aquele mal.
A coluna se não era
Sanguinária se tornou
Tocaram fogo na casa
Do padre e o fogo provocou
A corrida de Inácio
E de outro morador.
Inácio disse ao padre:
- Vamos fugir do lugar
O padre disse: - não fujo
Morro, mas vou ficar
A morte não me amedronta
O meu dever é lutar.
Inventaram sobre o padre
Algo que não tem perdão
Dizem que ele ofereceu
Mil votos pela salvação
O padre sabia que votos
À coluna não interessava não!
Seguiu-se então a maior
Chacina da região
Os homens arrancaram o padre
Da casa, sem compaixão
Nem deixaram o pobre rezar
A reza da extrema unção.
A verdade é que há suspeita
E a versão é corrente
De que inimigos do padre
Da ocasião se aproveitaram
Juntaram-se, então, à Coluna
E do homem de Deus se vingaram.
Um livro de Glauco Carneiro,
Historiador verdadeiro
Fala dessa versão
Que o povo consagrou
O inimigo seriam os Leite
E essa historia se abafou.
Há também uma história
De uma máscara caída no chão
Alguém teria se juntado
À coluna no Piauí
Levara uma surra do padre
E da vingança viera agir.
A versão não é provada,
Mas a máscara existiu
Joanita, a filha do padre
Comprovou a existência
E falou a esse poeta
Com bastante coerência.
A verdade é que a chacina
O nome da coluna manchou
A passagem por Piancó
Pra ela não trouxe valor
Somente a fortaleza
Do sertanejo comprovou.
O padre errou porque quis
Ao governo agradar
A coluna porque exagerou
Para uma “traição” vingar
E os Leite porque – diz o povo! –
Quiseram se aproveitar.
Julgue você, leitor,
Os fatos que aqui contei
As coisas que têm fervor
O peso delas não sei.
Tire sua conclusão
Razão procure usar
Interesse na verdade
Não vá se atrapalhar
Da cidade filho sou
Ah, mas tenho valor
De saber reconhecer
E só o que é certo dizer.
Com critério e
sem partido
A verdade procurei
Vasculhando, destemido,
As versões que encontrei
Leia também, amigo,
Cada livro que encontrar
Acerca desse episódio
Na história singular
TRINDADE agora se despede
E o cordel vai terminar.
João TRINDADE
é advogado, poeta, professor e radialista. Nasceu em Piancó – PB, em 1957,
mas se transferiu para Patos aos 5 anos e, aos 14, para João Pessoa, onde vive
até hoje. Atualmente, exerce o magistério no Centro universitário de João
pessoa, Unipê, onde leciona a disciplina Introdução ao Direito, há 20
anos. É colunista do Correio da Paraíba; do Jornal o Comércio, de Brotas,
SP; e do jornal da Associação dos Magistrados da Paraíba. É autor, entre
outros, de “A Língua no Bolso”, obra que é sucesso nacional e do livro de
poemas “Um Pouco Além do Sonho”.
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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