Por Sálvio Siqueira
O Tenente João
Gomes de Lira, natural do Distrito de Nazaré, Fazenda Jenipapo, município de
Floresta, PE, veio ao mundo no dia 3 de julho de 1913, verve do casal Sr.
Antônio Gomes Jurubeba e dona Luciana Maria da Conceição. Falecendo no dia 3 de
agosto de 2011, com 98 anos de idade.
Lira fez parte
da tropa volante considerada à “tropa de elite” no combate ao cangaço. Gomes de
Lira entra para essa volante aos 18 anos de idade, no dia 16 de julho de 1931.
Travou vários combates contra bandos de cangaceiros, inclusive contra o bando
de Lampião. Modesto em suas memórias, João nos fala sobre essa fase em sua vida
em seu livro “Lampião – Memórias de um Soldado de Volante”, lançado sua 1ª
edição pela FUNDARPE e CEPE, no Recife em 1990.
Sobre o lançamento das suas memórias em livro, ocorre um empecilho inesperado,
relatado pelo pesquisador/historiador do tema cangaço Rostand Medeiros, em seu
blog tokdehistoria.com, vejamos o que o escritor nos diz:
“(...)E olhe
que este fantástico livro quase não sai!
Ele narrou a
mim (e está gravado), que após concluir o calhamaço de papéis que iria gerar
“Lampião – Memórias de um Soldado de Volante”, Lira foi a Recife procurar uma
instituição pública, onde um iluminar, um sábio, que possui todas as
titularidades acadêmicas, todo o conhecimento sobre o cangaço, havia
anteriormente lhe oferecido apoio na publicação de sua obra.
Ocorre que o
gênio, o mestre do cangaço, ficou com o material e simplesmente se “esqueceu” de
devolver e nem satisfação deu.
Mas Lira, “Que
não tinha medo de cara feia e nem de perna cabeluda”, como dizia o saudoso
Chico Science, foi procurar ninguém menos que Roberto Magalhães, o governador
do estado de Pernambuco na época. No palácio do governo foi bem recebido e
tratado com todo respeito e honra que merecia.
Daí a ordem
veio de cima para baixo (no caso bem lá embaixo) e o “Dotô” botou o rabinho no
meio das pernas e devolveu tudo. Então “Lampião – Memórias de um Soldado de
Volante” surgiu para deleite da massa(...)”. (tokdehistoria.com)
João Gomes de Lira, em um dos combates que participou, estava com seus companheiros e comandante próximo a uma ‘vagem’, baixa onde, normalmente há fruteiras, quando alguns do soldados resolvem ir ver se tem manga madura para comerem. Chegando próximo a mangueira eles notam que há algo de anormal acontecendo, pois, de repente a passarada cala o bico e não se escuta mais som algum na mata. Experientes, sabem que tem cangaceiros por perto.
Dão meia volta
em cima dos calcanhares e pernas pra que te quero, correm em direção ao
restante da tropa. Um deles, provavelmente o mais atrasado, tem uma ideia na
medida em que corre. Sabedor de que logo que colocasse as mãos na cerca, para
pular, os cangaceiros, provavelmente, atiraram nele. Pois bem, narra o Tenente
que seu amigo coloca as mãos na cerca, porém, de imediato salta para um lado.
Onde ele teria que pular a cerca de princípio, ocorreu uma saraivada de balas
e, sem ter ido para um lado, teria sido crivado por elas.
Nesse mesmo
sítio, após o primeiro embate, o comandante Manoel Neto segue por uma trilha
rastejando vestígios. De repente sente uma pancada nas costas, é um de seus
homens mostrando um cangaceiro a frente, do outro lado do riacho. O soldado
atira no cangaceiro por sobre o ombro de Manoel Neto. O cangaceiro responde com
tiros e palavrões indagando com quem brigava e dizendo ser Corisco. Manoel Neto
responde dizendo não ser ninguém não, eram os meninos de Pernambuco. Que
Corisco ficasse que iriam continuar lutando.
Corisco detona
vários palavrões contra o comandante. O comandante salta a cerca e segue em
direção ao cangaceiro, atravessando a areia do riacho seco, dizendo que ele não
fugisse. A cada passo um tiro, e avançando sempre. Corisco viu que não dava pra
ele e deu no pé.
Durante o
tiroteio que aconteceu, o soldado João Gomes de Lira relata que seu fuzil teve
um problema. Não conseguindo consertá-lo, pede auxilio ao cabo, no que o mesmo,
após saber do problema, diz não ter como consertar a arma ali. Que ele se
protegesse no pé da cerca que estava ‘chovendo bala’.
O corpo do
homem desaparece, mas, suas obras ficam para posteridade. O Tenente João Gomes
de Lira transpôs a barreira da vida, desencarnando, nos deixa suas memórias em
um maravilhoso livro. Foi o primeiro livro que li sobre o Fenômeno Social
Cangaço.
No funeral do
tenente João Gomes de Lira, ele foi homenageado pela então CIOSAC - Companhia
Independente de Operações e Sobrevivência na Área de Caatinga – justamente a
companhia militar inspirada nas volantes da época do cangaço.
Essa homenagem foi comandada pelo então subtenente Elesbão, que, hoje aposentado, reside em São José do Egito, PE... No Pajeú das Flores.
Fotos tokdehistoria.com
cariricangaço.com
acervo João De Sousa Lima
acervo do sub-tenente Elisbão Brasiliano
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