Por Rinaldo Barros
(*)
O que explica
a eleição de Donald Trump não é a política. É a economia.
Considerando
os 120 milhões de eleitores que compareceram às urnas nas eleições
presidenciais dos EUA, Donald Trump foi eleito, majoritariamente, por homens
brancos da classe média baixa, maiores de 40 anos, com educação básica ou
secundária, moradores em pequenas cidades, protestantes, com renda superior a
50 mil dólares anuais, mas também por grande parte dos nativos desempregados.
Esse segmento
majoritário do eleitorado de Tio Sam não age por ideologia, mas decide seu
destino a partir do bolso. O apelo de Trump foi pela reconstrução da grande
nação americana, com geração de muitos empregos.
Trump assumirá
no dia 20 de janeiro, quando o atual presidente, Barack Obama, se despede de
seu segundo mandato. O Partido Republicano, de Trump, também assegurou maioria
no Senado e na Câmara, abrindo caminho para reformas profundas.
Todavia, a
questão é bem mais complexa.
Considerando o
poder real, o establishment, Trump foi apoiado a partir do discurso de
recuperar e modernizar o poderio militar americano - representa os
interesses poderosos das empresas direta e indiretamente ligadas ao “complexo
industrial militar” (produtoras de armamentos, munições, bombas, mísseis,
minas, navios, porta-aviões, submarinos, aviões de caça, helicópteros, tanques,
veículos militares, fardamentos, alimentos processados, medicamentos, entre
outros), e empresas produtoras e distribuidoras de carvão, gás e petróleo.
Trump deve
frear a luta contra as mudanças climáticas, notadamente a cooperação
internacional com potencial efeito dominó sobre as economias emergentes.
Veremos uma postura de menos empenho estadunidense sobre o tema.
Trump deve
rever compromissos assumidos por Obama em relação ao consumo de combustíveis
fósseis, tomando como base suas declarações de descrédito em relação às causas
do aquecimento global.
Ou seja, o
mundo agora deve andar sem os Estados Unidos na estrada para a diminuição dos
riscos climáticos e do crescimento da inovação das energias limpas (eólica e
solar).
Trump se
referiu, ao longo da campanha, à globalização como um fenômeno nocivo para a
economia americana. Ele apelou para a classe média trabalhadora - sobretudo a
desempregada - prometendo trazer de volta aos EUA os empregos que foram criados
no exterior, no processo de internacionalização das empresas americanas.
Esse apelo à
“desglobalização” não é exclusividade da campanha republicana. Também no Reino
Unido, o discurso protecionista e nacionalista fez triunfar em plebiscito a
proposta de retirar o país da União Europeia, num processo apelidado de Brexit,
em junho deste ano.
Forças
nacionalistas capitalizaram o descontentamento provocado pela fraca recuperação
da crise econômica global. Até por aqui, no patropi, petistas culparam o
comércio internacional e os estrangeiros pelo fracasso dos seus governos...
Por falar
nisso, uma certeza sobre o governo Trump é que haverá um aumento significativo
do protecionismo na economia dos EUA, devendo ficar muito mais difícil vender
nossos produtos por lá.
Mais
importante que a posição contrária de Trump à globalização, contudo, é o
componente de incerteza, a imprevisibilidade do novo Presidente.
Não se sabe ao
certo o que o candidato republicano realmente será capaz de implementar.
A
imprevisibilidade faz com que os investidores tendam a concentrar seus
investimentos em ativos de menor risco. Isso significa fuga de capitais de
mercados mais arriscados, como o Brasil. Isso traz grandes consequências para a
economia brasileira. Por um lado, o dólar mais caro beneficia a indústria e o
setor exportador. O câmbio depreciado melhora a remuneração de quem exporta no
Brasil. Por outro, prejudica quem importa e tem impactos negativos na inflação.
É um novo
recomeço para todas as nações do planeta. E um risco a mais, aqui, em terras
crioulas.
(*) Rinaldo
Barros é professor – rb@opiniaopolitica.com
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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