Por Jerdivan Nóbrega Araujo
Todos os
meninos tem uma fantasia que assombra o seu sono, e que as mães usam para
obrigá-los a se comportarem adequadamente. Par as criança de Pombal não tinha o
“Homem do Saco”, “Maria Algodão”, ou coisa do tipo para os dias de hoje: o que
assustava as crianças da minha época, além dos loucos das ruas da cidade na
década de 1960, era o famoso “Papa Figo”. Porém, o meu medo no tempo d’eu
criança, era bem mais assustador, e tinha nome e endereço. Eu sempre o via
atravessar a Rua de Baixo, em sua bicicleta, com os seus instrumentos de
trabalho no bagageiro: um estojo de injeção, e dentro uma seringa de vidro e
uma agulha hipodérmica em aço: seu Zé de Santa.
Seu Zé de Santa não era um home mau: ao contrário, era um experiente enfermeiro muito conceituado da nossa cidade, e salvou muitas vidas.
Na cheia de 1967, uma das maiores do Piancó, o governo do Estado distribuiu a famosa “antitetânica” e a milagrosa “Penicilina”. As duas foram aplicadas em “massa” no couro dos moradores dos bairros mais atingidos pelas águas.
Seu Zé de Santa e outros profissionais se desdobraram para aplicar as injeções, principalmente nas crianças.
Ele chegava em sua bicicleta, mandava ferver água para esterilizar os
instrumentos, e dava início ao “tirinete”. Os pais seguram as crianças, que
estrebuchavam em seus braços, e tome injeção. A agulha hipodérmica mais parecia
um raio de bicicleta, entrando couro do “desinfeliz”: chegávamos a ouvir o
estralo ao atravessá-lo. Ouvia-se de longe o grito dos moleques, que até
parecia seu Godô capando um bacurim.
Nas casas que tinham mais de uma criança para aplicar a maldita injeção, quando o segundo via o sofrimento do irmão saia em disparada pelas ruas, com o pai atrás no encalço. Alguns mais espetos só apareciam em casa à boca da noite, mas, não tinha escapatória: Zé de Santa era impiedosa e no outro dia ele estava de volta para concluir o seu trabalho de tortura.
E era por isso que quando as crianças se recusavam a comer, a mãe se valia de
uma estratégia infalível.
― coma, se não eu vou chamar seu Zé de Santa!
Mas, nem tudo era sofrimento: quando o víamos passar em sua bicicleta, já
sabíamos que alguém ia gritar de dor. E era divertido olhar pela janela e ouvir
a gritaria dos moleques nas garras do velho aplicador de injeção.
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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