Por Sálvio Siqueira
O Governo
Federal, entre os anos de 1922 e 1926, na administração do Presidente Arthur
Bernardes, fora marcada pela instabilidade política, herdada da crise econômica
e dos conflitos políticos e revoltas armadas, que se intensificaram, mais
ainda, neste período. O governo tenta impor o republicanismo oligárquico, o
qual foi constantemente ameaçado por movimentos de conspiração civil e militar,
então determina o “Estado de Sítio”, dispositivo que ampliava seus poderes no
Executivo, reduzindo, ou diminuindo, o direito de liberdade individual.
Essa decisão,
tomada por Arthur Bernardes, deixa-o com poderes para conter todo e qualquer
movimento dos seus opositores, civis ou militares. Em contra partida, atinge de
cheio o setor agrícola e leiteiro, causando descontentamento nos cafeicultores
e produtores de leite das Regiões Sudeste e Sul, denominada, na época de
“café-com-leite”.
O pessoal sul-rio-grandense afasta-se do governo e dos produtores do sudeste.
Aos poucos, as lideranças oposicionistas, começam a recrutar aqueles que faziam
parte das Forças Armadas e que estavam descontentes com aquela situação.
“(...)
Objetivando obter o apoio dos militares, essas elites dissidentes vão explorar
o descontentamento de setores do Exército com o regime republicano oligárquico
em vigor. Progressivamente, vão se aproximar do movimento tenentista que mais
uma vez eclodiria como uma insurreição armada (...).”( https://educacao.uol.com.br)
De certo, a
juventude oficial do Exército brasileiro, o tenentismo, inicia um movimento que
mais tarde levaria a Nação a uma guerra civil. Essa classe de oficiais
militares, os tenentes, já havia feito um movimento semelhante no governo de
Epitácio Pessoa, em julho de 1922, no Rio de Janeiro, Capital do País na
ocasião, denominada de a “Revolta do Forte de Copacabana”. Em julho de 1924, já
no governo de Arthur Bernardes, eclode na capital paulista novo levante armado,
com participação daqueles que organizaram o do Rio de Janeiro, o qual
transforma as ruas e avenidas da cidade de São Paulo em um campo de batalha,
tanto arrochado fora que o governador do Estado, Carlos de Campos, tem que
deixar a cidade às pressas para não ser morto.
“(...) São
Paulo se transformou em campo de batalha com a ocorrência de inúmeros combates
violentos que levaram o governador do Estado a abandonar a cidade (...).” (St.
Ct.)
O governo
federal envia tropas para abafar o levante tenentista na Capital Bandeirante.
Conseguindo seu intento, obriga os tenentes ‘paulistas’ darem costa e saírem
rumo à fronteira boliviana. Sabedores desse levante em terras paulistas, alguns
oficiais partem do Rio Grande do Sul, sob o comando do Capitão Luís Carlos
Prestes e encontram-se, em Foz do Iguaçu, com os que haviam partido de São
Paulo, formando um contingente de mais ou menos 1500 homens. Essa nova tropa
fica sob o comando do general Miguel Costa e do capitão Prestes, a qual, com
seus movimentos pelo interior do país, transformam-se nos “Revoltosos”,
recebendo o nome, o qual se eterniza na História, de “Coluna Prestes”. Entre os
anos de 1925 a 1927 a “Coluna Prestes”, percorre cerca de 24 mil quilômetros
dentro do território brasileiro, procurando incentivar a população,
principalmente rural, se insurgir contra o Governo Federal. O interessante que
não havia de fato um conjunto de ideias políticas que dessem sustentáculo a uma
revolução.
“(...) O
movimento tenentista deste período era portador de uma ideologia política
difusa, ou seja, ainda não havia elaborado um conjunto de ideias que
sustentasse um programa político revolucionário (...) a falta de uma maior
vinculação orgânica com os setores civis urbanos levou o movimento tenentista a
adotar uma postura que o afastou das alianças com os movimentos de massa (...)
Como militares, os tenentes se consideravam guardiões da pureza das
instituições republicanas e responsáveis pela "salvação nacional” (...). “
(Renato Cancian)
Para dar
combate a esse movimento nacional, as Forças Legalistas não tinham aparato
militar de locomoção nem sabiam combater em uma guerra de movimentos, então o
Presidente Arthur Bernardos financia a formação dos ‘Batalhões Patrióticos’.
Sobre os “Batalhões Patrióticos”, Arthur Bernardes tinha conhecimento de sobra,
pois começou sua vida pública, se assim podemos dizer, alistando-se, em 1897,
no “Batalhão Patriótico Bias Fortes” para combater os ‘Rebelados do Povoado de
Canudos’, na Bahia.
Arthur
Bernardes convoca para que compareça ao Palácio do Catete, sede do governo
federal, no Rio de Janeiro, o deputado federal, pelo Ceará, o baiano Floro
Bartolomeu. Incumbe o deputado de formar um ‘Batalhão Patriótico’ na cidade do
Juazeiro do Norte, para defender o território cearense, para isso fornece-lhe
grande soma em dinheiro, armas, munição e fardamento. Nesse momento da
história, começamos a notar uma tendência dos governantes. A primeira coisa a
chamar atenção é o porquê do presidente da República não ter chamado,
convocado, ordenado, municiado e dado condições do governador do Ceará, na
época, José Moreira da Rocha, combater a “Coluna Prestes”. Será por ser adversário
político o governador na ocasião, ou será que usou o deputado Floro, exatamente
por saber que o médico deputado não media esforços para cumprir uma missão?
Isso ele demonstrou, muito bem, quando da Sedição de Juazeiro onde, na
sequência, sob as ordens do Padre Cícero, conseguem tomar o governo cearense.
Os Batalhões
Patrióticos tendo sido criados, dessa vez, para combaterem a Coluna Prestes,
isso era prioridade, foram formados, por falta de tempo para darem instruções
militares aos homens, por quem da espingarda já vivia, tais como pistoleiros,
jagunços e cangaceiros. Além de serem homens que conviviam diariamente com a
morte, conheciam o habitat como a palma de suas mãos.
De posse da metade da soma em dinheiro prometida, mas, com armamento e munição fartos, Floro monta o Batalhão Patriótico da cidade de Juazeiro do Norte, CE, reduto político, econômico religioso do Padre Cícero.
“(...) Ao
invés de convocar o governador José Moreira da Rocha para combater a Coluna
Prestes, o presidente Artur Bernardes convocou Floro Bartolomeu, pois ele sabia
que dando poderes ao deputado, era o mesmo que chamar os jagunços e coronéis do
estado para lutar a favor do governo. Pois era de conhecimento de todos, o
envolvimento de Floro com os "Coronéis” da região e de sua ligação com
Padre Cícero (...).” (Igor Hamesh)
São
“convocados” inúmeros combatentes para formação do Batalhão em Juazeiro. No
entanto, devido às inúmeras derrotas dos Legalistas no percurso feito pela
Coluna desde o Rio Grande do Sul até o Nordeste, tanto Floro quanto o Padre
Cícero, resolvem procurar um chefe cangaceiro que há vários anos demonstra ter
conhecimento em estratégias de combate em guerrilhas, em guerras de movimento,
mesmo sem nunca ter recebido instrução militar para tal, Virgolino Ferreira da
Silva, vulgo “Lampião” e seu bando. Então entram em contato, primeiramente com
João e Ezequiel Ferreira, seus irmãos que estavam em Juazeiro havia já um bom
tempo.
Em 1926 Lampião já havia imposto várias derrotas as Forças Públicas de três Estados da Região Nordeste, Alagoas, Pernambuco e Paraíba. Seu nome e sua foto já ‘perambulavam’ de vespertino em vespertino, de periódico a periódico, sem falar na propagação oral onde atingia os moradores nos mais longínquos lugares nas brenhas do sertão, e isto, não só nos estados citados, mas em todo território nacional.
Após a morte
de seus pais, Lampião envia seus irmãos pequenos para que ficassem sobre a
proteção do coronel Zezé Abílio, de Bom Conselho, PE. As perseguições se
intensificam, as fugas e confrontos tornam-se costumeiros e, pensando no bem
estar dos irmãos, talvez pelo que tenha acontecido com João Ferreira, seu
irmão, que fora preso em Água Branca, mesmo sendo apenas uma criança, Virgolino
resolve enviá-los para Juazeiro do norte, no Ceará, para que ficassem sob a
proteção das ‘asas’ do Padim Pade Ciço, Padre Cícero Romão Batista. O “Rei do
Cangaço” entra em contato com o padre em Juazeiro e este se prontifica em
cuidar dos irmãos menores dos Ferreira.
Floro
Bartolomeu, ao chegar ao chegar de trem em Juazeiro do Norte, no dia 2 de
janeiro de 1926, vindo da Capital do país, vem acompanhado com um contingente
de 360 soldados do Exército brasileiro comandados pelo major Polidoro Coelho.
Polidoro parte imediatamente a chegada, isso no mesmo dia, rumo à cidade de
Campos Sales, no sul do Estado cearense, a fim de formar uma barreira contra os
“Revoltosos”. Floro permanece em Juazeiro formando o Batalhão Patriótico. Tendo
conseguido formar uma tropa em torno de mil homens, todos jagunços fornecidos
pelos ‘coronéis’ cearenses, sete dias depois, no dia 9 de janeiro de 1926,
parte para encontrar-se com o major. Ao chegar a Campos Sales, Floro tem um
desentendimento com o major Coelho, e esse segue para a capital do Estado,
Fortaleza.
O comandante geral do Estado Maior do Batalhão Patriótico do Juazeiro, coronel Pedro Silvino, leva a presença de Floro Bartolomeu dois jovens, sendo um deles, contratado para transportar a munição da tropa, já que eram almocreves.
Esses jovens
eram os irmãos João e Ezequiel Ferreira, irmãos mais novos de Virgolino
Ferreira, o cangaceiro Lampião. Logicamente que Floro interroga o jovem sobre
seu irmão. Após um breve interrogatório chega à conclusão que deveria usar a
valentia de Virgolino contra a coluna dos Revoltosos. Segundo Magérbio de Lucena
em seu “Lampião e o Estado Maior do Cangaço”, “Chegou-se à conclusão que o
cangaceiro, cujo nome era legenda de valentia, deveria ser convocado. O posto
seria de capitão comissionado e, se bem sucedido na campanha, receberia do
Presidente da República o indulto pelos seus crimes.”
O médico
escreve a carta onde convocava Virgolino Ferreira para fazer parte do Batalhão
Patriótico, recebendo a patente de capitão ali mesmo, em Campos Sales, no sul
do Ceará. Advertido, provavelmente por João Ferreira, Floro fica ciente de que,
se a missiva chegar às mãos de Lampião só com a sua assinatura, pessoa que ele
não conhecia, ele jamais viria, não confiava em muita gente, e uma das poucas
em quem confiava era no Padre Cícero. Então, através do rábula José Ferreira de
Menezes, o deputado envia a carta/convocação para Juazeiro do Norte para que
fosse assinada, também, pelo sacerdote. Após ler o conteúdo, Padre Cícero
assina a carta. Essa é...
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