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sábado, 5 de setembro de 2020

REPRISANDO TARDE FRIA

 Clerisvaldo B. Chagas, 4 de setembro de 2020 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.379

Para a sensibilidade de Goretti Brandão e todos os artistas plásticos.

                               Autor e esposa em lançamento de livro.(Foto: Ene Chagas).

A tarde está muita fria e eu revi toda a música nostalgia de Cauby Peixoto. Em Santana do Ipanema, o sapateiro Gerson fora jogador do Ipanema, engordara e cantava mavioso quando a saudade batia. Muito sério, parecia traumatizado e somente pouquíssimas pessoas tinham o privilégio de ouvir sua belíssima voz nas chamadas  venetas, como a sua esposa Lindinalva.

Tarde Fria, não. Era um sapateiro analfabeto, boêmio e carismático. Girava em torno dos trinta anos de idade, morava do outro lado do rio Ipanema e gostava de colocar palavras difíceis onde não cabia, em frases triviais. Caminhava se balançando como  boneco de molas, gostava de um terno branco e amava cantar a canção Tarde Fria, daí seu apelido.

“Tarde fria,

sozinho espero,

só você que não vem,

Eu quero...


Tarde fria,

sinto frio na alma.

Só você que não vem

me acalma...”.

Por isso ou por aquilo, a polícia correu atrás do sapateiro com seu terno branco. O boêmio disparou em direção ao rio Ipanema que estava cheio. Pega aqui, pega acolá, o artífice conseguiu alcançar as pedras do Poço dos Homens, mergulhou nas águas barrentas,  revoltas e saiu na margem oposta. Do lado de cá, a polícia admirada viu o sapateiro sair do poço, espanar a água feito gato e cachorro, se recompor na sua elegância branca igual à tarde, caminhar no molejo do boneco de molas e abrir a garganta:

“Tarde Fria,

sozinho, espero...”.

Foi um “frisson’ em Santana do Ipanema ao saber como o sapateiro cantor escapara dos homens da lei. Teve gente que foi ouvir o nosso Cauby Peixoto em sua própria residência:

“E o vento, sopra frio,

gelando...

E eu, sem você,

até quando?

Vem o vento,

a tarde é fria,

estou só...

e minha alma vazia”.

*Pesquise Cauby e se apaixone com a melodia.



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