Antes da era
Lampiônica, poucos cangaceiros que conflagram a região do Cariri nordestino
tornaram-se famosos ou conhecidos a exemplo de Amônio Silvino, mas tem àqueles
celerados que não ganharam biografias, e que são citados apenas “an passant”
porque participaram de eventos históricos, como a Revolta do Juazeiro. É o caso
de Zé Pinheiro, uma lenda do cangaço no Cariri.
Por volta de
1914, Juazeiro do Norte estava no olho do furacão numa revolta liderada pelo
deputado Floro Bartolomeu para derrubar o governo do Ceará. No seu furor
revolucionário, Floro Bartolomeu, com suposto apoio do governo central marchou
para sitiar Fortaleza.
Médico,
garimpeiro e braço político do Padre Cícero, o Doutor Floro abandona terno e
gravata; veste-se como cangaceiro, adota chapéu de couro quebrado na frente,
conduz os revoltosos de forma inflamada, ao contrário do discurso infantil do
Padre Cícero na saída dos “cruzados” do Juazeiro para Fortaleza, que dizia:
-“Vão. Não
bebam cachaça, para não fazerem besteiras... Não atirem à toa... Quando
chegarem em qualquer cidade, não entrem logo, deem tempo para que as famílias
se retirem... Deixem fugir também os soldados que não queiram lutar, quem
correr, deixem correr, porque não é covardia procurar salvar a própria vida...
Quem se entregar tem que ser respeitado, não matem quem estiver baleado... Não
roubem, respeitem o que é alheio, tirem só o de que precisarem para matar a
fome”...
Inútil
discurso pacifista. Ao contrário das recomendações feitas pelo Padre Cícero
para respeitar feridos e famílias, a jagunçada invadia, saqueava e incendiava
fazendas, vilas e cidades.
Lodo de saída,
no Crato, os revoltosos resgataram da prisão o cangaceiro Zé Pinheiro, que
simplesmente apodrecia no cárcere. O escritor José Bezerra Lima Neto, em
“Capítulos da História do Nordeste,” 2020, o descreve como um celerado de “barba
fechada, cabeleira suja e cheia de piolhos”. O cangaceiro fazia jus à fama que
tinha e, ao ser colocado em liberdade, apresentou seu cartão de visita:
- “Me dê um
rifle, sinão eu tomo de um de voceis!
Além de
valente, Zé Pinheiro não dispensava arroubos ou bravatas.
- E, se me
daná, troco tiro inté cum Nosso Senhor!”, emendou.
Ali mesmo,
Bartolomeu colocou à disposição de Zé Pinheiro um rifle, duas cartucheiras,
muita munição e a chefia de um subgrupo de cangaceiros na “Guerra Santa”
conduzida por ele, e abençoada pelo “Padim Ciço”.
Consta que Zé
Pinheiro foi um dos cangaceiros mais ferozes do seu tempo. Após a revolta do
Juazeiro, não se sabe por qual razão, matou o delegado local, Quintino Feitosa.
Foi mais além: “cortou os beiços do morto e colocou numa garrafa de cachaça”.
- “Ao beber
aquela cachaça, tinha a sensação de estar devorando o inimigo”, propagava.
Terminou sua
trajetória no cangaço no estado de Alagoas, onde foi contratado por uma senhora
para cortar uma das orelhas da amante do marido.
Zé Pinheiro
foi além. Cortou as duas.
Foi morto numa
emboscada preparada por cangaceiros rivais. Segundo relatos, acabou esfolado
vivo; sua pele foi retirada a faca, seu corpo esquartejado e, a exemplo do
cangaceiro Juriti, que surgiu no cangaço muito depois, ardeu numa fogueira.
João Costa. www.blogdojoaocosta.com.br
Fonte: “Capítulos
da História do Nordeste”, 2020, de José Bezerra Lima Neto
Imagem. Floro
Bartolomeu, arquivo histórico do Juazeiro do Norte
Artesanato
nordestino
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