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sábado, 5 de setembro de 2020

ZÉ PINHEIRO: CELERADOS DO CANGAÇO QUE NÃO FIZERAM FAMA



Antes da era Lampiônica, poucos cangaceiros que conflagram a região do Cariri nordestino tornaram-se famosos ou conhecidos a exemplo de Amônio Silvino, mas tem àqueles celerados que não ganharam biografias, e que são citados apenas “an passant” porque participaram de eventos históricos, como a Revolta do Juazeiro. É o caso de Zé Pinheiro, uma lenda do cangaço no Cariri.

Por volta de 1914, Juazeiro do Norte estava no olho do furacão numa revolta liderada pelo deputado Floro Bartolomeu para derrubar o governo do Ceará. No seu furor revolucionário, Floro Bartolomeu, com suposto apoio do governo central marchou para sitiar Fortaleza.


Médico, garimpeiro e braço político do Padre Cícero, o Doutor Floro abandona terno e gravata; veste-se como cangaceiro, adota chapéu de couro quebrado na frente, conduz os revoltosos de forma inflamada, ao contrário do discurso infantil do Padre Cícero na saída dos “cruzados” do Juazeiro para Fortaleza, que dizia:

-“Vão. Não bebam cachaça, para não fazerem besteiras... Não atirem à toa... Quando chegarem em qualquer cidade, não entrem logo, deem tempo para que as famílias se retirem... Deixem fugir também os soldados que não queiram lutar, quem correr, deixem correr, porque não é covardia procurar salvar a própria vida... Quem se entregar tem que ser respeitado, não matem quem estiver baleado... Não roubem, respeitem o que é alheio, tirem só o de que precisarem para matar a fome”...

Inútil discurso pacifista. Ao contrário das recomendações feitas pelo Padre Cícero para respeitar feridos e famílias, a jagunçada invadia, saqueava e incendiava fazendas, vilas e cidades.


Lodo de saída, no Crato, os revoltosos resgataram da prisão o cangaceiro Zé Pinheiro, que simplesmente apodrecia no cárcere. O escritor José Bezerra Lima Neto, em “Capítulos da História do Nordeste,” 2020, o descreve como um celerado de “barba fechada, cabeleira suja e cheia de piolhos”. O cangaceiro fazia jus à fama que tinha e, ao ser colocado em liberdade, apresentou seu cartão de visita:

- “Me dê um rifle, sinão eu tomo de um de voceis!

Além de valente, Zé Pinheiro não dispensava arroubos ou bravatas.

- E, se me daná, troco tiro inté cum Nosso Senhor!”, emendou.

Ali mesmo, Bartolomeu colocou à disposição de Zé Pinheiro um rifle, duas cartucheiras, muita munição e a chefia de um subgrupo de cangaceiros na “Guerra Santa” conduzida por ele, e abençoada pelo “Padim Ciço”.

Consta que Zé Pinheiro foi um dos cangaceiros mais ferozes do seu tempo. Após a revolta do Juazeiro, não se sabe por qual razão, matou o delegado local, Quintino Feitosa. Foi mais além: “cortou os beiços do morto e colocou numa garrafa de cachaça”.

- “Ao beber aquela cachaça, tinha a sensação de estar devorando o inimigo”, propagava.

Terminou sua trajetória no cangaço no estado de Alagoas, onde foi contratado por uma senhora para cortar uma das orelhas da amante do marido.

Zé Pinheiro foi além. Cortou as duas.

Foi morto numa emboscada preparada por cangaceiros rivais. Segundo relatos, acabou esfolado vivo; sua pele foi retirada a faca, seu corpo esquartejado e, a exemplo do cangaceiro Juriti, que surgiu no cangaço muito depois, ardeu numa fogueira.

Fonte: “Capítulos da História do Nordeste”, 2020, de José Bezerra Lima Neto
Imagem. Floro Bartolomeu, arquivo histórico do Juazeiro do Norte
Artesanato nordestino

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