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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

OS HIPÓCRITAS (Crônica)

Por: Rangel Alves da Costa
Rangel Alves da Costa

OS HIPÓCRITAS

Em muita gente, a sinceridade é virtude completamente desconhecida. Vivem na mentira, no fingimento, na personificação do inexistente. E onde não há sinceridade acolhe-se facilmente a hipocrisia.

A ação ou resultado de dissimular, falsear a verdade, as intenções, os sentimentos, redunda em hipocrisia, pois hipócrita é aquele que simula ter uma qualidade ou sentimento que não tem, ou finge ser verdadeira alguma coisa, mesmo sabendo que não é. Conhece alguém assim?

Os estudiosos dessa inversão de valores até apontam um exemplo clássico da hipocrisia: denunciar alguém por realizar alguma ação enquanto realiza a mesma ação. Qualquer semelhança com as ações de governantes não terá sido mera coincidência, vez que são exímios em desqualificar os adversários para encobrir suas incompetências administrativas.

Conheço muito, uma enormidade de hipócritas, falsos, fingidores, dissimuladores, mentirosos. Ali na esquina tem um, na outra esquina também, mas principalmente nos noticiários televisivos, nas páginas dos jornais, nos escritórios, nos órgãos de mando e poder. Ora, são os donos do poder que estão na mídia, e esta tenta fazer de determinados hipócritas semideuses das grandes realizações. Evidentemente que tal manipulação tem o seu custo, e geralmente a conta é paga com o dinheiro que deveria ser revertido para o bem da coletividade.

Muitos desses hipócritas podem ser facilmente encontrados. Época de eleições é celeiro para a sua maior visibilidade. Depois que são eleitos também, pois continuam vendendo inverdades e traindo a todo custo a confiança do povo. Mas agora não estão mentindo, apenas confirmando o quanto é fácil ludibriar a culpável inocência de grande parte da população eleitora.

Brasília é a capital da hipocrisia, sendo que em meio aos três poderes se assentam a nata dos hipócritas. São, na sua grande maioria, uns fingidos, cínicos, demagogos, que nunca agem perante aquilo que tanto defendem. Mas não poderia ser diferente, pois aí é que reside a característica essencial dos hipócritas: dizer uma coisa e agir contrariamente ao que pregou ou prega.

Alguma coincidência com os políticos? Sim, logicamente que sim, pois é da verve da classe política viver mentindo para a população, criando situações inexistentes ou impraticáveis, prometendo aquilo que não tem condições de cumprir, alardeando o não realizado ou inexistente, colhendo louros para aquilo que não fez. É da essência da hipocrisia política até o deslumbramento diante de uma tragédia por culpa sua.

É da lavra dos hipócritas que se espalhe inverdades para enganar o povo ou passar a falsa ideia de que alguma coisa possui excelência de qualidade. Para tal utilizam a propaganda, o marketing político, as redes de comunicação que faturam alto para maquiar as verdades ou encobrir as mentiras. Estampam outdoors pelos quatro cantos e ainda tem gente que acredita piamente naquela maquiagem de improbidade administrativa.

Assim, dificilmente deixará de haver uma certa hipocrisia em propagandas tais como: “Erradicação do trabalho infantil, educação de qualidade, merenda escolar para todos, todos na escola e lugar de criança é na escola, são prioridades do governo” ou simplesmente “Nunca se fez tanto em tão pouco tempo de governo”. Certamente alguém já ouviu um governante maior dizendo que a prioridade do seu governo é combater a miséria, erradicá-la totalmente. E o que acontece depois?  São afirmações difíceis de engolir até para quem não possui o mínimo de senso crítico.

Difíceis, indigestas, porque mentirosas, afrontosas à menor percepção da realidade. E dói acreditar que igualmente o adubo fortalece a terra, é o próprio povo, através do seu voto, que alimenta tanta hipocrisia. E que triste feição e percepção ela possui:

“Os homens deviam ser o que parecem ou, pelo menos, não parecer o que não são” (Shakespeare); “Quando eu perder a capacidade de indignar-me ante a hipocrisia e as injustiças deste mundo, enterre-me: por certo que já estou morto” (Augusto Branco); “Às vezes procura-se parecer melhor do que se é. Outras vezes, procura-se parecer pior. Hipocrisia por hipocrisia, prefiro a segunda” (Jacinto Benavente y Martinez).

Mas talvez sem a hipocrisia não houvesse a ilusão. Essa realidade deplorável que está adiante e em todo lugar, será ilusão ou ainda não foi vista por um político hipócrita, de modo a transformá-la em maravilhamento?


Rangel Alves da Costa* 
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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