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segunda-feira, 7 de maio de 2012

"Iconografia do Cangaço" traz revelações sobre Lampião

São 180 fotos e mais um DVD que ajudam a entender como Lampião se tornou um mito popular nacional

A saga de Virgolino Ferreira da Silva, o conhecido Lampião (1898-1938), é talvez uma das mais importantes e conhecidas da história brasileira. Envolto em lendas e verdades, o Rei do Cangaço povoa até hoje o imaginário nacional. Mas a trajetória desse fenômeno social remonta ao século 18, quando bandos de cangaceiros passaram a se formar no Nordeste. 

Segundo o escritor e jornalista Moacir Assunção, “o fato de nos lembrarmos mais de Lampião quando falamos em cangaço é porque ele e homens como Corisco, Zé Baiano, Zé Sereno e Luiz Pedro, viveram em uma época na qual já existiam veículos de comunicação de massa, como as revistas, o cinema em sua plenitude e os jornais, além de livros, já distribuídos no interior nordestino, e da rica gesta da literatura de cordel”, escreve no livro. 

Além disso, podemos dizer que Lampião se beneficiou da invenção que se tornou a expressão da modernidade no começo do século 20: a fotografia.

Parte desse acervo iconográfico foi organizada por Ricardo Albuquerque e está no livro Iconografia do Cangaço, que será lançado nesta terça-feira, 08, em São Paulo. 

A relação de Ricardo com essas imagens não se deu por acaso. Foi seu avô, Adhemar Albuquerque, que ensinou o libanês Benjamin Abrahão (1890-1938) a fotografar e filmar na década de 1930: “Meu avô nunca foi profissional, mas gostava de fazer cinema e documentários. Gostaria ele mesmo de ter filmado e fotografado Lampião, mas trabalhava como caixa num banco e seu chefe não o liberou”, conta em entrevista por telefone. “O jeito então foi munir Benjamin Abrahão de equipamentos e encomendar o material.” 

O encontro dos dois se deu em 1934, por conta da morte do Padre Cícero, de quem Abrahão tinha se tornado secretário. Adhemar Albuquerque viajou até Juazeiro para filmar o funeral e foi ali que se conheceram. A primeira tentativa foi um fracasso: “Os filmes ficaram todos velados e Abrahão os colocou na sua mochila junto com a comida. Até formiga tinha”, conta Ricardo. O jeito foi convencer Adhemar que valia a pena mais uma tentativa. E assim foi feito. Desta vez, o precursor do cinema se certificou de que não haveria erros. 

O mascate libanês, cuja trajetória foi documentada no filme Baile Perfumado, se torna então quase por acaso e por interesse financeiro, o documentarista do bando do Lampião. Antes disso, porém, foi necessária uma carta do próprio Lampião autorizando a empreitada.

O filme nunca chegou a ser apresentado. Getúlio Vargas proibiu sua exibição e apreendeu o trabalho, considerado uma afronta ao governo federal. O governo tentava combater o movimento e não conseguia, então como é que agora o bando ia aparecia num filme? Mas uma cópia tinha sido guardada e, dessa forma, após a morte de Vargas, em 1954, o filme foi lançado no Rio de Janeiro pela primeira vez. 

Anos se passaram e, em 2000, por ocasião da morte de seu pai, o conhecido fotógrafo Chico Albuquerque, Ricardo volta para Fortaleza e funda o Instituto Cultural Chico Albuquerque. Ao remexer nos arquivos, acha fotografias e frames do filme feito por Benjamin Abrahão. Interessado pela história, aos poucos se juntam a essas fotografias várias outras imagens, muitas de fotógrafos anônimos ou ocasionais que passaram pelo sertão. Ao todo, o acervo tem no momento quase 400 imagens. 

Registros que desvendam o cotidiano, os costumes dos cangaceiros, suas vestimentas, uma narrativa histórica do movimento. Um inventário que inaugura também, de certa forma, a reportagem fotográfica no Brasil. O jornal O Povo, de Fortaleza, publicou algumas dessas imagens em reportagem de capa, em dezembro de 1936. 

Além das fotografias que trazem também histórias do período anterior ao de Lampião, o livro conta também com um DVD com imagens do filme realizado por Abrahão, em nova edição produzida pelo próprio Ricardo Albuquerque. Além disso, inclui 5 minutos inéditos de filmes recuperados e restaurados pela Cinemateca Brasileira em 2002. Um documento imprescindível para nos ajudar a entender este momento da história brasileira.

Iconografia do Cangaço
Editora: Terceiro Nome (216 págs., R$ 120). Centro Cultural Rio Verde. Rua Belmiro Braga, 119, Pinheiros. Terça, 08, às 19h.
Fonte: Estadão

Um comentário:

  1. Mais um livro sobre o Cangaço para o arquivo do Blog do Mendes. Valeu!! :-)

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