Por: Clerisvaldo B. Chagas - Crônica Nº 834
(Para Archimedes Marques e José Mendes Pereira)
Muito ainda se especula sobre a fortuna do bandido Virgolino Ferreira da Silva. É de fato impressionante o puxa-puxa dos que se dedicam à causa lampionesca, na tentativa adivinhatória documentada do paradeiro monetário virgoliniônico.
Bornal à cangaceira.
O grande mistério e desencanto para os pesquisadores, é que uma pessoa muita maldosa cortou a língua do dinheiro. Com o bichinho mudo, ficou mais difícil saber qual era o real poder de fogo dos embornais microbianos do chefão. Quanto tinha de fato no papo-de-ema que Lampião conduzia na cintura? E nos bornais? E nos bolsos? Qual o valor em joias e dinheiro que havia nas mãos dos seus coiteiros-bancários de confiança? Caso fosse de fato descoberto cem por cento esse enigma, outra interrogação ocuparia com muito mais força o lugar da primeira. Uma pergunta, sem dúvida, desdobrada em miríades.
Teria sido mesmo Bezerra, o sortudo ganhador do papo-de-ema, dos bornais e bolsos do comandante cangaceiro? E o tanto de joias que daria uma bacia de rosto, correu para onde? As inúmeras fazendas compradas por Ferreira escolheram quais herdeiros? Quem se denomina “pesquisador de cangaço” e outros títulos, corram para investigar e nos dizer com a certeza dos cartórios, pois o leitor exigente quer saber.
Em 1938 ─ quando as cabeças dos cabras trucidados em Angicos viajaram a Maceió ─ houve questionamento. Após a exposição em Palmeira dos Índios, cidadãos do núcleo, nas praças, barbearias, bares e portas de igrejas, indagavam uns aos outros, onde estaria a verba deixada por Virgolino. No bate e rebate das discussões, segundo o escritor Valdemar de Souza Lima, saltou um velhote da cadeira de barbeiro e falou. Disse que após a carreira de Mossoró, destroçado, via Pernambuco, Virgolino foi bater no povoado ribeirinho Entremontes, do São Francisco. Ali em Alagoas, com a pressa da passagem, arrumou uma canoa para atravessar o rio, ele e seu reduzido grupo. Numa bodega miserável apresentou-se, deixando sem fala momentaneamente a dona da espelunca. Pelo mutismo da mulher, ele mesmo escolheu a mercadoria e indagou a conta, feita por ela, que importou em cerca de trezentos mil réis.
Os entendidos calculem, então, com auxílio de um matemático, a quantidade de rolinhos pretos, como quixabas, em chiqueiro velho de caprinos, por metro quadrado. Talvez aí tenha início à solução do mistério de quanto era em contos de réis, a fortuna de Ferreira. Ê... Cabra macho sabido, medite aí sobre LAMPIÃO E O CHIQUEIRO VÉIO.
Enviado pelo escritor romancista e cronista Clerisvaldo B. Chagas
Nenhum comentário:
Postar um comentário