Por Junior
Almeida
O próximo
destino dos “vaqueiros da história” a partir do dia 21 do mês de Santa’Ana de
2017, é na terra da primeira presa política do Brasil, Bárbara de Alencar,
heroína da Revolução de 1817, cidade mundialmente conhecida, por ser o berço do
Luiz Gonzaga, o eterno “Rei do Baião”. Exu é fonte inesgotável de histórias,
sejam elas as do Mestre Lua, sejam dos conflitos entre Alencar, Sampaio e
Saraiva, iniciados em 1949 e até de conflitos mais antigos como o próximo
Ipueira dos Xavier, em Serrita e de Juazeiro no Ceará, que também faz parte
daquela região.
Desse último,
sabemos que o coronel Marcos Franco Rabelo, tinha sido nomeado interventor do
Ceará pelo governo nacional, e passou a perseguir sem tréguas o Padre Cícero,
inclusive o destituindo de seus cargos e ordenando sua prisão. A medida foi
imediatamente rejeitada por grupos oligárquicos do Estado, que, liderados por
Floro Bartolomeu, homem de confiança do padre Cícero, organizaram um batalhão
formado por jagunços, cangaceiros e romeiros em defesa do Patriarca do
Juazeiro, o que fez eclodir em 1914 nas proximidades de Exu, distante apenas
aproximadamente 12 léguas o conflito que ficou conhecido como a “Revolta do
Juazeiro”.
Franco Rabelo
com seus homens seguiu para Juazeiro a fim de prender padre Cícero, mas, ao
chegar à localidade deu de cara com o enorme valado uma sólida muralha
protegendo toda a cidade. A intransponível trincheira recebeu o sugestivo nome
de "Círculo da Mãe de Deus" e foi construída em apenas sete dias por
mais de 10 mil homens. Doutor Xavier de Oliveira nos conta em seu “Beatos e
Cangaceiros”, livro publicado em 1920, que “um repórter de um jornal de
Fortaleza que cobria o conflito, perguntou a um dos beatos que defendiam o
círculo o que ele estava fazendo ali, tendo esse respondido não saber, mas que
padre Cícero mandando, ele brigava com a ‘besta fera’, com a ‘mãe de pantanha’,
e arrancava a batina do Papa.”
As tropas
rabelistas além de não conseguir entrar em Juazeiro, sofrendo inúmeras baixas,
foram motivo de chacota por parte dos milicianos do Padim, que conseguiram
“capturar” um canhão que ia ser usado para transpor as defesas da Meca
Sertaneja. Para piorar pros lados de Franco Rabelo, os romeiros/jagunços
comandados por Floro Bartolomeu, marcharam para revanche. Primeiro até o Crato,
depois para Fortaleza, onde depuseram Franco Rabelo.
Foi em meio a
esse conflito que no dia 6 de janeiro de 1915, o promotor adjunto de Exu enviou
ao chefe de polícia de Pernambuco, Dr. Maurício Vanderlei, desesperado
telegrama, dando conta, segundo ele, das violências praticadas pelos romeiros
do Padre Cícero Romão Batista, do Juazeiro. Dizia a mensagem (grafia da época):
“Comunico a
V.Exia. Romeiros padre Cícero Joazeiro invadiram este município, matando gados
criadores. Exuenses ameaçados autoridades. Bandido José Pinheiro chefe grupo
fanáticos, acaba descer serra Araripe, praticando roubos, espancamentos, força
seguiu capturá-lo, ignora-se resultado diligência. Joazeiro Ceará em pé de
guerra. Espera-se nova solução. Saudações, promotor adjunto de Exu.”
Em fevereiro
daquele mesmo ano, o “Patriarca do Juazeiro”, usaria as páginas do jornal mais
antigo da América Latina, Diário de Pernambuco, para se defender das acusações
que lhe faziam. Com o título da matéria POLÍCIA PERNAMBUCANA COMBATE ROMEIRO DO
PADRE CÍCERO, o sacerdote alegava que “os adversários com fim de alarmar o
povo, fazem circular boatos de que as forças pernambucana vêm massacrar os
romeiros do Araripe. Tal notícia produziu a retirada de mais de dois mil
agricultores, abandonando seus trabalhos, ficando nós ameaçados de crise.”
Nota-se,
porém, que nos dois textos a tendência de ambos os lados ganharem para si a
opinião pública. Enquanto o poder oficial tenta desqualificar o padre Cícero,
inclusive usando a imprensa da época, para “jogar na mesma panela” o religioso
com o beato Antônio Conselheiro, que não havia muito tempo sido morto em
Canudos, como inimigo do Estado, e até mesmo com os cangaceiros Jesuíno
Brilhante, Antônio Silvino e Lula [Luiz] Padre, o Patriarca do Juazeiro contra
ataca usando também os jornais, acusando a polícia de deixar os sertanejos em
sacrifício, com a evacuação de seus Lares, por conta do medo da polícia.
*Foto do
Diário de Pernambuco de 13 de novembro de 1966.
Fonte: facebook
Página: Júnior Almeida
Grupo: Historiografia do Cangaço
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