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quarta-feira, 28 de junho de 2017

JÚRI DO JARARACA

Por Diógenes da Cunha Lima

AULA ESPETÁCULO

​Valendo cinco horas de aula aos alunos de Direito da UFERSA e aberta ao público, foi realizado, em Mossoró, um júri virtual. Tratou-se de julgar, como culpado ou vítima, José Leite de Santana, o Jararaca. 

José Leite de Santana o Jararaca

O insuspeito Câmara Cascudo registra: “Jararaca assaltava fazendas, incendiava, matava, depredava”. No frustrado ataque de Lampião à cidade referida, 90 anos atrás, foi baleado, preso e morto pela polícia. Entre o real e o imaginário, estão as versões de sua morte. Os policiais enganaram-no, dizendo que ele estaria sendo transportando para Natal e não para o cemitério. Também teria sido obrigado a cavar a cova onde foi enterrado vivo. Diz-se que teria se arrependido e pedido perdão a Deus.

​O julgamento foi realizado no Fórum. A aula espetáculo assemelhou-se às realizadas por Ariano Suassuna ou Antônio Nóbrega, mas com ensinamento de Direito e de civismo. O Juiz vestindo a toga, os advogados a beca e, também, os jurados com vestes talares. Admiravelmente, presidiu o julgamento o Dr. Breno Valério Fausto de Medeiros, que lecionou sobre o roteiro de um júri real, da instalação à sentença.

Dr. Breno Valério Fausto de Medeiros

​Cidadão honorário mossoroense, não poderia recusar o convite para fazer a acusação. No final, os jurados entenderam que Jararaca era vítima. Até então eu acreditava que as vítimas do bandido fossem outras, fossem os mutilados e mortos pelo bando cangaceiro. Mas foram o prefeito Rodolfo Fernandes e os seus valentes que defenderam Mossoró. Receava que Jararaca, tido como santo, recebendo flores, velas e preces de angustiados devotos, pudesse ser absolvido.


​A arte imita a vida. A vida costuma também imitar a arte. Comparei o sanguinário Lampião a Macbeth, tragédia de Shakespeare. Ambos foram reis. Do Sertão e da Escócia, respectivamente. Este portava coroa; aquele, um chapéu estrelado e pingentes de ouro. Ambos eram supersticiosos, acreditando terem o “corpo fechado”. Macbeth era capitão do exército e o outro se consagrou capitão na presença do Padre Cícero. 
Padre Cícero Romão Batista

Os dois criminosos impunham obediência pelo terror e nunca por simpatia ou por amor. As mulheres participavam das maldades, Lady Macbeth e Maria Bonita, a quem Lampião chamava de “Santinha”. 

Colorida pelo professor e pesquisador do cangaço Rubens Antonio

O rei escocês queria ser sempre lembrado. Meu pai ouviu de um ex-cangaceiro que o Capitão sempre dizia: “O que eu quero é que nunca ninguém se esqueça de mim”. Lampião reinou sobre um território bem maior do que o da Escócia, os sete estados nordestinos.

Macbeth e Lady Macbeth 

​A defesa esteve a cargo do competente advogado Honório Medeiros, que levantou tese maravilhosa. Demonstrou que o seu “cliente” era uma vítima. 

Dr. Honório de Medeiros

E convenceu. Anotei algumas de suas frases candentes, como: “Era um homem embriagado de liberdade, uma explosão de liberdade”. A defesa exaltou os que não se rendem, os que recusam aceitar condições de vida injustas: “São os insubmissos que fazem a história”.

​São atribuídas duas cidadanias pernambucanas a Jararaca, Buíque e Pajeú das Flores. Perguntei: das flores? Ele deve ter nascido em Buíque, porque não era flor que se cheire. O seu nome de batismo, José Leite de Santana, também era absolutamente inadequado. José é o nome do marido de Nossa Senhora, um santo de bom. Já o leite de Santana, que amamentou Nossa Senhora, não se destinaria a alimentar um bandido.
​A comunidade mossoroense ministrou uma aula de civismo que tanto precisa o Brasil.
Artigo do escritor Diógenes da Cunha Lima, publicado domingo passado na Tribuna do Norte.

Informação importante: Não foi feito nenhuma modificação no texto, apenas criado alguns parágrafos para efeito de ilustração com imagens.

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço Benedito Vasconcelos Mendes

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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