Ariano Vilar
Suassuna (Cidade da Parahyba, 16 de
junho de 1927 — Recife, 23 de
julho de 2014)
foi um dramaturgo, romancista, ensaísta, poeta e professor brasileiro.[1]
Idealizador
do Movimento Armorial e autor das obras Auto da Compadecida e O Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta,
foi um preeminente defensor da cultura do Nordeste do Brasil.
Foi Secretário
de Cultura de Pernambuco (1994-1998) e Secretário de Assessoria do
governador Eduardo Campos até abril de 2014.[2]
Biografia
Ariano Vilar
Suassuna nasceu na cidade de Parahyba, atual João Pessoa, no dia 16 de junho de
1927, filho de Rita de Cássia Dantas Villar e João
Suassuna.[3] Seu
pai era então o presidente do estado da Paraíba.[nota 1] Ariano
nasceu nas dependências do Palácio da Redenção,[5] sede
do Executivo paraibano. No ano seguinte, o pai deixa o governo da Paraíba, e
a família passou a morar no sertão, na
Fazenda Acauã, em Sousa.[1]
Com a Revolução de 1930, João Suassuna foi assassinado
por motivos políticos no Rio de Janeiro, e a família mudou-se
para Taperoá, onde morou de 1933 a 1937. Nessa cidade,
Ariano fez seus primeiros estudos e assistiu pela primeira vez a uma peça
de mamulengos e
a um desafio de viola, cujo caráter de "improvisação" seria uma das
marcas registradas também da sua produção teatral.[6]
O próprio
Ariano Suassuna reconhecia que o assassinato de seu pai, ocupava posição
marcante em sua inquietação criadora. No discurso de posse na Academia
Brasileira de Letras, disse:
“
|
Posso dizer
que, como escritor, eu sou, de certa forma, aquele mesmo menino que, perdendo
o pai assassinado no dia 9 de outubro de 1930, passou o resto da vida
tentando protestar contra sua morte através do que faço e do que escrevo,
oferecendo-lhe esta precária compensação e, ao mesmo tempo, buscando
recuperar sua imagem, através da lembrança, dos depoimentos dos outros, das
palavras que o pai deixou.
|
”
|
— Ariano
Suassuna, em seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, 9 de
agosto de 1990.[7].
|
O assassinato
de João Suassuna ocorreu como desdobramento da comoção posterior ao assassinato
de João Pessoa, governador da Paraíba
e candidato a Vice-Presidente do Brasil na chapa de Getúlio Vargas. Ariano
Suassuna atribuía à família Pessoa, a encomenda do assassinato de seu pai,
contratando o pistoleiro Miguel Laves de Souza, que atirou na vítima pelas
costas, no Rio de Janeiro.[8] Em
razão disso, não concordava com a alteração do nome da cidade onde nasceu, de
"Parahyba" para "João Pessoa", em homenagem ao governador
assassinado.
Formação
acadêmica
A partir de
1942 passou a viver em Recife, onde terminou, em 1945, os estudos secundários no
Ginásio Pernambucano, no Colégio Americano Batista e no
Colégio Osvaldo Cruz. No ano seguinte ingressou na Faculdade de
Direito do Recife, onde formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais, em 1950.[9]
Carreira
Ariano
Suassuna estreou seus dons literários precocemente no dia 7 de outubro de 1945,
quando o seu poema "Noturno" foi publicado em destaque no Jornal do Commercio do Recife.
Ariano
Suassuna, 1971. Arquivo Nacional.
Na Faculdade de Direito do Recife,
conheceu Hermilo Borba Filho, com quem fundou o Teatro
do Estudante de Pernambuco. Em 1947, escreveu sua primeira peça, Uma
Mulher Vestida de Sol. Em 1948, sua peça Cantam as Harpas de Sião (ou O
Desertor de Princesa) foi montada pelo Teatro do Estudante de Pernambuco, em em
seguida Os Homens de Barro. Seguiram-se Auto de João da Cruz, de
1950, que recebeu o Prêmio Martins Pena. No mesmo ano, volta a Taperoá,
para curar-se de uma doença pulmonar e lá escreve e monta a peça Torturas
de um Coração.[10]Retorna
a Recife onde, entre 1952 e 1956, dedica-se à advocacia e ao teatro.[6] Em
1953 escreve O Castigo da Soberba, depois vieram O Rico Avarento (1954)
e o aclamado Auto da Compadecida, de 1955, que o projetou em todo o país.
Em 1962, o crítico teatral Sábato
Magaldidiria que a peça é "o texto mais popular do moderno teatro
brasileiro". Sua obra mais conhecida, já foi montada exaustivamente por
grupos de todo o país, além de ter sido adaptada para a televisão e para o
cinema. Em 1956, afasta-se da advocacia e torna-se professor de Estética da Universidade Federal de Pernambuco,
onde se aposentaria em 1994. Em 1957 vieram O Santo e a Porca e O
Casamento Suspeitoso. Depois vieram O Homem da Vaca e o Poder da Fortuna(1958)
e A Pena e a Lei (1959), premiada dez anos depois no Festival
Latino-Americano de Teatro. Ainda em 1959, funda o Teatro Popular do Nordeste,
também com Hermilo Borba Filho, onde monta as peças Farsa da Boa Preguiça (1960)
e A Caseira e a Catarina (1962). No início dos anos 60, interrompeu
sua bem-sucedida carreira de dramaturgo para dedicar-se às aulas de Estética na
UFPE. Ali, em 1976, defende a tese de livre-docência A Onça Castanha e a
Ilha Brasil: Uma Reflexão sobre a Cultura Brasileira.[6]
De formação
calvinista e posteriormente agnóstico, converteu-se ao catolicismo, por
influência de sua esposa Zélia, com quem se casou em 19 de janeiro de 1957.
Estas três vertentes influenciariam sua obra de forma significativa.[9]
“
|
"... Em
quase todo o meu teatro, um pouco por causa da natureza da sátira, mas também
um pouco, parece, por causa da minha formação calvinista, eu passo o tempo
todo julgando os outros e a mim mesmo, absolvendo ou condenando os bons e os
maus.[...] Talvez no supra-moralismo do Deus dos Profetas caibam não só as
vítimas, mas os chicotes, as espadas, aqueles que os empunharam e até o chefe
de todos eles, o Demônio, cujo papel e cuja missão só Deus pode entender. Em
suma, dentro da minha cegueira, o que acho é que Deus, para nós, é um
arquejo, uma aspiração..."
|
”
|
— Ariano
Suassuna.[9].
|
Membro
fundador do Conselho Federal de Cultura (1967–1973); nomeado, pelo Reitor
Murilo Guimarães, diretor do Departamento de Extensão Cultural da UFPE
(1969–1974). Ligado diretamente à cultura, iniciou em 1970, no Recife, o
“Movimento Armorial”, interessado no desenvolvimento e no conhecimento das
formas de expressão populares tradicionais. Convocou nomes expressivos da
música para procurarem uma música erudita nordestina que viesse juntar-se ao
movimento, lançado no Recife, em 18 de outubro de 1970, com o concerto “Três
Séculos de Música Nordestina – do Barroco ao Armorial” e com uma exposição de
gravura, pintura e escultura. Foi Secretário de Educação e Cultura do Recife,
de 1975 a 1978 e Secretário de Cultura do Estado de Pernambuco, no Governo
Miguel Arraes, de 1994 a 1998.[6]
Entre 1956 e
1976, dedicou-se à prosa de ficção, publicando História de Amor de
Fernando e Isaura" (1956), O Romance d'A Pedra do Reino", o Príncipe
do Sangue do Vai-e-Volta (1971), e História d'O Rei Degolado nas
Caatingas do Sertão (1976). No mesmo ano, defende sua tese de
livre-docência, intitulada A Onça Castanha e a Ilha Brasil: Uma Reflexão
Sobre a Cultura Brasileira.[6] Ariano
afirmava: "Você pode escrever sem erros ortográficos, mas ainda escrevendo
com uma linguagem coloquial." No ano seguinte foi encenada a sua
peça O Casamento Suspeitoso, em São Paulo, pela Cia. Sérgio Cardoso,
e O Santo e a Porca.
Ariano
Suassuna construiu em São José do Belmonte, onde ocorre a cavalgada
inspirada no Romance d’A Pedra do Reino, um santuário ao ar livre,
constituído de 16 esculturas de pedra, com 3,50 m de altura cada, dispostas em
círculo, representando o sagrado e o profano. As três primeiras são imagens de
Jesus Cristo, Nossa Senhora e São José, o padroeiro do município.[6]
Em dezembro de
2017, foi publicada sua obra inédita e póstuma A Ilumiara – Romance de Dom
Pantero no Palco dos Pecadores. A organização do trabalho foi feita por sua
família, reunindo os escritos que Suassuna levou seus últimos trinta anos de
vida para escrever. A obra é dividida em dois volumes, O Jumento Sedutor e O
Palhaço Tetrafônico e é considerada pela crítica seu "testamento
literário", tendo sido finalizada pouco antes de sua morte.[11] O
próprio Suassuna considerava a obra como "o livro da sua vida".
“
|
Estou
acabando um romance que é o livro da minha vida. Ele é dedicado a três
pessoas: Miguel Arraes, Luiz Inácio Lula da Silva e Eduardo Campos. Eu
exercito três gêneros literários: romance, teatro e poesia. Mas sempre fiz
isso separadamente. Nessa nova obra, estou tentando fundir o dramaturgo, o
romancista e o poeta num só. Por isso a considero como minha obra definitiva.
|
”
|
— Ariano
Suassuna, em entrevista à revista Veja em 14 de julho de 2014, nove dias
antes de sua morte.[12].
|
Movimento
Armorial
Ver artigo principal: Movimento Armorial
Ariano foi o
idealizador do Movimento Armorial em outubro de 1970, que teve como objetivo
criar uma arte erudita a partir de elementos da cultura
popular do Nordeste Brasileiro. Tal movimento
procura orientar para esse fim todas as formas de expressões artísticas: música, dança, literatura, artes plásticas, teatro, cinema, arquitetura,
entre outras expressões.[6]
Reconhecimento
Doutor Honoris
Causa pela Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (2000); Universidade Federal da Paraíba (Resolução Nº
10/2001) tendo recebido a honraria no dia 29 de junho de 2002; Universidade
Federal Rural de Pernambuco (2005), Universidade de Passo Fundo (2005) e Universidade Federal do Ceará (2006)
tendo recebido a honraria em 10 de junho de 2010, às vésperas de completar 83
anos. "Podia até parecer que não queria receber a honraria, mas era
problemas de agenda", afirmou Ariano, referindo-se ao tempo entre a
concessão e o recebimento do título.[13]
Ariano
Suassuna, durante evento pró-equidade de gênero e diversidade, em Brasília,
2007.
Em 2002,
Ariano Suassuna foi tema de enredo no carnaval carioca na escola de samba Império Serrano; em 2008, foi novamente tema de
enredo, desta vez da escola de samba Mancha
Verde no carnaval paulista. Em 2013 sua mais famosa obra, o Auto da Compadecidafoi o tema da escola de
samba Pérola Negra em São Paulo.
Em 2004, com o
apoio da ABL, a Trinca Filmes produziu um documentário intitulado O Sertão:
Mundo de Ariano Suassuna, dirigido por Douglas Machado e que foi exibido na
Sala José de Alencar.
Em 2007, em
homenagem aos oitenta anos do autor, a Rede Globo produziu a minissérie A
Pedra do Reino, com direção e roteiro de Luiz Fernando Carvalho a partir
de O Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta.[14][15][16]
As obras de
Suassuna já foram traduzidas para o inglês, francês, espanhol, alemão,
holandês, italiano e polonês.[17]
Em 2011,
quando Eduardo Campos, então governador de Pernambuco, foi
reeleito presidente nacional do Partido Socialista Brasileiro - PSB, Ariano foi eleito
presidente de honra do partido. Na oportunidade, declarou que era "um
contador de história" e que encerraria sua "vida política neste
cargo"[18].
Durante o mandato de Eduardo Campos no Governo de Pernambuco, Ariano
Suassuna foi seu assessor especial até abril de 2014.[12][19]
Academia
Pernambucana de Letras
Em 1993, foi
eleito para a cadeira 18 da Academia Pernambucana de Letras,
cujo patrono é o escritor Afonso Olindense.
Academia
Brasileira de Letras
De 1990 até o
ano de sua morte, ocupou a cadeira 32 da Academia Brasileira de Letras, cujo
patrono é Manuel José de Araújo Porto Alegre,
o barão de Santo Ângelo. Foi sucedido por Zuenir
Ventura.[20]
Academia
Paraibana de Letras
Assumiu a
cadeira 35 na Academia Paraibana de Letras em 9
de outubro de 2000, cujo patrono é Raul Campelo Machado,
sendo recepcionado pelo acadêmico Joacil de Brito Pereira.
http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/2014/07/apos-16-horas-de-velorio-e-desfile-em-carro-aberto-ariano-e-enterrado.html
Morte
Ariano morreu
no dia 23 de julho de 2014 no Real Hospital Português,
no Recife,
vítima de uma parada cardíaca. Havia dado entrada no hospital na noite do dia
21, depois de um acidente vascular cerebral (AVC),
passando por procedimento cirúrgico com colocação de dois drenos para controlar
a pressão intracraniana.[21] Ele
ficou em coma e respirando por ajuda de aparelhos.[22] O
corpo de Ariano foi sepultado no Cemitério Morada da Paz em Paulista, Região Metropolitana do Recife em
Recife em 24 de julho de 2014.[23]
Ariano
Suassuna era torcedor do Sport Club do Recife.[24] O
clube o homenageou, dando o nome de Taça Ariano Suassuna a um torneio
amistoso internacional de futebol que promove anualmente desde 2015, durante a
sua pré-temporada.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário