Por: Rangel Alves da Costa*
OS MAUS GOVERNANTES E AS FOLHAS DE OUTONO
Nos países onde os governantes são alçados ao poder por imposição, a sua derrubada se dá através das revoltas e revoluções como estão ocorrendo na denominada Primavera Árabe. Já nos países tidos como democracias, geralmente a derrocada dos maus governantes ocorre pela silenciosa ação do eleitor, através do seu voto.
Na democracia eletiva, se o poder político é alcançado através do voto, então esse mesmo voto, não destinado mais ao candidato eleito, servirá para afastá-lo de suas pretensões em continuar se beneficiando do mandato outorgado. Desse modo, como se vê, tão simples é eleger como derrotar. Basta um voto, apenas um voto. O voto de cada um, o seu voto.
Numa comparação oportuna, diria que o mau governante possui a mesma força e a mesma tendência das folhas de outono. Por mais que se esforce para continuar preso ao galho do poder, indubitavelmente, mais cedo ou mais tarde irá cair ou ser levado pelo vento soprado pelo povo. E que força o povo tem sem saber!
As folhas que estão verdejantes até o final do verão, ao se iniciar o outono vão perdendo seu viço e cor, sua força e seu poder de continuar fazendo parte da natureza. Ficam amareladas, ocres, marrons, acinzentadas e depois alcançam uma indescritível tonalidade. A fragilidade já lhes alcançou totalmente, o galho não dá mais poder de sustentação, então basta um entardecer de ventania mais forte para tudo acabar. Do mesmo modo ocorre com o mau governante.
O governante geralmente acha que tudo é primavera, tudo florido demais, tudo dentro de um estágio de inabalável segurança política. Por mais que ele mesmo tenha demitido o jardineiro, deixado de molhar as plantas e abandonado completamente o jardim, ainda assim supõe que tudo continua às mil maravilhas. E se um dos bajuladores lhe chega e diz que o povo está reclamando do abandono do seu jardim, mesmo assim nada afetará sua ilusão de normalidade.
Ao chegar o verão, não apenas o jardim estará completamente destruído como as praças, as ruas, os canteiros, as construções que embelezavam a cidade. Não obstante isso, o governante continua achando que está administrando com eficiência e que todo mal-estar da população é passageiro. Mas o povo também já está sabendo que as únicas benfeitorias realizadas foram em prol do próprio governante e dos seus apadrinhados, e tudo envolvendo desvio de verbas, improbidades de todos os tipos e outras aberrações.
O bajulador mais uma vez alerta o governante para o descontentamento do povo, sua indignação e revolta, e o que ele faz é apenas prometer que aquela será a estação das grandes obras para calar a boca dos descontentes e principalmente da oposição. Contudo, passa o verão sem a realização de nada do que foi prometido e assim que o outono começa a despontar já será tarde demais.
Quando o outono chega e começa a mudar os ares de tudo ao redor, o governante começará também a se sentir diferente, mais fragilizado, sem a força política de antes, sem o apoio de parte dos seus eleitores, contando apenas com os bajuladores e aqueles apadrinhados. Mas estes sentem que também não estão mais em condições favoráveis e pouco podem fazer pelo seu líder.
A essa altura o governante, de árvore frondosa e parecendo indestrutível, logo passará a ser um velho galho retorcido e prestes a desabar. Em seguida não é nada mais do que uma folha que continuamente vai secando, perdendo toda sua força, tendente a deixar de existir. E enquanto isso o povo está passeando pelo arvoredo esperando apenas o momento certo de a folha ficar entregue ao sabor da ventania que vai chegar.
E a ventania tem nome. E o seu nome é eleição. E a ventania tem nome. E o seu nome é povo eleitor. E basta que o povo sopre na urna o seu descontentamento, a sua revolta e indignação, que a folha deixará de existir. E distantemente soprado vai o mau governante, com o mesmo destino dos corruptos e enganadores.
Rangel Alves da Costa*
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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