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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Tipos populares de Mossoró - 26 de Fevereiro de 2012

Por: Geraldo Maia do Nascimento

Toda cidade, por menor que seja, tem suas personalidades de costumes estranhos, diferente do habitual, do aceitável, que agem fora das normas de vivência e dos costumes da comunidade. São os chamados tipos populares, figuras obrigatórias na vida de uma comunidade. 
Em Mossoró, como na maioria das cidades do interior, alguns desses tipos tornaram-se bastante conhecidos, ao ponto de mesmo depois de suas mortes continuarem sendo lembrados por suas esquisitices. Vamos recordar duas figuras do passado, que terminaram entrando para a história por serem diferentes: 

Manuel Cachimbinho, por exemplo, cujo nome verdadeiro era Manuel Lima da Silva. Viveu em Mossoró numa época em que a cidade passava por transformações estruturais, com a expansão do trem de ferro e dos automóveis de buzinas estridentes. O apelido vinha do fato de estar sempre com um cachimbo na boca, vício que o acompanhou até a morte. Apesar de ter a mente perturbada, era manso como um cordeiro. Vivia na rua pedindo esmolas. E, como diz o ditado, cada doido tem sua mania, Manuel Cachimbinho passou a imitar os carros e trens que circulavam pela cidade. Era um veículo humano, com suas curvas fechadas, em constantes correrias. Ninguém o via senão correndo pelas ruas ou chegando e saindo da cidade. O jornalista Lauro da Escóssia, em matéria escrita sobre o assunto, conta que “certa vez Manuel Cachimbinho ganhou aposta com o trem, ao saírem ambos da estação ferroviária em demanda da ponte de ferro sobre o rio Mossoró. Chegou ao local antes do trem apitar na curva da avenida Alberto Maranhão.” Como disse o jornalista, “Cachimbinho encontrou na linguagem dos automóveis, a impressionante motivação para se anunciar no seu santo ofício de pedestrianismo”. 
Certa vez, saiu correndo do centro da cidade em direção a sua modesta morada situada no sítio Pintos, onde encontrou a sua mãe sentada na porta de entrada da casa. Buzinou, buzinou, deu curvas e como não encontrou área suficiente para acesso à moradia, acelerou a carreira jogando a velha fora do trânsito. 
Outra figura bastante estranha que apareceu em Mossoró pelos idos de 1943 foi o chamado “homem cabeludo”, fazendo assombração, causando espanto pela originalidade de sua vivência nas matas, com cabelos longos em desalinho, barbudo e, além do mais, vivendo completamente despido. Seu nome era João Raimundo, fanático do beato José Lourenço, fugitivo do Caldeirão desde os instantes em que a polícia decidiu dispersar o grupo. O Caldeirão do beato José Lourenço era terra que pertencia ao padre Cícero Romão Batista. Com a morte do padre, as terras foram herdadas pela Ordem Religiosa dos Irmãos Salesianos que não mediram esforços para desocupar a propriedade. João Raimundo passou sete anos fugitivo da civilização. Viveu todo esse tempo uma vida nômade, tendo como companheiros apenas feras e pássaros, alimentando-se de raízes e do que mais conseguia para comer. 
Era realmente espantoso ver aquele homem selvagem, tanto assim que passou a ser chamado por muitos de Tarzan, o que lhe rendeu reportagem nos jornais da época. 
Preso, certa vez na chapada, foi levado à cadeia do Apodi e dali mandado para Pau dos Ferros, de onde era natural e onde havia deixado mulher e filhos. As autoridades daquela região, por não terem nenhuma reclamação contra ele, resolveram deixa-lo em liberdade, desde que voltasse a civilização. Porém solto, voltou a vida selvagem e dessa vez com um agravante: passou a dizimar o rebanho que encontrava. Novamente preso, veio para Mossoró onde, antes de ser recambiado para Natal, teve seu cabelo e barba cortados e foi fotografado. Depois da prisão em Natal, não se teve mais notícias do homem cabeludo.
               

Figuras de comportamento estranhos vivendo em comunidades sempre houve e sempre haverá, como os dois que acabamos de descrever. Outros, como Zé Alinhado e Benício Gago, viraram nomes de ruas em Mossoró como nos conta Raimundo Soares de Brito em seu recente trabalho sobre os patronos das ruas de Mossoró.

Geraldo Maia do Nascimento
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