Por: Rangel Alves da Costa*
PELA LUZ DOS OLHOS TEUS
Tudo é deserto e tão escuro, meu amor; meu passo é lento, curvo, descompassado; um tanto de vida e muito mais de maltratado, mas caminharei adiante porque sigo pela luz dos olhos teus.
Um dia me falaram sobre os perigos das veredas, sobre os labirintos ladeando a estrada, e jamais me esqueci do que de repente um poeta me ensinou: “no meio do caminho tem uma pedra, tem uma pedra no meio do caminho...”
Olhei o mundo pela janela, avistei horizonte e paisagem, um mundo disforme e desconhecido, e juro que tive medo. Depois abri a porta e senti meu olhar cheio de curvas e dúvidas, nada diferente do que estava adiante.
A necessidade me fez caminhar sem temer, a sobrevivência me fez ter coragem e fé, a vontade de viver me fez mais apegado às pequenas coisas para ter sempre mais. E de repente já estava no mundo e rodeado de todas as circunstâncias e consequencias.
Já olhava o mundo da janela de forma diferente, apreciando e valorizando cada motivo bom definido no olhar; não tinha mais medo de abrir a porta, do que havia adiante nem de caminhar por suas curvas; havia encontrado a vida, mas faltava o amor.
Não faltava o amor, faltava amar. E como era difícil amar do jeito que eu via, sentia e queria o amor. Lembro que ainda era um tempo de romantismo, de namoros e bilhetes, de poesias e versinhos apaixonados. Tempo bom, bem lembro...
Era um tempo de riscar os dois nomes, com coração e tudo, no tronco da árvore mais frondosa que existia; era um tempo de colher fruta madura para presentear, de roubar a flor mais bela do jardim, de ficar debaixo da janela esperando que a cortina se abrisse.
Tinha maçã do amor e pirulito, retrato 3x4 propositalmente deixado dentro do caderninho, uma praça e um banco de praça, e sempre um entardecer e uma esperança. Nunca esquecerei desse tempo meu, jamais.
Eclesiastes me ensinou que há um tempo pra tudo. “Para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo dos céus: tempo para nascer, e tempo para morrer; tempo para plantar, e tempo para arrancar o que foi plantado; tempo para matar, e tempo para sarar; tempo para demolir, e tempo para construir; tempo para chorar, e tempo para rir; tempo para gemer, e tempo para dançar; tempo para atirar pedras, e tempo para ajuntá-las; tempo para dar abraços, e tempo para apartar-se. Tempo para procurar, e tempo para perder; tempo para guardar, e tempo para jogar fora; tempo para rasgar, e tempo para costurar; tempo para calar, e tempo para falar; tempo para amar, e tempo para odiar; tempo para a guerra, e tempo para a paz”.
Por isso mesmo sabia que um dia chegaria o meu tempo de amar. Mas não sabia que o meu amor nasceria naquela molecota que rodava faceira na brincadeira de roda, que era pastorinha no cordão encarnado, que pulava, que corria, que dançava.
Um dia, apenas por brincadeira, passei apressado com meu cavalo de pau e disse que ela era linda e ia ser minha namorada. Ela me deu língua e achei a coisa mais feia do mundo de menina fazer. Mas achei a língua bonita, a dona dela e o seu semblante ainda mais.
Os anos passaram e aquela mesma língua um dia estava quietinha na boca que me disse que não sabia responder ainda sobre a minha pretensão amorosa. E continuou sem resposta por muito tempo.
Porque ela não havia me dado uma esperança boa é que olhava da janela temendo a vida também dizer não; não abria a porta com medo dos caminhos; não pegava a estrada temendo seus labirintos. Até que um dia a brisa me soprou no ouvido um segredo.
E com a brisa, que apressada se fez em vento, passei diante de sua janela. Um olhar como resposta e o amor enfim. Um olhar que brilhava e que dali em diante também foi parte dos olhos meus.
E com o amor, tanto amar, os caminhos sem medos e a força para seguir sempre em frente. E quando o olhar me cansa, vejo tudo, enxergo a vida, pela luz do seu olhar, pela luz dos olhos teus.
Rangel Alves da Costa*
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com
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