Em "Lampião
e Lancelote" acontece um encontro inusitado: um cavaleiro medieval desafia
um cangaceiro do Nordeste. Para o primeiro é uma justa e para o segundo um
duelo. Porém, o embate é, sobretudo cultural. Nas linguagens do cordel e da
novela de cavalaria, Lampião e Lancelote disputam quem faz o melhor repente,
cada um com suas referências.
O cavaleiro Lancelote, o melhor da Távola Redonda do Rei Arthur, desafia
Lampião, o cangaceiro mais famoso do Nordeste Brasileiro. O autor Fernando
Vilela encontrou, no entanto, pontos análogos e relações entre esses mundos, e
Bráulio Tavares, autor da adaptação para o teatro, manteve esses elementos na
dramaturgia. Os dois heróis retratados neste livro são acompanhados por
personagens míticos e históricos como Morgana e Maria Bonita.
No teatro, a
encenação é caprichada e moderna com uma montagem que, além de valorizar a
cultura brasileira, encanta tanto pela beleza estética e literária - inspirada
nos desenhos e xilogravuras do livro de Fernando -, quanto pela mágica de
fábula que tais personagens inspiram. Nesta adaptação para o teatro, a
estrutura literária criada pelo autor é mantida tanto nos diálogos como nas
letras das músicas, para que a beleza do estilo e a poética de sua proposta
sejam mantidas.
As ilustrações de Vilela brincam com os dois universos presentes no livro. Para
desenvolver a ambientação medieval, ele buscou como referência as iluminuras
medievais. Já para Lampião, a xilogravura popular e as fotografias de época
serviram de guia para desenvolver a indumentária e o universo do cangaço.
Vilela obteve o dinamismo das ilustrações e seu forte caráter gráfico com o uso
de matrizes móveis e independentes, que funcionam como carimbos.
Outro aspecto marcante das imagens é o uso de tons de cobre e prata. O primeiro
evoca as balas, anéis, moedas e roupas de Lampião. Já a cor prata lembra a
espada e a lança dos cavaleiros.
Editado pela Cosacnaify, o livro é um dos mais premiados do Brasil. Recebeu dois prêmios Jabuti, quatro prêmios FNLIJ e menção Honrosa na feira de Bolonha. O livro mistura os registros literários, mantendo a rima e o improviso do cordel, além do léxico medieval. Nas falas do cangaceiro, Fernando Vilela usou a métrica mais tradicional do cordel, a sextilha heptassilábica, composta de seis versos com sete sílabas poéticas cada.
Já nas falas do cavaleiro, foi empregada a sextilha, sete versos de sete sílabas, consagrada nos duelos (de Lampião) escritos por José Costa Leite. Por fim, para a travessia de Lancelote, Vilela apropriou-se dos termos e estrutura de sentenças das novelas de cavalaria. As narrativas épicas da cultura medieval e as sextilhas dos cordelistas do sertão são matrizes que se juntam pra criar uma história em prosa e verso, em carimbo e em xilogravura, mostrando o instante em que dois universos paralelos se cruzam através das figuras de seus maiores heróis.
O livro está à venda nas principais livrarias virtuais a R$ 57 (veja na Saraiva).
http://luzdefifo.blogspot.com.br/2013/06/livro-lampiao-e-lancelote.html
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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