Ziraldo - Você
andava trabalhando, vendendo doces, carregando água... Quando que houve a
decisão de você procurar o homem? Ou foi por acaso? Conta pra gente cumé que
foi.
- Eu num procurei ele. Teve um sujeito que - já depois de eu ter saído da companhia de meus irmãos, minhas irmãs - abusou de minha irmã. Então, eu fui lá saber o que tinha havido. Uma irmã mais velha que eu tinha, que quase foi minha mãe de criação, chegou pra mim e disse: "Olha, meu filho, isso não é caso de você nem saber. Papai é um homem velho e vamos ver como é que vai dar isso, sem ele nem saber". Eu digo: "Não, o papai deve saber". Os meus irmãos mais velhos já eram casados. Uns já não estavam mais lá, e uns não tavam sabendo de nada. Bom, então eu mesmo vou saber. Aí fui saber dela o que tinha havido. Ela não quis dizer. Aí chegou outra irmã, e disse que tinha acontecido assim, isso, essas coisas e o sujeito era casado. Ai eu cheguei pra ela e disse: "Olha, nós vamos hoje avistar o delegado".
Millôr - Isso foi em Itabaiana, né?
- Aí ela disse: "Não, eu não vou". Aí eu disse: "Mas vai". Aí cheguei para o delegado - que era aliás compadre do nosso pai, compadre Zezé Reis - e disse: "O compadre, aconteceu isso assim com minha irmã, e eu queria que o senhor tomasse uma providência." Ele aí disse: "Eu vou mandar chamar ele". Aí eu disse:"Mas o senhor vai mandar chamar ele, seu Zezé? Isso é caso do senhor mandar chamar? O senhor devia era buscar logo ele. O senhor como delegado podia buscar logo ele." Aí ele disse: "Eu vou mandar buscar logo ele."
Millôr - Você tinha que idade nessa época?
- Tinha 10 para 11 anos. O sujeito chegô lá - negrão forte e tudo. Aí, ele disse: "Pronto seu Zezé, eu estou aqui, o senhor mandou prender; eu não sei por que". Ele disse: Não,você deve saber. Essa menina aqui, você é responsável por ela, pelo que aconteceu".
Millôr - Que idade tinha a menina na época?
- 16 anos. Aí ele disse pro delegado: "Olha, eu vou dizer pro senhor: eu num vou casar com égua" .Com égua?! Eu olhei e esperei que o delegado diria. Aí o delegado disse: "Bom, então você vai embora e depois mando te chamar procê me dar esse depoimento certinho". Aí eu olhei pro delegado, olhei, Olhei, as lágrimas me veio nos olhos e pensei: "Mas, cumé que pode? Tá certo?" Aí eu fui diretamente para casa; Num tem nada não. A. justiça aqui quem faz sou eu mesmo. Ninguém vai fazer nada não. E o meu irmão disse: "Mas o que, meu irmão"? Eu disse: "Nada, não se incomoda". Então eu fui, comprei uma facazinha, que naquele tempo se chamava "salva - vida" e amolei. Ele disse: "Onde ce vai"? Eu disse: "Eu vou ali, eu vou ali que eu vou acertar o negócio hoje. O delegado não agiu, eu vou agir." Aí fui. Quando cheguei, encontrei ele, que ia entrando num armazém. Quando ele entrou no armazém, disse assim: "Eu quero um charuto "Sperdieck" e bota um conhaque "Macieira" que eu quero tomar.
Millôr - Isso era de dia ou de noite?
- Podia ser uma hora e meia da tarde. Aí, quando ele pegou o charuto e bebeu o conhaque, quebrou o charuto e botou na boca, eu disse assim: "Você vai botar na boca. Mas num vai fumar porque você não viu mulher parir égua." Aí eu encostei nele. Encostei, ele de sopapo em mim. Eu saindo fora, ele de sopapo e eu saindo fora. Na hora eu me esqueci da faca, nem da faca eu me lembrei. Eu só me livrando dele, aí eu piso numa casca de manga e escorreguei. Aí ele disse: "Bom, sopapo num pega em você, não. Mas faca pega." Ele tirou uma faca e me deu uma facada debaixo da costela. Ainda hoje há uma marca. Aí, quando eu levantei, ouvi dizer: "Num mata o menino". A rua já tava cheia de gente: "Num mata num mata". E eu tô lutando com ele. Ai, aconteceu que eu levantei e dei uma cabeçada nele. Eu levei a cabeça, e ele botou a faca nas costas. Quando botou a faca, ele se entregou e eu botei nele...
Ziraldo - Onde, na barriga?
- Opa, em cima do umbigo dele. Ele nem saiu do lugar.
Ziraldo - Ele era.muito mais alto do que você?
- Ah, era! Ele era forte. Aí, ele todo ensangüentado, um disse: "Olha, corre que a polícia vem ali". Aí, eu entrei numa casa, e uma moça ficou lavando o sangue. Eu tava sangrando igual uma rês sangrada. Aí sai, trepei em cima de um umbuzeiro. E tô vendo lá o bichão estirado pela rua. Mas o sangue descia muito. Aí, eu pensei: "Bom, a vida é essa mesmo". Saí, e atravessei uma maré.
Millôr - Mar?
- É, maré, ponta de mar.
Ziraldo - Quando a água sobe vira maré; quando ela desce fica seco.
- É isso mesmo.
Ziraldo - Você atravessou nadando?
- É, e todo ensanguentado, já fraco...
Millôr - Itabaiana é zona do mar?
- Não, é distante.
Ziraldo - Mas tem umas entradas de mar?
- É, tem aquelas entradas de mar. Aí, eu fui direto pra casa todo sangrando. Minha irmã disse:"Mas o que que houve"? Eu disse: "Num quero nem saber. Você vai lá, vê se o revólver do pai tá, e traz aqui". Ela foi e disse: "Tem, mas tá sem bala .Eu disse: "Cê vai lá na loja. do tio Ozinho Dutra e diz a ele que o papai mandou pegar uma caixa de bala, uma caixa de bala 38".
Millôr - Você estava sangrando o tempo todo?
- Tava sangrando. O sangue descendo e eu lavando com sal e tudo e não havia nada que parava. Aí, ela foi lá e chegou com uma caixa de balas, e eu disse: "Olha, eu vou embora. Porque eu sei que a Polícia já vem ai atrás de mim. O que eu tinha de fazer eu já fiz. Um dia, se não morrer, eu apareço". Aí, ela começou a chorar e eu disse: "Num chora, nem nada. Se chegar alguém aqui, cê diz que eu não passei e disse pronto, mais nada. Aí, desci e fui embora, me despedi dela. Na gaveta só tinha dois cruzados. Foi isso o que eu levei: dois cruzados. E me joguei no mundo.
Aparício - Dois cruzados correspondiam a quanto, naquela época?
- Ah! Muita coisa, comprava muita coisa. O que eu comprava com dois cruzados naquela época, hoje com dez contos eu não compro.
Millôr - Era uma moeda grande assim, né?
- Era, um níquel.
Ziraldo - Quer dizer que era como uns vinte, trinta contos no bolso.
- Não, não...
Millôr - Dava pra se alimentar quantos dias?
- Uma semana, uma semana dava folgado. Aliás, com um vintém a gente comprava 4 bisnagas, dessas que a gente hoje.
Millôr - E dois cruzados eram quantos vinténs?
- Um tostão era dez vinténs. Então, eu peguei o revólver com as balas. Uma irmã, minha namorava lá com um soldado chamado Miguel Lagoa, sujeitão alto. Então, quando ele soube do negócio, foi o primeiro a se prontificar para ir atrás de mim.
Ziraldo - Bom amigo esse pra família...
- É. Ele disse: "Não, eu vou atrás dele. Num vou deixar maltratar ele. Eu mesmo prendo ele e trago". Então, eu saí, e cheguei num lugarzinho chamado Mangabira. (Macambira) Desci umas moitas e parei pra descansar. Daí a pouco, lá vem ele atrás de mim, ele e mais um outro, a cavalo atrás de mim. Quando eles deram comigo, apontaram de longe. Ai, ele disse: "Ô Antônio, para aí". Eu disse: "Num vou esperar nada"...
Millôr - Antônio é o seu nome?
- É. Aí ele disse: "Espera que eu quero falar com você". Aí, o outro que estava com ele, disse assim: "Atira logo que ele é criminoso". Eu disse: "Atire logo"! E eu "aproveitei" ele.
Ziraldo - "Aproveitou" ele na bala... E o outro?
- É, atirei no outro também.
Ziraldo - Cumé que o outro chama?
- Miguel Lagoa.
Ziraldo - O nome do primeiro, do crioulo que você matou?
- Ah, esse eu não sei.
Ziraldo - Mas ficou lá também? Acertou?
- Acertei.
Jaguar - No cunhado?
- É... No que queria ser meu cunhado, o Miguel Lagoa. Foi esse que recebeu o negócio, o outro correu. E eu não tinha nada pra fazer, fui atrás dele e ele disse: " Ah, num me mate não, não acaba de me matar..." E eu disse: "Não, matar eu num vou matar, não. Mas essa arma eu vou levar". Aí, eu apanhei a arma dos dois, amarrei na cintura, outra no ombro e sai arrastando.
Millôr - Você deste tamanhozinho assim...
- É... Cheguei na frente, tinha uma fazenda chamada Aricuri e o cara me disse: "Escuta, você quer me vender esse fuzil"? Eu disse: "Vendo". Ele: "Eu lhe dou 200 mil réis". Eu não sabia quanto custava, nem nunca tinha usado aquilo. Vendi: 200 mil réis. Aí, quando cheguei na frente, um outro fazendeiro me disse assim: "Olha, eu te dou um rifle com cem balas e ainda te dou 300 mil réis pelo fuzil." Eu digo: "Tá bom". Aí, eu cheguei na frente e digo: "Bom, o cara não me deu nada, só me deu 200 mil réis nesse." Eu disse: "Não, eu quero 500 mil réis; e me dá logo". Ele olhou assim. E eu disse: "Olha, quem tá perdido todo caminho não vai pra casa. Eu num tenho mais liberdade na vida, num tenho mais sorte na vida. A minha vida é essa mesmo". Ele aí foi lá, apanhou os 500 mil réis e me deu.
Millôr - Os outros dois ficaram onde, o Miguel Lagoa e o outro?
- Aqueles ficaram pra lá, o outro correu.
CONTINUA... Viúva ampara Volta Seca
- Eu num procurei ele. Teve um sujeito que - já depois de eu ter saído da companhia de meus irmãos, minhas irmãs - abusou de minha irmã. Então, eu fui lá saber o que tinha havido. Uma irmã mais velha que eu tinha, que quase foi minha mãe de criação, chegou pra mim e disse: "Olha, meu filho, isso não é caso de você nem saber. Papai é um homem velho e vamos ver como é que vai dar isso, sem ele nem saber". Eu digo: "Não, o papai deve saber". Os meus irmãos mais velhos já eram casados. Uns já não estavam mais lá, e uns não tavam sabendo de nada. Bom, então eu mesmo vou saber. Aí fui saber dela o que tinha havido. Ela não quis dizer. Aí chegou outra irmã, e disse que tinha acontecido assim, isso, essas coisas e o sujeito era casado. Ai eu cheguei pra ela e disse: "Olha, nós vamos hoje avistar o delegado".
Millôr - Isso foi em Itabaiana, né?
- Aí ela disse: "Não, eu não vou". Aí eu disse: "Mas vai". Aí cheguei para o delegado - que era aliás compadre do nosso pai, compadre Zezé Reis - e disse: "O compadre, aconteceu isso assim com minha irmã, e eu queria que o senhor tomasse uma providência." Ele aí disse: "Eu vou mandar chamar ele". Aí eu disse:"Mas o senhor vai mandar chamar ele, seu Zezé? Isso é caso do senhor mandar chamar? O senhor devia era buscar logo ele. O senhor como delegado podia buscar logo ele." Aí ele disse: "Eu vou mandar buscar logo ele."
Millôr - Você tinha que idade nessa época?
- Tinha 10 para 11 anos. O sujeito chegô lá - negrão forte e tudo. Aí, ele disse: "Pronto seu Zezé, eu estou aqui, o senhor mandou prender; eu não sei por que". Ele disse: Não,você deve saber. Essa menina aqui, você é responsável por ela, pelo que aconteceu".
Millôr - Que idade tinha a menina na época?
- 16 anos. Aí ele disse pro delegado: "Olha, eu vou dizer pro senhor: eu num vou casar com égua" .Com égua?! Eu olhei e esperei que o delegado diria. Aí o delegado disse: "Bom, então você vai embora e depois mando te chamar procê me dar esse depoimento certinho". Aí eu olhei pro delegado, olhei, Olhei, as lágrimas me veio nos olhos e pensei: "Mas, cumé que pode? Tá certo?" Aí eu fui diretamente para casa; Num tem nada não. A. justiça aqui quem faz sou eu mesmo. Ninguém vai fazer nada não. E o meu irmão disse: "Mas o que, meu irmão"? Eu disse: "Nada, não se incomoda". Então eu fui, comprei uma facazinha, que naquele tempo se chamava "salva - vida" e amolei. Ele disse: "Onde ce vai"? Eu disse: "Eu vou ali, eu vou ali que eu vou acertar o negócio hoje. O delegado não agiu, eu vou agir." Aí fui. Quando cheguei, encontrei ele, que ia entrando num armazém. Quando ele entrou no armazém, disse assim: "Eu quero um charuto "Sperdieck" e bota um conhaque "Macieira" que eu quero tomar.
Millôr - Isso era de dia ou de noite?
- Podia ser uma hora e meia da tarde. Aí, quando ele pegou o charuto e bebeu o conhaque, quebrou o charuto e botou na boca, eu disse assim: "Você vai botar na boca. Mas num vai fumar porque você não viu mulher parir égua." Aí eu encostei nele. Encostei, ele de sopapo em mim. Eu saindo fora, ele de sopapo e eu saindo fora. Na hora eu me esqueci da faca, nem da faca eu me lembrei. Eu só me livrando dele, aí eu piso numa casca de manga e escorreguei. Aí ele disse: "Bom, sopapo num pega em você, não. Mas faca pega." Ele tirou uma faca e me deu uma facada debaixo da costela. Ainda hoje há uma marca. Aí, quando eu levantei, ouvi dizer: "Num mata o menino". A rua já tava cheia de gente: "Num mata num mata". E eu tô lutando com ele. Ai, aconteceu que eu levantei e dei uma cabeçada nele. Eu levei a cabeça, e ele botou a faca nas costas. Quando botou a faca, ele se entregou e eu botei nele...
Ziraldo - Onde, na barriga?
- Opa, em cima do umbigo dele. Ele nem saiu do lugar.
Ziraldo - Ele era.muito mais alto do que você?
- Ah, era! Ele era forte. Aí, ele todo ensangüentado, um disse: "Olha, corre que a polícia vem ali". Aí, eu entrei numa casa, e uma moça ficou lavando o sangue. Eu tava sangrando igual uma rês sangrada. Aí sai, trepei em cima de um umbuzeiro. E tô vendo lá o bichão estirado pela rua. Mas o sangue descia muito. Aí, eu pensei: "Bom, a vida é essa mesmo". Saí, e atravessei uma maré.
Millôr - Mar?
- É, maré, ponta de mar.
Ziraldo - Quando a água sobe vira maré; quando ela desce fica seco.
- É isso mesmo.
Ziraldo - Você atravessou nadando?
- É, e todo ensanguentado, já fraco...
Millôr - Itabaiana é zona do mar?
- Não, é distante.
Ziraldo - Mas tem umas entradas de mar?
- É, tem aquelas entradas de mar. Aí, eu fui direto pra casa todo sangrando. Minha irmã disse:"Mas o que que houve"? Eu disse: "Num quero nem saber. Você vai lá, vê se o revólver do pai tá, e traz aqui". Ela foi e disse: "Tem, mas tá sem bala .Eu disse: "Cê vai lá na loja. do tio Ozinho Dutra e diz a ele que o papai mandou pegar uma caixa de bala, uma caixa de bala 38".
Millôr - Você estava sangrando o tempo todo?
- Tava sangrando. O sangue descendo e eu lavando com sal e tudo e não havia nada que parava. Aí, ela foi lá e chegou com uma caixa de balas, e eu disse: "Olha, eu vou embora. Porque eu sei que a Polícia já vem ai atrás de mim. O que eu tinha de fazer eu já fiz. Um dia, se não morrer, eu apareço". Aí, ela começou a chorar e eu disse: "Num chora, nem nada. Se chegar alguém aqui, cê diz que eu não passei e disse pronto, mais nada. Aí, desci e fui embora, me despedi dela. Na gaveta só tinha dois cruzados. Foi isso o que eu levei: dois cruzados. E me joguei no mundo.
Aparício - Dois cruzados correspondiam a quanto, naquela época?
- Ah! Muita coisa, comprava muita coisa. O que eu comprava com dois cruzados naquela época, hoje com dez contos eu não compro.
Millôr - Era uma moeda grande assim, né?
- Era, um níquel.
Ziraldo - Quer dizer que era como uns vinte, trinta contos no bolso.
- Não, não...
Millôr - Dava pra se alimentar quantos dias?
- Uma semana, uma semana dava folgado. Aliás, com um vintém a gente comprava 4 bisnagas, dessas que a gente hoje.
Millôr - E dois cruzados eram quantos vinténs?
- Um tostão era dez vinténs. Então, eu peguei o revólver com as balas. Uma irmã, minha namorava lá com um soldado chamado Miguel Lagoa, sujeitão alto. Então, quando ele soube do negócio, foi o primeiro a se prontificar para ir atrás de mim.
Ziraldo - Bom amigo esse pra família...
- É. Ele disse: "Não, eu vou atrás dele. Num vou deixar maltratar ele. Eu mesmo prendo ele e trago". Então, eu saí, e cheguei num lugarzinho chamado Mangabira. (Macambira) Desci umas moitas e parei pra descansar. Daí a pouco, lá vem ele atrás de mim, ele e mais um outro, a cavalo atrás de mim. Quando eles deram comigo, apontaram de longe. Ai, ele disse: "Ô Antônio, para aí". Eu disse: "Num vou esperar nada"...
Millôr - Antônio é o seu nome?
- É. Aí ele disse: "Espera que eu quero falar com você". Aí, o outro que estava com ele, disse assim: "Atira logo que ele é criminoso". Eu disse: "Atire logo"! E eu "aproveitei" ele.
Ziraldo - "Aproveitou" ele na bala... E o outro?
- É, atirei no outro também.
Ziraldo - Cumé que o outro chama?
- Miguel Lagoa.
Ziraldo - O nome do primeiro, do crioulo que você matou?
- Ah, esse eu não sei.
Ziraldo - Mas ficou lá também? Acertou?
- Acertei.
Jaguar - No cunhado?
- É... No que queria ser meu cunhado, o Miguel Lagoa. Foi esse que recebeu o negócio, o outro correu. E eu não tinha nada pra fazer, fui atrás dele e ele disse: " Ah, num me mate não, não acaba de me matar..." E eu disse: "Não, matar eu num vou matar, não. Mas essa arma eu vou levar". Aí, eu apanhei a arma dos dois, amarrei na cintura, outra no ombro e sai arrastando.
Millôr - Você deste tamanhozinho assim...
- É... Cheguei na frente, tinha uma fazenda chamada Aricuri e o cara me disse: "Escuta, você quer me vender esse fuzil"? Eu disse: "Vendo". Ele: "Eu lhe dou 200 mil réis". Eu não sabia quanto custava, nem nunca tinha usado aquilo. Vendi: 200 mil réis. Aí, quando cheguei na frente, um outro fazendeiro me disse assim: "Olha, eu te dou um rifle com cem balas e ainda te dou 300 mil réis pelo fuzil." Eu digo: "Tá bom". Aí, eu cheguei na frente e digo: "Bom, o cara não me deu nada, só me deu 200 mil réis nesse." Eu disse: "Não, eu quero 500 mil réis; e me dá logo". Ele olhou assim. E eu disse: "Olha, quem tá perdido todo caminho não vai pra casa. Eu num tenho mais liberdade na vida, num tenho mais sorte na vida. A minha vida é essa mesmo". Ele aí foi lá, apanhou os 500 mil réis e me deu.
Millôr - Os outros dois ficaram onde, o Miguel Lagoa e o outro?
- Aqueles ficaram pra lá, o outro correu.
CONTINUA... Viúva ampara Volta Seca
http://lampiaoaceso.blogspot.com.br/2009/12/entrevista-de-volta-seca-jornal-o.html
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Note bem Mendes, o tamanho da coragem de um menino de 11 anos, e que, entretanto teve um comportamento tão exemplar na prisão, que o Presidente Vargas mandou liberá-lo após 20 anos de reclusão, coisa que ele foi sentenciado a 145 e cumpriria 30 conforme a lei brasileira.
ResponderExcluirNote também que existem pessoas que cometem atrozes crimes e conseguem recuperação mesmo dentro de uma prisão. Após deixar a detenção, Volta Seca casou-se, teve uma grande família, trabalhou e viveu feliz juntos aos familiares.
São coisas da vida.
Antonio José de Oliveira - Povoado Bela Vista - Serfrinha-Ba.