Por Susi Ribeiro Campos
Boa noite
amigo José Mendes Pereira, como lhe prometi, vou lhe escrever aos poucos,
minhas lembranças de Zé Sereno e principalmente de Sila com quem realmente
convivi.
Grupo de cangaceiros de Zé Sereno e Sila
Quando eu e
meus pais chegamos à casa de Zé Sereno e Sila, em 1978, eles moravam em uma
bela casinha branca, com um lindo jardim na frente, muito bem cuidado. Era o
Bairro do Butantã/Vila Gomes em São Paulo. Um pedacinho do nordeste.
Havia uma
pequena escada que levava à porta principal, tocamos a campainha e fomos
recebidos por um senhor de meia idade, cabelos grisalhos, quase brancos, nos
olhou fixamente e depois para mim e sorriu...é você a menina que gosta do cangaço?
Abri o
portãozinho eu mesma e subi as escadas antes que meus pais e abracei o
velhinho, sem saber que um dia aquele seria meu sogro, Zé Sereno.
Zé
Sereno e Sila saíram ilesos do massacre de Angico. Zé Sereno faleceu em 16 de
fevereiro de 1981, no Hospital Municipal de São Paulo.
Rimos todos. Sila veio apressada da cozinha onde estava preparando um lanche, sentamos na
sala e passamos a tarde mais feliz que grandes amigos podem passar.
Seu Zé me mostrava
fotos de quando estava no cangaço, havia também uma "fita" e um
gravador que hoje nem me recordo mais como se chama, com seu depoimento para uma
reportagem sobre o Massacre de Angicos.
A ex-cangaceira Sila faleceu em 15 de Outubro de 2005, também na capital Paulista.
Ouvia atenta. Era emocionante a forma, o tom de voz com a qual aquele senhorzinho falava na
fita, lágrimas escorreram de meus olhos, Sila também se emocionou. Abracei muito
os dois.
Seu Zé foi
pegar seu chapéu, contava a história e o significado místico das estrelas e
enfeites e das orações dobradas, que eram guardadas no mesmo, dos patuás,
enfim, uma mistura do catolicismo predominante no cangaço com crenças
regionais.
https://www.youtube.com/watch?v=fq-UpS76wuY
Peguei o chapéu
e o segurei por longo tempo... tentava imaginar as lutas daquele povo
sofrido. Rimos, ele o colocou em minha cabeça... caiu... rsrsrs era enorme
pra mim.
Seu Zé Sereno
havia retornado do hospital há pouco tempo, sua saúde não estava muito boa, mas
sua memória era como a de um menino. Gostava de
cozinhar, principalmente suas especiarias nordestinas, carnes, e sozinho. Não queria
ajuda, quando ia para cozinha, ninguém podia meter a colher.
Susi Ribeiro Campos e Wilson Campos nora e filho dos cangaceiro Sila e Zé Sereno
Tenho
lembranças dele, que guardo no coração, comigo, sempre sorriu, gostava muito de
crianças e se apegou muito a mim e eu a ele. Pena que o
conheci tão pouco, era humilde com todos, trabalhador, honesto... ao contar
suas histórias, muitas vezes o vi chorar, sim, ele chorava, não sei se de
emoção, mas tinha a grande coragem de chorar.
Após seu
falecimento, meu esposo Wilson me contou que com os repórteres ele agia
diferente. Não chorava e
procurava ser discreto. Havia mesmo se
apegado a mim e a meus pais; conversou muito com meu pai, ficaram amigos.
... Wilson Ribeiro filho de Sila e Zé Sereno
Meu querido
sogro José Ribeiro Filho. Tenho orgulho de carregar o Ribeiro em meu nome, pois
vem do pai de Wilson, o Grande Cangaceiro, Chefe de Sub-Grupo de Lampião Zé
Sereno. Uma figura
paterna que ficou gravada em minha mente.
Obrigada Seu
Zé! Descanse na Paz que tanto merece, ao lado de sua Querida Mãezinha Nossa
Senhora Aparecida e Nosso Senhor Jesus Cristo!
Susi Ribeiro
Campos- nora de Sila e Zé Sereno
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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