Por Antonio Corrêa Sobrinho
AMIGOS,
O doutor
Eronides de Carvalho (1897-1969), médico e político sergipano, tornou-se, a meu
ver, figura mais conhecida, destacada da história de Sergipe e do Nordeste por
que não dizer, de certa forma, menos por ter sido por anos interventor do
Estado, obviamente na época da ditadura Vargas, e mais pela resultante da
imputação que a maioria dos pesquisadores e escritores do Cangaço lhe fez, de
ter sido ele, Eronides, um nem sempre velado protetor de Virgulino Ferreira da
Silva, o famoso bandoleiro das terras adustas do meu Nordeste, Lampião, e mais,
ter “o rei do cangaço”, sucumbido em terras sob o seu comando, inda mais, como
agravante, morto por forças policiais do vizinho estado das Alagoas.
O curioso,
razão inclusive desta postagem, é que o também capitão do Exército, Eronides de
Carvalho, teve seu nome mencionado pela primeira vez num jornal brasileiro de
grande circulação, bem antes de quando já ocupante da chefia do executivo
sergipano. Aconteceu, salvo melhor informação, quando este ainda era um mero acadêmico
na Faculdade de Medicina da Bahia, ainda muito jovem e longe de exercer, como
quis o destino, principescamente o maior cargo político do Estado.
A matéria é a do “O Estado de S. Paulo”, edição de 25.12.1917, sita na página 2, que trago a seguir, dando conta de denúncia feita por Eronides de Carvalho das péssimas condições por ele vivenciadas, de um hospital de loucos em Salvador, onde ele fazia residência; ele, ali, já deixando brotar sua verve política.
REVISTA DOS
ESTADOS - BAHIA
Imagens Internet
O que vai pelo
Hospício de São João de Deus – Graves acusações feitas à sua direção e ao
governo – Há tempos, o doutorando de medicina Eronides de Carvalho, que fora
demitido a bem do serviço público do cargo de interno do Hospício de São João
de Deus, da capital, fez, pelo “A Tarde”, gravíssimas acusações contra a
direção daquele estabelecimento estadual. Dada a situação de acusador, a
enérgica defesa interposta pelo diretor do Hospital, Dr. Plaguer, destruiu a
impressão má deixada no espírito do povo. Entretanto, "A Tarde”, jornal
que pusera as suas colunas à disposição do doutorando Eronides, tratou de
averiguar com que se encontrava a verdade. Para isso, destacou um dos seus
redatores para, acompanhado de um fotógrafo, fazer uma visita minuciosa ao
Hospício. O resultado desse inquérito jornalístico foi simplesmente desastroso
para a direção daquele manicômio: afirma a “Tarde” que tudo o que disse o
doutorando Eronides foi ainda pouco em vista do relaxamento inqualificável,
criminoso reinante no hospício. A descrição de cada um dos pavilhões pode ser
resumida no seguinte: as condições higiênicas são as piores possíveis; a
limpeza e a luz faltam em absoluto em todos os compartimentos, onde vivem na
mais horrível e perigosa promiscuidade os loucos, que, além do mais, são
obrigados a dormir em esteiras, sobre o pavimento ladrilhado, por não haver
camas nem colchões. Há, porém, um pavilhão, o da Ronda, que se destaca, pelo
seu estado de imundície: é um lamaçal de matérias pútridas, uma cuba de gazes mefíticos,
de seis metros de comprimento por 5 de largura, que serve de cárcere a 10
infelizes, que ali aguardam o beribéri ou outra moléstia que os leve para o
além. É simplesmente horroroso, como simplesmente horroroso é o seguinte fato,
relativo à farmácia, narrado com a máxima singeleza por um empregado do
hospício:
Um flagrante inacreditável. A farmácia do Hospício está aos cuidados de um louco, não excitado: o João Alcovia. Esse crime assim nos descreve um empregado do Hospício:
- O farmacêutico Emanuel de Santana tem cursos particulares e para não
prejudica-los, pouco aparece na farmácia do Hospício. O seu ajudante, mais ou
menos com juízo, é um preparatoriano de engenharia (?) que também não é assíduo
à farmácia. João Alcovia é o verdadeiro farmacêutico, pelo menos o único
assíduo. Mexe à vontade nas prateleiras onde estão alguns venenos
violentíssimos, cuja ação letal bastaria para envenenar meia humanidade. O seu
serviço de preferência é misturar remédios...
- E beber álcool com água, aparteia um guarda.
Essa tremenda acusação ao diretor do Hospício de São João de Deus, apresenta um caráter grave, para, em repetição, atingir diretamente o Sr. Secretário do Interior, o superior hierárquico do Dr. Plaguer, e a quem compete tomar as enérgicas providências, no sentido de fazer desaparecer essas graves irregularidades.
Página:
Antônio
Corrêa Sobrinho
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