Por Rangel Alves
da Costa*
A solidão é
terrível, é dolorosa, é cruel. Na solidão há distância, desencontro, todo
impossível.
Aflige, afeta,
corrói, assim é a solidão. E vem a vontade, e vem a saudade, e vem todo alarde.
Quanta dor na
solidão em noite de chuva, na ventania na janela, na palavra que chega na
brisa.
Desilude,
apavora, dói, assim é a solidão. E vem o rosto, e vem todo gosto, depois o
desgosto.
Atormenta
ainda mais quando o pensamento só quer relembrar. E pensando se põe a chorar.
Dá vontade de
encontrar, de beijar, de abraçar, de dizer coisas bonitas, de amar e mais amar.
Em noites
assim, tão costumeiras em mim, faço do lábio amado uma presença tocando ao meu.
Desejando
tocar, desejando sentir, desejando beijar, eis que acabo beijando a boca da
solidão.
Assim,
pensando, querendo beijar, já tanto beijei que agora não sei o que com meu
lábio toquei.
Beijei a boca
da noite, beijei o lábio da lua, beijei vaga-lume na escuridão. Solidão,
solidão...
Beijei a mão
da estrela, beijei o cometa distante, beijei toda vaguidão. Solidão, solidão...
Beijei sua
boca em sonho, beijei o seu corpo em espasmo, beijei com veneração. Solidão,
solidão...
Beijei o lábio
na sombra, beijei a boca que não toquei, beijei a alucinação. Solidão,
solidão...
Beijei retrato
e poema, beijei a saudade sentida, beijei toda magia e ilusão. Solidão,
solidão...
Beijei a
vidraça embaçada, beijei a planta molhada, beijei raio e o trovão. Solidão,
solidão...
Beijei o
silêncio e o nada, beijei o próprio lábio na boca, beijei a desilusão. Solidão,
solidão...
Beijei
ventania e vento, beijei, beijei o varal e o pano, beijei da vida o desvão.
Solidão, solidão...
Beijei seu
nome aflorando, beijei seu rosto distante, beijei dentro do coração. Solidão,
solidão...
Beijei o
orvalho e a flor, beijei a pétala e o espinho, beijei do jardim a canção.
Solidão, solidão...
Beijei seu
pelo e suor, beijei sua nudez e seu sexo, beijei com sofreguidão. Solidão,
solidão...
Beijei o
cálice, beijei o copo, beijei o vinho, beijei a mais dolorosa canção. Solidão,
solidão...
Quantos
beijos, quantos bocas, quantos lábios, não sei, não sei. Só sei que na solidão
beijei.
Eis a dor do
impossível. Amar e não ter, querer e não possuir. Imagina-se encontrando e
beijando.
Para acordar
com o lábio ressequido de solidão e a saudade ainda açoitando, querendo beijar.
Poeta e
cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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