Por José Romero de Araújo Cardoso
O afloramento
do calcário Jandaíra que abrange os municípios potiguares de Felipe Guerra e
Governador Dix-Sept Rosado destaca-se pelas belezas escondidas em inúmeras
cavernas de origem cretácea, as quais atestam pretérita transgressão marinha
que há milhões de anos transformou a região em imenso mar interior, tendo em
vista a origem biológica dessa rocha intensamente utilizada em necessidades
individuais e coletivas.
Não obstante
intenso trabalho desenvolvido pelos membros da Sociedade Espeleológica
Potiguar, muitas cavernas ainda não foram mapeadas em razão de inúmeros
fatores, tais como falta de incentivo, ausência de acesso adequado e gradual
processo de identificação dos lugares em que se encontram localizadas.
Em Felipe
Guerra estão mapeadas e identificadas as cavernas da Rainha, de Passagem Funda,
do Urubu, da Catedral, do Abissal e outras constantes em catalogação efetivada
pela SEPARN e pela SEP. Embora a paisagem subterrânea seja de beleza
inigualável, poucos moradores do antigo termo de Pedra de Abelha aventuram-se
pelas íngremes brechas naturais que conduzem ao interior das estruturas calcárias.
Quando da
passagem do bando de Lampião, em junho de 1927, pessoas mais velhas do lugar
informam que muitos buscaram abrigo nas cavernas, intuindo proteger-se da horda
bandoleira e suas ações nefastas.
O interesse
pelas cavernas de Felipe Guerra é despertado sobretudo em espeleólogos,
biólogos, geógrafos e admiradores das belezas naturais encontradas no interior
de uma caverna calcária com suas estalactites, estalgmites, travertinos,
perolizações e ecossistemas interessantes e inusitados.
Verdadeiro
patrimônio natural está concentrado no sub-solo de Felipe Guerra, bem como nos
vizinhos municípios de Governador Dix-Sept Rosado e Apodi, faltando, no
entanto, maior conscientização da população local e dos poderes públicos sobre
a real dimensão do valor que essas cavernas possuem enquanto fator alicerçante
do orgulho de todos os habitantes, não apenas de Felipe Guerra, mas de todo o
estado do Rio Grande do Norte.
Em Felipe
Guerra a existência de cavernas é mais enfática, encontrando-as profusamente
pelos carrascais adustos que existem em vasta extensão municipal, importante
dádiva da natureza que precisa com urgência ser preservada, visando
disponibilizar as gerações futuras paisagens subterrâneas magistrais que ainda
são deslumbradas no presente.
Defendo a
necessidade de simbiose entre os moradores do lugar e órgãos públicos e
privados para efetivar a preservação em nível sustentável, criando-se
infra-estrutura que favoreça o turismo em bases racionais, sem depredar
cavernas e olhos d’águas que também existem no lugar, sobretudo no Brejo,
histórica comunidade privilegiada pelos caprichos da natureza.
Consciência
ambiental e implemento à geração de emprego e renda devem nortear as ações
humanas, razão pela qual lutar pela preservação e usufruto racional das
cavernas e outras riquezas naturais existentes no município de Felipe Guerra
consiste em meta embasada nos princípios definidos na busca pelo
desenvolvimento sustentável da região semi-árida do nordeste brasileiro.
José Romero
Araújo Cardoso
Geógrafo
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzageuano José Romero de Araújo Cardoso.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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