Juciana
Ser feliz como eu já fui um dia
Ter de tudo sem precisar de nada
Tendo Deus e uma família amada
Foi motivo de amor e alegria
Tendo um pai que fazia poesia
Declamando na luz do lampião
Uma roça repleta de feijão
E uma mãe para nós tão carinhosa
Uma vida de pobre mas gostosa
No batente de pau do casarão.
Edson
Lins
Escutando a voz melodiosa
De uma ave cantando ao sol nascer
Vendo o céu enfeitado pra chover
Numa tarde bonita e tão chuvosa
Beija flor sugando de uma rosa
Néctar puro pra alimentação
A faísca de raio e um trovão
Com barulho de chuva misturava
Essas coisas só via quando estava
No batente de pau do casarão.
Juciana
Uma rede no alpendre eu armava
E dali via a natureza bela
A imagem pra mim era novela
Pois de tudo ali eu vislumbrava
Um menino que uma pipa soltava
Mas na frente outro soltando pião
E um homem trazendo num latão
Uma água barrenta cor de lama
São as coisas que a gente ver e ama
No batente de pau do casarão.
Edson
Lins
Da floresta olhar a verde rama
Ouvir pássaros cantar no arvoredo
Despertar com o galo logo cedo
Que desperta tão cedo e não reclama
Ao descer do puleiro logo chama
As galinhas que descem para o chão
Ficam todas cantando como estão
Todas elas fazendo uma festinha
Isso tem no terreiro da cozinha
Do batente de pau do casarão.
Juciana
Eu me lembro mamãe lá na conzinha
Preparando um café com tapioca
Mugunzá com cuscuz beju pipoca
Só faltava um altar pra ser santinha
Eu me lembro que tinha na casinha
Um machado um chapéu e um facão
Um bezerro um jumento e um gibão
Catavento arapuca e baladeira
E no curral tinha uma vaca leiteira
No batente de pau do casarão.
Edson
Lins
Um cabrito berrando na porteira
O cachorro latindo no terreiro
Aceso no torno o candinheiro
Clareando a sala por inteira
O fogão uma mesa sem cadeira
Um moinho mimoso e um pilão
Três panelas de barro um caldeirão
De mamãe cozinhar para família
E mais um pote furado era a mobília
Do batente de pau do casarão.
Juciana
Eu me lembro demais nossa mobília
Que meu pai gastou tanto pra comprar
Um colchão de palha para deitar
Onde ali aumentava a família
Era simples mas feliz nossa panfília
Pois vivíamos em plena união
Na parede um padin Cico Romão
Fogo a lenha pote e panela de barro
E um jegue muito velho era o carro
No batente de pau do casarão.
Edson
Lins
O meu pai ascendendo o seu cigarro
No brazeiro aceso do fogão
Na gaiola da sala um azulão
Cantando bonito sem esbarro
A carroça servindo como carro
Com o burro puxando no cambão
A tarrafa o anzol e um galão
Apretextos de usar em pescaria
Um motivo de festa e alegria
No batente do pau do casarão.
Juciana
O festejo era uma cantoria
A quermesse ou então um batizado
Casamento novena e reisado
A viagem era uma romaria
O casebre caindo a moradia
O almoço ovo farinha e feijão
Dez bruquelo era a decoração
Nós tínhamos dinheiro e diamante
Mas não fui infeliz um só instante
No batente de pau do casarão.
Edson
Lins
Na cozinha servindo de estante
Uma tábua pregada na parede
E um torno que eu armava a rede
Eu achava aquilo interessante
O meu pai me dizendo é importante
Trabalhar ser honesto é a razão
Nunca faça tamanha ingratidão
Nunca seja ladrão nem assassino
Me recordo meu tempo de minino
No batente de pau do casarão.
Juciana
Foi o tempo tão grande assassino
Acabando com tudo que eu tinha
Pai morreu e eu fiquei tão sozinha
Minha mãe deixou o chão matutino
Lá não tem uma vaca um andrino
Deram fim a estátua de São João
O telhado de velho está no chão
O quintal tá coberto de ervança
Mas não sai um minuto da lembrança
Meu batente de pau do casarão.
Edson
Lins
O meu pai que com tanta esperança
Trabalhava na roça tão contente
Semeando na terra uma semente
Como quem tá na certa que alcança
Mais o tempo fez uma misturança
Transformou o meu sonho de ilusão
Carregou os meus sonhos onde estão
Eu não sei onde tais foram parar
Só não posso esquecer de me lembrar
Do batente do pau do casarão.
Juciana
Um rapaz começou me paquerar
Quando ainda eu estava na escola
Ele magro moreno tão pachola
Eu menina mas ja queria amar
Meu pai deu permissão pra namorar
E nós dois com um fogo uma paixão
O namoro era pegado na mão
Pois meu pai pastorava com uma prima
Mas o beijo primeiro foi em cima
Do batente de pau do casarão.
Edson
Lins
O meu tio meu irmão e minha prima
Conversando na noite da novena
Minha irmã que ainda era pequena
Numa mesa da sala estava em cima
Uma chuva ali mudando.o clima
No barulho estrondoso do trovão
O relâmpago sessando a escuridão
E o povo feliz por. Ver chover
E passando por cima sem querer
Do batente de pau do casarão.
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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