Seguidores

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

CANGACEIRISMO MODERNO VERSUS ORDEM E PROGRESSO

Por Geraldo Ferraz

O sábio grego, Aristóteles, há mais de dois mil anos, disse que o homem é um "animal político". A frase significa, como todos já sabemos, que o homem por instinto e por necessidade - só pode viver na "polis", isto é, no agrupamento e na companhia de semelhantes. Como a palavra "político" tem hoje sentido diferente do entendido em outros tempos, a frase de Aristóteles pode ser perfeitamente expressa: "o homem é um animal social". 

Desde a formação do primeiro grupo social - a família, célula mater da sociedade - local onde recebemos a herança genética ou material, principalmente moral, o homem, por numerosas necessidades de alimentos e defesa, sentiu a permanência de estabelecer ordem, crença religiosa, diversões, entre outras, a fim de compor uma sociedade estatal ou política. Dessa forma, o homem, este animal social, não poderia dispensar o convívio com outros semelhantes, para se alcançar um determinado fim e, muito menos, prescindir de uma organização grupal.

A organização social permite-nos viver em conjunto e em determinada ordem, realizando tarefas de cooperação. A não existência da organização na sociedade humana faria com que os homens vivessem como bandos de animais, os fortes destruíram os fracos e não existiria nenhuma espécie de progresso. O Estado, compreendendo-se a existência de três elementos fundamentais: o povo, território e a organização política, é um dos meios que o homem utiliza para alcançar o seu aperfeiçoamento físico, moral e intelectual.

Entre as funções do Estado, a defesa do cidadão e a manutenção de ordem interna, proteção da propriedade..., nunca estiveram tão em cheque quanto agora. O cidadão questiona a morosidade da justiça, está descrente com o aparelho estatal de vigilância e repressão, não acredita mais em seus políticos, não encontra de uma perspectivas de uma melhor qualidade do ensino e,para piorar tudo isto, encontra-se encurralado e entregue a sanha dos bandidos cada vez mais afoitos e violentos.

Segundo o coronel reformado da polícia militar de São Paulo, José Vicente da Silva Filho, um dos maiores estudiosos de temas ligados à criminalidades, em matéria publicada na revista Veja, "os criminosos fazem hoje em dia um cálculo próprio dos investidores do mercado financeiro, analisando a relação custo-benefício da sua operação. Se o risco de ser preso for alto, o bandido pensa duas vezes antes de agir. Quando o risco é baixo, a audácia e a violência aumentam.

Como a probabilidade de reação dos órgãos responsáveis é reduzidíssima, fica-se naquele entendimento de que "o crime compensa", naturalmente na cabeça desses duvidosos cidadãos. Caso a ação dos meliantes finalize cm a morte de um cidadão honesto, a hipótese de punição é quase uma balela. Observe-se que a afoiteza dos bandidos, nos dias atuais, é tamanha que nem mesmo os prédios da polícia estão imunes aos seus ataques. 

Segundo o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, "a impunidade estimula a delinquência e o cidadão fica perplexo e indignado diante da indiferença do Estado, incapaz de punir os que transgridem as leis". 

No século passado, em pernambuco, com maior ênfase nas décadas de 10 e 20, tivemos várias invasões de valores, com a tentativa de se estabelecer, naquela oportunidade, um Estado Paralelo em nossa sociedade, mais exatamente nos longínquos Sertões nordestinos.

A máquina Estatal, talvez escudada no tripé religioso, pátria e família, e dando realmente "ouvidos" ao clamor público, volta suas ações para um combate efetivo ao banditismo reinante em nosso Estado.

A população, à medida que via o empenho do Estado em extirpar o câncer incrustado no "tecido social", através de um desarmamento geral da população, tropas sob o comando de pessoas experientes e comprometidas com a causa, armamentos e toda uma logística de apoio indispensável para a consecução de tão nobre objetivo, passou não só a dar credibilidade como também em ajudar o governo e a finalizar tão árdua tarefa.

Segundo Frederico pernambucano de Melo, "A criminalidade dos dias atuais vai da expressão mínima que se contém no fenômeno endêmico ou crônico - sujeito à compressão embora inextinguível, além de tolerado, costumeiramente pelo geral da população - até aquilo que o general Prim chamou de guerra social, ao se debruçar sobre o quadro criminal de algumas porções da Espanha de 1870, sobretudo a Andaluzia. Naquele momento delicado do país peninsular, não se estava vivendo apenas um susto de epidemização do crime, brotado do aquecimento contingente do fenômeno endêmico, tradicional por sua Antiguidade e alastramento, mas uma espécie de tradução doméstica, internacional, não raro regional".

Continua o citado autor: "Eurico de Souza Leão, chefe de polícia de Pernambuco, teve a sensibilidade de cuidar das vocações para o trabalho de polícia, prestigiando, além de nomes novos, o daqueles que já dispusessem de uma mística de sucesso junto aos companheiros de trabalho e, tano que possível, junto à opinião pública. E é assim que seu caminho vem a se cruzar com o do então major da Força Pública do estado, Theophanes Ferras Torres, um pernambucano de Floresta que ainda o verdor dos 20 anos, como alferes, tivera a fortuna de aprisionar, ferido pelo fogo de sua volante em combate verificado num grotão do município de Taguaritinga, em fins de 1914, o mais famoso bandoleiro do país à època, o chefe de cangaço Antonio Silvino. Meses antes, em Serra Talhada e em Triunfo, o quase menino Theophanes dera prova de seu valor entrando em combate desassombradamente com os cangaceiros - chefe de bandos, ambos - José Crispiano e Manoel Soares. 

Como braço fardado do duro chefe de polícia do governo Estácio Coimbra, Theophanes divide com este as honras da introdução em Pernambuco da polícia científica e da moderna administração da defesa social, a ele cabendo, em boa parcela, a expulsão do rei do cangaço (Lampião), de nosso território. E tanto assim que ao fazer um raid vitorioso por todo o sertão do estado, no final de janeiro de 1928, Eurico se faria acompanhar de Theofphanes. De um Theophanes tão credenciado por serviços que estava prestando ao perrepismo, em ocaso, na direção de governos sucessivos da República Velha, que queda desta, em 1930, o arrasta ao xadrez na Casa de Detenção, para onde havia enviado tantos criminosos. Ao tacão do capitão revolucionário  Muniz de Farias, agora o bandido era ele. Theofphanes, que da planície, colhe então a maior homenagem a que pode aspirar um policial reto e comedido:  o reconhecimento dessas virtudes por aqueles a quem expugnou no cumprimento do dever. Ao marchar de cabeça erguida para a cela que lhe tinha sido destinado, o famoso oficial colhe o respeito do cangaceiro Antonio Silvino e dos demais presos, sobre os quais o condotierismo das caatingas exercia liderança indiscutível".

Os criminosos, assumindo o papel do agente Estadual, mo vácuo provocado pela falta de um conjunto de medidas organizado contra o crime (repressão), institucionalizam o seu desgoverno paralelo. 

Aliados  por aparelhamento bigh tech (armamentos sofisticados, sistema de comunicação de ponta...), estes cangaceiros modernos encontram-se infinitivamente superiores aos agentes de defesa do Estado. Conseguem, de forma planejada e organizada, assumir até mesmo a direção dos nossos presídios, deparando-se aí com um sistema prisional falido e sem controle efetivos.

Uma coisa que atormenta bastante é o atual estado cataclástico em que se encontra a população, acostumando-se (se é que podemos utilizar deste termo) com a inépcia do Estado, e já não mais se surpreendendo com as espetaculares e audaciosas ações desses criminosos (sequestro relâmpago; assaltos aos bancos, carros-fortes, firmas e as residências; cobrando de pedágio; extorsões, entre tantas outra). A falta de credibilidade e a ausência de um clamor público são elementos preponderantes, mesta situação, pois, o cidadão observa que quem deveria dar-lhe total proteção é, na realidade, quem quem mais está precisando dela.

Não queremos, com o presente texto, justificar qualquer ato de violência, para e simplesmente, mas sim, dizer da necessidade, em certos casos, de contrapor a violência ao mal, pois os elementos maus por índole (criminosos renitentes, cruéis, sub-humanos), são imunes à persuasão e aos conselhos.

Caros leitores, a população do Brasil do Território Mileno, não merece ser tratado assim, precisamos, a rodo custo, fazer valer a máxima do lema do nosso pavilhão nacional - ORDEM E PROGRESSO -, frase indivisível que tão bem nos ensina como viver em paz e em sociedade. Necessitamos, na realidade, agir, urgentemente, para que os nossos governantes tomem uma decisão forte (repressão efetiva) a fim de não transformar, de uma vez por todas, o nosso querido país em uma nova Colômbia, desta feita de dimensão quase continental.

Para orgulho e tranquilidade de uma sociedade organizada, rogamos a Deus que, no Estado e, mais especificamente, em nossa gloriosa e secular Polícia Militar, continuem a existir outros Theophanes, heróis-militares sempre merecerão o nosso respeito e  nossa confiança. Que o aparelho Estatal esteja sempre azeitado para combater qualquer tentativa de criação de um Estado Paralelo de Desgoverno.

Geraldo Ferraz é natural do Recife–PE. Nascido aos 30 de dezembro de 1955. Primogênito do casal Geraldo Ferraz de Sá Torres (falecido) e Maria José de Holanda Torres. Viveu em várias cidades pernambucanas, entre elas, Triunfo, Taquaritinga e Gravatá. Artista plástico, com diversas exposições (individuais e coletivas), Administrador de Empresas e, atualmente, aposentado da Prefeitura do Recife. Casado com a Sra. Rosane de Oliveira Ferraz Torres, com quem tem duas filhas: Ana Paula de Oliveira Ferraz Torres e Monique de Oliveira Ferraz Torres. Faz parte do Centro de Estudos de História Municipal – CEHM (1984). É sócio fundador das instituições "Amigos do Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano", do Núcleo Pernambucano de História – UBE/PE, e da Sociedade dos amigos da Briosa – SABRI (2010). Membro das seguintes associações: Instituto Cultural Gravataense, Gravatá – PE (2006); Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço – SBEC, Mossoró – RN (2005); da União Brasileira de Escritores - UBE - Secção Pernambuco, Recife – PE (2001); União Nacional de Estudos Históricos e Sociais - UNEHS, São Paulo (2008); Academia Serra-Talhadense de Letras – Serra Talhada - PE, na qualidade de correspondente (2006); da Academia de Letras e Artes de Gravatá - ALAG, Cadeira nº 09, Gravatá – PE (2009); e Academia de Letras e Artes do Nordeste – ALANE, Cadeira nº 29, Recife – PE (2010). 

Fonte: "Jornal da SBEC.
Ano: XV.
Número: 05
Cidade: Mossoró-RN
Data: 13 de junho de 2008
Digitado e ilustrado por José Mendes Pereira

Este jornal foi a mim presenteado pelo pesquisador do cangaço e sócio da SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço Francisco das Nascimento (Chagas Nascimento). 

Nota: Desculpem-me alguma falha na digitação, sou um pouco cego. Se faltar alguma letrinha na palavra, mas você entenderá o significado.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário