*Rangel Alves
da Costa
Muita gente
não compreende que a vida é de reconstrução, de refazimento, de volta por cima.
Nunca aceita ou não está preparada para vencer desafios. Depois de uma perda ou
um infortúnio qualquer, é como se tudo acabasse ali mesmo.
Como diz o
ditado, ninguém vai ao túmulo ao lado daquele que ama. Sofre em vida, mas até o
instante onde o luto chama ao renascimento. Mesmo que a saudade persista, ainda
assim encontrará outras razões para compartilhar as belezas da existência.
Sempre há um
motivo para seguir adiante, para afastar a dor e se reconfortar na necessidade
de não sucumbir. Muitas folhas novas dependem dos galhos e do tronco para
continuarem existindo. Tudo dói, dilacera, angustia demais. Mas viver na dor e
da dor o que vai alimentar? Viver para o sofrimento é se negar a lutar a lutar
por aquilo que traga alegria, felicidade, contentamento.
As flores
morrem e o jardim já estará maravilhosamente belo na próxima estação. As folhas
caem, esvoaçam, somem, mas outras logo vicejarão na mesma árvore. É como se o
livro do Eclesiastes em tudo estivesse. E realmente está. Tudo surge como
oportunidade, como ocasião para relembrar antigas lições.
Nada se
eterniza nem na alegria nem na tristeza. O ser humano haverá de aprender o
convívio com realidades já conhecidas demais: a luz e a escuridão, a tempestade
e a calmaria, a brisa e o vendaval. Tudo acaba para renascer, o que é agora no
instante seguinte já não será.
É preciso
sonhar, ter esperança, desejar o melhor. Surge o inesperadamente doloroso, a
tristeza indesejada, mas nada diferente do que em tudo acontece. Ora, a vida é
uma colcha formada por sedas finas e molambos. Ninguém tem somente aquilo que
deseja.
Disse o
artista que as luzes da ribalta devem sempre brilhar. “Para que chorar o que
passou, lamentar perdidas ilusões, se o ideal que sempre nos acalentou
renascerá em outros corações...”. Ademais, a beleza do sol vai sumindo para que
a majestosa imponência da lua apareça.
Por isso mesmo
que a ninguém se prostrar diante dos temores e das adversidades, das derrotas e
dos sofrimentos. Tudo surge como lição, como aprendizado, e também para fazer
surgir na pessoa a força do refazimento. É uma questão de sempre seguir em
frente.
E, na vida e
pela vida, há sempre um grande motivo para ir adiante, para não desistir dos
sonhos, objetivos e esperanças. Não haveria estradas e horizontes, destinos e
repousos, se tudo permanecesse no mesmo lugar.
Há uma porta
aberta mostrando um caminho. Há uma estrada mostrando um destino. Há um destino
chamando a seguir. Nada permanece porque o ser é instante seguinte. E é
seguindo que se vai ao longe, que é possível encontrar o que foi sendo
construído em esperança.
Há uma raiz
que se desgarra e brota em fruto. Há um fruto que vai espalhando sementes. Há
sementes que vão vingando outras vidas. Nada se finda no seu começo. E assim
por que a pessoa não é grão perdido no mundo, não é broto que nasce e
desaparece sem frutificar. Ao deixar o seu rastro, sobre ele também gerações e
obras que jamais serão esquecidas.
Há uma saudade
que envelhece com a idade. Há uma idade que não quer mais sofrer. Há um sofrer
que busca romper o passado em busca da felicidade. Nada se perpetua na dor. Eis
que ninguém vive para o martírio do não acontecido ou pela incompleta vivência.
Há que se viver a memória sem buscar apenas as experiências amargas. Doce é o
viver açucarado pela compreensão da própria vida.
Há uma revoada
que sempre passa ao entardecer. Há um entardecer que vai esmorecendo sua cor à
espera da lua. Há uma lua que cantará sua magia e felicidade até chegar o seu
instante de ir embora. É a vida em ciclos, em sombras e luzes, sempre se
renovando a cada novo dia. Assim também deve ser a renovação humana, tendo a
vida e procurando sempre um novo e melhor viver.
Assim, tudo
vem e tudo vai. Por que tudo cíclico, tudo nascimento e morte, tudo
transformação. Outono e primavera, primavera e outono, e sempre e sempre. As
demais estações servem como lições para o que poderá acontecer, para o
enfrentamento das folhas secas e tristes do outono ou mesmo dos espinhos
pontudos que surgem nas floridas hastes primaveris.
E não há mais
o que esperar. Há uma porta aberta mostrando um caminho. Os olhos foram feitos
para avistar além, os pés para seguir, o coração para pulsar de felicidade.
Então estenda o lenço no varal e siga. Não há mais o que chorar, nunca há muito
que chorar. O sal da angústia e do sofrimento se dissolve na gota de
felicidade. E em doçura se transforma ao chegar ao lábio daquele que não
desistiu de ser feliz.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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